Capítulo 3

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O instituto Elas por elas era um lugar aconchegante, ficava em um sítio um pouco mais afastado da cidade, lugar que pertencia a Elisa Costa, idealizadora e criadora de tudo isso

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O instituto Elas por elas era um lugar aconchegante, ficava em um sítio um pouco mais afastado da cidade, lugar que pertencia a Elisa Costa, idealizadora e criadora de tudo isso. Catariana conhecia o trabalho já fazia um ano e desde então, participa ativamente como voluntária para ajudar as mulheres a se reencontrarem dentro de si mesmas e lutar por sua felicidade e por um lugar no mundo. Amava aquela fazenda, amava saber que muitas mulheres se juntavam, ajudavam-se a se manterem na calmaria do campo, e não conseguia pensar em um lugar melhor para se conectar a si mesma do a natureza.

Sob a sombra de uma grande árvore, em uma pequena floresta no alto de uma colina na fazenda, montou o tripé da câmera sob uma manta, a luz da tarde se infiltrava entre os galhos, as folhagens verdes dando uma iluminação única que estúdio nenhum poderia reproduzir de forma tão natural e aproximou do tronco da árvore, arrumou a cesta de frutas sob outra manta, que era xadrez nas cores vermelhas e pretas que a fazia lembrar das camisas que seu sempre usava. Tirou da bolsa os livros, organizou-os em uma pilha no canto e virou-se para a garota sentada em um tronco de árvore, fazendo uma maquiagem simples usando um pequeno espelho.

— Está pronta, Alice?

— O que acha? Não ficou pesado, ficou? — a adolescente se levantou, os cabelos lisos e escuros caiam como uma cortina sobre os ombros estreitos, delineando o busto farto coberto pelo decote reto do vestido longo de alças, simples de um azul bem clarinho, que se abria na cintura, mostrando a barriga de seis meses.

— Não. Ficou leve e natural, como combinamos — garantiu apontando para o rosto delicado e jovem. Os olhos castanhos dela brilharam, satisfeitos. — Vamos começar?

— Vamos!

Alice estava nervosa, Catarina sabia disso, o que era natural. Nem todo mundo estava acostumado em posar diante das câmeras. Sabia que concordar com a sessão de fotos tinha sido um grande passo para a garota, que meses atrás, se encontrava tão perdida, tão insegura de si mesma que não poderia nem pensar na ideia de alguém a fotografar. Não conseguia nem pensar de como deveria ter sido difícil para ela ser expulsa de casa, abandonada e largada sozinha grávida.

— O que devo fazer? — Alice perguntou, encarando a manta que tinha preparado.

— Encoste no tronco, relaxe — passou a alça da sua nova Nikon pelo pescoço, ajeitou a câmera diante do rosto, procurando o enquadramento certo. — Coloque ambas as mãos na barriga e sorria olhando para ela. Imagine, sonhe com seu filho. Você já o ama tanto — quando o sorriso natural apareceu, Catarina apertou o botão e com prática, ajeitou o enquadramento rápido para tirar outra em seguida, aproveitando a iluminação, os raios de sol que tocavam parcialmente o rosto de Alice. — Isso! Agora, puxe a cesta para mais perto. Mais. Isso. Crepúsculo é seu livro preferido, não é? — olhou diretamente para ela.

— Sim — Levantou o livro que tinha uma mão segurando uma maçã.

— É um dos meus preferidos também, leio todo ano — sorriu para ela. — Agora, segure ele aberto na parte que você mais gosta e pegue uma maçã da cesta e coloque do seu lado, perto... Isso, aí mesmo! —- aprovou e voltou a esconder o rosto atrás da câmera. — Qual é sua cena preferida?

— Tenho muitas, mas amo aquela parte que Bella passa mal na aula e o Edward a leva para a enfermaria.

— É uma das minhas preferidas também. Uma pena que não tenham colocado no filme.

Isso, Catarina pensou, era essa expressão de felicidade, conforto que queria registrar no rosto de Alice. Disparou algumas fotos antes de mudar de ângulo. A luz mudou e ela fez o mesmo.

— Leia para mim, Alice. Leia para o seu bebê que está para nascer — pediu com carinho ao mesmo tempo que buscava as músicas dos filmes no celular para colocar para tocar, assim que Alice reconheceu a música de Iron & Wine, sorriu agradecida e a vontade.

— "Fui para a aula de inglês entorpecida ... — Alice começou a ler tranquilamente, com uma mão segurando o livro e outra pousada na barriga. Aproveitando a luz, a tranquilidade da garota, Catarina se concentrou nas fotos, feliz, não queria que a experiência fosse torturante para Alice e sim algo para se lembrar com carinho.

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Leandro não fazia ideia de que horas eram quando acordou naquela tarde. Mesmo com as janelas fechadas, imerso na penumbra, sabia que ainda era dia ou talvez ele ainda estivesse no fuso-horário da Europa. Com um gemido, sentou-se na pequena cama de solteiro no quarto de hospedes da casa da irmã e desejou que ela tivesse escolhido colocar ali uma de casal. Bocejou e jogou as cobertas para o lado.

Descalço, usando somente um short folgado, atravessou o quarto e abriu a porta. Piscou com a claridade do pequeno corredor e o seguiu até o final, onde sabia que estaria a cozinha. Era uma casa aconchegante, concluiu por fim, não era grande e nem pequena demais. Seus pés pararam diante da sala de jantar, esfregou os olhos não acreditando que ela tinha um piano vertical ao fundo, feito de madeira escura, do mesmo tom da elegante mesa de jantar. Mesmo tentado se aproximar, tocar as teclas, forçou o corpo virar para o lado esquerdo e entrar na pequena cozinha branca.

Viu o bilhete colocado na porta de geladeira. "Esquenta a lasanha para comer, volto logo. Jú." Balançou a cabeça, os bilhetes da sua irmã sempre tinham um tom mandão e tirou de dentro da pequena travessa de vidro e a colocou no micro-ondas. Percebendo-se com muita fome, foi atrás de algo para beliscar antes que desmaiasse. Deveria ter comido algo assim que chegou, mas estava tão cansado que só teve energia para se jogar na cama e fechar os olhos.

Sorriu ao encontrar queijo mineiro na geladeira, já fazia anos que não comia um e cortou um grande pedaço, saboreando aquela textura meio borracha, meio queijo e sentiu o estômago dançar de alegria. Enquanto mastigava, sentindo o cheiro da lasanha preencher suas narinas, se lembrou de Catarina.

A melhor amiga da sua irmã não era nada do que ele havia imaginado. Júlia sempre a descreveu como uma pessoa alegre, otimista e a imagem que sua mente formou dela beirava ao infantil. Não fazia sentido uma mulher adulta ser descrita desse jeito, afinal, ela não tinha contas para pagar? Para ele, felicidade e mundo adulto não poderiam estar na mesma página, na mesma composição. E por isso tudo, não espera que ela parecesse tão adulta, tão mulher. Tão a toda de suas vontades, tão dona de si mesma.

Ela o surpreendeu em muitos níveis. Primeiro foi ao ver o carro que dirigia. Céus, quem ainda tinha um carro antigo como aquele? Mesmo que estivesse bem conservado, era estranho andar em um onde tinha que puxar a manivela para abaixar o vidro. E depois, a aparência dela o surpreendeu. O rosto magro, anguloso que era realçado pelo corte curto e ousado dos cabelos escuros; o traço reto do nariz, os lábios finos, quase retos da boca que parecia sempre sustentar um sorriso. Se olhasse separadamente, Catarina não poderia ser considerada uma mulher bonita, mas de algum modo, toda a composição incomum a faziam agradável aos seus olhos. E o modo de como ela cantou, mesmo tendo uma péssima voz para isso, era encantador e estava se perguntando sobre em que mais aspectos poderia ser surpreendido pela mulher quando o apito do micro-ondas o tirou dos pensamentos.

Balançou a cabeça, colocou a travessa na pequena mesa e descartou o prato. Enquanto colocava as porções na boca de uma forma um pouco desesperada, encarou o piano e se perguntou se Júlia o manteve afinado durantes todos os anos que esteve fora. Poderia tentar tocá-lo mais tarde e... não. Censurou-se. Ainda não estava pronto para voltar a tocar e se forçar a usar não ajudaria em nada. E não tinha do que poderia fazer para mudar isso.

 E não tinha do que poderia fazer para mudar isso

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Sol Maior [ DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now