Capítulo 2

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No rádio que ela tinha adaptado para tocar um usb com suas músicas preferidas, a versão de Aquarela do Brasil do Toquinho tocava, os dedos de Catarina batiam contra o volante no ritmo, a boca se mexia com a letra que sabia de cor

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No rádio que ela tinha adaptado para tocar um usb com suas músicas preferidas, a versão de Aquarela do Brasil do Toquinho tocava, os dedos de Catarina batiam contra o volante no ritmo, a boca se mexia com a letra que sabia de cor. Abriu mais o vidro do carro, o vento roçou sua nuca em um beijo refrescante, atrás das lentes escuras dos óculos de sol, dirigia com atenção, agradecendo que o trânsito não estava tão louco e demorado. Dirigir sua Brasília amarela, ouvir suas músicas no rádio era seu outro momento de paz.

Tinha sido o carro do seu pai, que passou para os filhos depois que morreu e os olhos brilharam ao lembrar da choradeira que aprontou para os irmãos mais velhos para deixarem o carro com ela. A vezes, ser a caçula de três irmãos tinha lá as suas vantagens. E sim, havia desvantagens, é claro. Mas não conseguia pensar em uma em relação aos irmãos, seus dilemas familiares sempre envolviam a sua mãe.

Balançou a cabeça, afastando esses pensamentos, tinha que tomar cuidado para não pensar na mãe com muita frequência, sempre que fazia, se sentia triste e insuficiente. Odiava se sentir assim. Ao ver que se aproximava do aeroporto de Guarulhos, ficou mais atenta, lembrou que o irmão de Júlia a estaria esperando na entrada, onde, provavelmente, estaria a frota de táxis. Entrou e achou um lugar para estacionar, pegou o celular a procura da foto de Leandro que Júlia tinha mandado e pulou quando ouvir uma batida na porta do passageiro. Levantou os olhos e não pode ver nada além de uma silhueta masculina, se inclinou sobre o banco e girou a manivela para abaixar o vidro.

— Catarina? Sou o Leandro — disse uma voz intensa demais e quando o homem se debruçou sobre janela e pode ver o rosto dele, a sombra de uma barba cobrindo o maxilar quadrado, a boca grande e cheia; algo aconteceu dentro de Catarina. Como ele usava óculos de sol, não pode ver seus olhos, mas ela os sentiu. — Você é Catarina, não é?

O modo de como seu nome era pronunciado naquela voz a fez questionar se ele sempre tinha soado assim, aberto, intenso ou se era apenas na voz daquele homem que causava aquele efeito. Que era irmão de Júlia! Céus! Precisava se concentrar! O que estava acontecendo com ela?

— Sim, sou eu. Entra, Leandro — conseguiu abrir um sorriso e subiu o pino, destravando a porta. Se ajeitou de volta para o banco e olhou para o convidado. — É um prazer finalmente conhecê-lo, Jú fala muito de você.

— Ouvi muito de você também — deu de ombros e colocou o cinto.

Catarina torceu o nariz ao entender o gesto como indicação para ligar o motor do carro e ir embora. E foi isso que fez, não se importava com a aparente falta de educação, ela também ficaria desse jeito se estivesse acabado de chegar depois de uma viagem, sabe-se lá quantas horas, de avião.

— Então? Como foi a viagem? Tranquila? — quis saber assim que saíram do aeroporto, com os dois vidros abaixados, mesmo com o vento entrando, ainda estava muito calor e desejou ter um ar-condicionado no carro, mesmo sabendo que para ela seria um gasto desnecessário. Amava abrir janelas, abaixar vidro e sentir o ar natural. Mesmo que esse ar estivesse extremamente quente.

Sol Maior [ DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora