Velha cidadela

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"Quem controla o passado dirige o futuro.

Quem dirige o futuro conquista o passado!"

George Orwell

"Eu vejo o que está certo e aprovo, mas faço o que está errado".

Laranja Mecânica.

O aglomerado de prédios e telões comerciais se emaranhava na cidade brilhante das camadas mais baixas da cidade de Velha Cidadela.

As calçadas, sempre secas, com pessoas que competiam espaço entre si, tão próximas que fazia com que eu sentisse uma espécie de lapsos do passado quando era militar e andava em terra firme, lá embaixo, em meio aos civis executando ordens contra os terroristas, atirando sem parar contra qualquer um que fosse.

Ali de cima dos viadutos transcendentais que cruzavam acima dos outros níveis, o odor da civilização já era sentido perfeitamente e isso era assustador.

Caesar vivia em um dos prédios no nível dez, contudo para entrar em seu lá era necessário descer até a estação de trânsito do quinze e entrar no prédio ou, no pior dos casos, descer realmente até as ruas e entrar pela porta da frente no térreo.

Eu não queria levantar suspeitas descendo até o quinze, de modo que o mais sensato era realmente ir até o piso da cidade e andar por lá.

Era uma parte afastada do centro que eu vivia, praticamente era um lugar comercial que qualquer ralé iria. As ruas eram abarrotadas de tendas que vendiam as mais absurdas mercadorias, desde aparelhos eletrônicos roubados até peixe, comida frita e doces artesanais que mesclavam os cheiros junto com a urina e mendigos tornando o lugar realmente insuportável de andar sem usar uma bandana no rosto. Por sorte, eu usava a máscara de proteção.

Na parte mais baixa, um aglomerado de favelas entre as vielas dos prédios eram construídos subindo pelas paredes.

Às vezes aqueles pequenos quartos desmoronavam e por a população estar saindo pelas beiradas do país, quando um daqueles amontoados caia, muita gente morria.

Ninguém ligava muito realmente, eram bocas a menos para alimentar e empregos novos que surgiam para o restante da população faminta.

Faminta, mas todos tinham aparelhos tecnológicos, como no passado as pessoas tinham água.

A verdade era que muitas pessoas trocavam aparelhos muito modernos por comida, água, recursos básicos que a internet há tanto tempo atrás tornou obsoleto, a prioridade era tecnologia, uma droga potente e veloz.

A tecnologia sempre foi uma droga e as pessoas deveriam ter compreendido isto há tantos anos atrás, quando as máquinas passaram a ocultar rosto por trás de logins e pessoas se apaixonavam por letras.

Música alta e eletrônica soava pelas ruas, em cada esquina um tipo de estilo, em cada pessoa uma roupa mais espalhafatosa que a outra. Era o modo da cultura se adaptar ás mudanças sociais, tentando se expressar desesperadamente como seres únicos e isso iniciava no modo de vestir.

Saltos muito altos, cabelos coloridos, maquiagens exóticas, longas cartolas com penas, fivelas...

— Ei bonitão, quer uma chupada? — me disse uma garota plantada á uma esquina usando enormes dreads verde limão, corpete de látex e lentes de contato cor de rosa com botas tão altas que a tornava mais alta que eu.

— Hoje não, docinho... — repliquei seguindo pelas calçadas.

Sabia pela última câmera que analisei que o bendito cachorro havia fugido pelo prédio, tomado a rampa e descido para aquele antro e agora as coisas complicariam, porque um sujeito bêbado o levou junto de um carrinho de sucata de computadores usados. O cara vivia em um dos conjuntos habitacionais ao oeste de Essex, bem perto da localização onde antigamente havia uma encruzilhada limpa, mas agora era tomada por prédios caindo aos pedaços e assaltantes que gostavam de roubar cartões de crédito.

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