Capítulo 5

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Kira D'Angelo

A garota estava sentada no peitoril da janela do seu pequeno escritório no porão, a brisa marinha da manhã acalmava seus sentidos.

Ela não sabia que gostava ou não de Seraza, suas piores lembranças estavam aqui mas as melhores também estavam.

Foi na praia atrás da Casa dos Vinks, que ela caiu na areia agradecendo aos santos por estar viva. Ela é sua irmã mais velha Annia tinham sido arrastadas para um navio para pagarem a dívida do pai, Annia tinha treze anos e Kira dez anos. Na noite que foram sequestradas, Kira estava com febre alta.

Annia empurrou Kira para fora do navio e os cobradores atiraram em na garota, Kira nadou até a praia e viu o navio se afastando. Os cobradores pensavam que ela tinha morrido afogada e nem se importaram em procurar o corpo.

Seu pai? Ele era Lucca Fabbri, um dos maiores comerciantes de Razzer, Kira prometeu que iria acabar com ele, aos poucos igual ele acabou com a vida dela.

O grande roubo a Mansão Dourada que fez o nome Kira D'Angelo ficar famoso pelo continente todo, não foi apenas um simples roubo, ela roubou uma grande quantidade do dinheiro que pertencia ao seu pai.

Ele ainda estava em dívida até hoje, mas não era o suficiente e Kira precisava pensar em um novo passo, um novo plano.

Ela não tinha magia, Kira nasceu fraca e quase não resistiu ao parto. Sua mãe morreu em um acidente de navio que a garota suspeitava que seu pai tinha armado, depois do acidente, Annia e Kira andavam sozinhas pela cidade até o dia do sequestro.

Lucca não deveria nem se lembrar dela, nunca deu seu amor, hoje é casado novamente e a nova esposa está grávida de um menino.

" Viva, Ciara." Kira murmurava isso toda manhã, precisava ficar viva, precisava levantar e fazer justiça a sua irmã.

A garota saiu de seus pensamentos com batidas na porta, ela se levantou e colocou a mão na barriga levemente dolorida da briga de ontem.

Depois passou a mão nos cabelos presos em um rabo de cavalo baixo, ela usava calças sócias, uma blusa branca com as mangas arregaladas até o cotovelo, um colete vinho escuro e as botas curtas de salto grosso.

Ela fazia questão de usar roupas "masculinas", além de mostrar que era diferente e perigosa, preferia calças do que saias para lutar, além que deixava suas curvas bonitas.

Os saltos davam uma sensação de superioridade, Kira tinha se acostumado a lutar com botas de salto grosso que não eram muito altos, alguns escondiam pedaços de ferro para ferir o inimigo com apenas um chute.

"Entre." A garota disse, como o esperado, os dois garotos de ontem a noite entraram. Eles não pareciam ser velhos, talvez tenham a idade de Kira. "Armas."

O garoto de cabelo castanho claro revirou os olhos mas tirou da cintura sua arma, o loiro escuro fez o mesmo, eles entregaram na mão da garota que colocou na primeira gaveta de sua mesa.

" É necessário?" O de cabelo castanho disse. Kira o achava mais bonitinho que o loiro, seus olhos eram da cor dos caramelos que ela gostava de comer às vezes, ela reparou que sua mão tinha pequenas cicatrizes e seus bíceps eram um pouco marcados na camisa azul escura que usava.

Pena que é trabalha para o governo. Kira pensou.

" Regras da casa. Sentem-se." A garota apontou para as cadeiras na frente de sua mesa, seus escritório era simples, mesa, cadeiras, uma estante de livros diversos e a janela com vista para o mar.

Os três se sentaram, a garota reparou nas leves olheiras em baixo dos olhos deles, nada alarmante.

"Aproveitaram a noite em Seraza, espero que não tenham perdido muito dinheiro." A garota disse encostando suas costas na cadeira.

"Eu perdi 50 kregs." O loiro disse com um tom desanimado, normal para alguém que perdia dinheiro em jogos de aposta.

" Vamos parar de enrolação, o que vocês tem para me falar, senhores Crosswell e Sartori?" Os garotos arregalaram os olhos mas logo voltaram a expressão neutra, Kira havia pedido para Ilana investigá-los logo depois do sol nascer.

" Viemos em nome do governo para fazer uma proposta." Matteo disse.

" Que proposta?" A garota cruzou os braços esperando.

" O governo quer que você invada a ilha vermelha em Vizar e exploda o laboratório." A garota começou a rir e os dois olharam confusos.  Ou era medo?

" Vocês querem que eu invada a ilha vermelha? Isso é suicídio." Ela já tinha ouvido falar do laboratório, com segurança alta e cercado de guardas.

" Em troca, caso saia viva, a senhorita vai receber uma recompensa." Theodoro disse e a garota o olhou, agora estavam falando a língua dela.

" Que tipo de recompensa?"

" 50 milhões de kregs." Se Kira tivesse bebendo algo com certeza teria cuspido, com esse dinheiro ela poderia acabar com tudo do seu pai em um estalar de dedos.

" O que tem de tão perigoso na ilha vermelha, para que o governo de Razzer se preocupasse?"

" Uma droga está sendo desenvolvida, uma que pode provocar uma guerra para exterminar Razzer." Matteo disse.

" Panem?"

" Como soube?" Theodoro disse curioso.

" Já ouvi o nome circulando pelo mercado mas a droga em si ainda não chegou no continente, não trabalho com isso mas escuto os outros falando."

Invadir a ilha vermelha, ser a heroína, salvar Razzer e ficar rica. Isso ficava passando dentro da cabeça de Kira.

Não era como invadir a Mansão dourada, se ela conseguiu isso então conseguiria invadir a ilha vermelha com um pouco mais de esforço. Seria suicídio na certa, ela poderia morrer e sua irmã nunca teria vingança, precisaria de uma equipe boa ao seu lado.

" Então se eu explodir a ilha, eu terei os 50 milhões?" Os dois assentiram. " Como posso garantir que não estarão passando por minha perna?" Matteo tirou do bolso e colocou na mesa um papel, Kira o pegou e leu.

Era uma carta de um dos capitães explicando tudo que tinha falado e garantindo o prêmio, o selo real e a textura do papel confirmavam que era verdadeiro.

A garota soltou o papel na mesa e olhou para a madeira na sua frente.

Suicidio mas se sobrevivesse poderia ficar rica.

Ela conseguiria fazer isso, era forte e determinada, acharia pessoas para fazer parte de sua equipe, formaria um plano perfeito em cada detalhe. Seu lado ganancioso gritava e um plano já começava a se formar na cabeça.

A garota emitiu um estalo com a língua e olhou para os garotos.

" Tudo bem, negócio fechado." Ela estendeu a mão e os dois apertaram um de cada vez. " Eu vou reunir uma equipe, pensar em um plano e partir."

" Nós iremos com você, ajudá-la na missão." A garota olhou para o Theo.

" Sabem que é suicídio? Se bem que vocês Druskas foram aprimorados com magia, podem durar mais."

A garota não tinha uma boa lembrança com Druskas, havia lutado com um deles escapando da prisão e ele quebrou o seu braço, Ilana passou a noite e madrugada toda consertando o braço de Kira.

A garota devolveu as pistolas para eles. " Quando eu precisar de vocês, vou mandar um recado. Podem falar comigo, estou aqui quase todos os dias."

" Tenha uma boa tarde, senhorita D'Angelo." Matteo disse se aproximando da porta.

" Pelos Santos. Se formos trabalhar juntos, me chamem de Kira, colocar senhorita na frente me deixa com cara de velha." Matteo apenas olhou para a garota e ela retribuiu o olhando de cima para baixo, o garoto saiu e Theodoro continuou parado.

" Foi um prazer conhecê-la, Kira." A garota sorriu fraco e ele saiu fechando a porta.

Ela colocou seus pés em cima da mesa e fechou os olhos soltando um longo suspiro.

Suicídio, mas poderia ser um suicídio lucrativo.

A Ilha VermelhaWhere stories live. Discover now