PRÓLOGO

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Sentada na velha rede do pai que ficava na varanda de trás da casa onde cresceu, ainda com as roupas do velório, Catarina observou o sol se esconder no horizonte e soube que tudo mudaria

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Sentada na velha rede do pai que ficava na varanda de trás da casa onde cresceu, ainda com as roupas do velório, Catarina observou o sol se esconder no horizonte e soube que tudo mudaria. Estava vivendo um daqueles momentos que tinha consciência que uma mudança estava acontecendo e que não poderia fazer nada para impedir. Era o seu momento de divisor de águas, um que precisava mudar para sobreviver. Manter sua essência e lapidar ou excluir outros pontos e não fazia ideia de como faria isso. Acreditava o suficiente nas forças do destino para aceitar as coisas como elas são.

Ou pelo menos, estava tentando fazer isso.

Respirou fundo e olhou o sol que desaparecia. Havia algo triste e reconfortante o final de mais um dia, e para ela, a maioria dos finais sempre tiveram essa dualidade. Menos naquele momento. Como poderia existir algo aprazível na morte de alguém que amava? Não existia.

Abaixou o olhar para a pequena caixa que segurava, procurando a coragem necessária para abri-la.

Um sorriso triste abriu no rosto magro e angular ao observar a embalagem simples, que o pai tinha embrulhado a mão, como sempre fez com todos os presentes para os filhos. Ele era o tipo de pessoa que se importava, se esforçava para dar o seu melhor, para sempre tentar ser uma versão melhor de si mesmo. Tinha sido um pai amoroso, companheiro e muito presente na vida dos filhos.

Catarina o admirava por isso.

Mordeu o lábio que tremia, fechou os olhos castanhos ao senti-los lacrimejarem e agradeceu por nenhum dos seus irmãos terem ido atrás dela, eles a conhecia o suficiente para entender que precisava de um tempo só. Todos da família precisava de seu próprio tempo para processar os últimos acontecimentos. Mal conseguia pensar que seu pai tinha ido para sempre.

Nunca mais ouviria sua voz calma, nunca mais veria as marcas de expressões ao redor da boca e dos olhos quando ele sorria; nunca mais veria o brilho brincalhão se iluminar no rosto. Nunca mais choraria nos calorosos braços, nunca mais ouviria seus conselhos, seus ensinamentos. Céus, o que será dela sem ele? O que mais poderia existir no mundo? Olhou novamente para o pacote e não se importou mais com as lágrimas que molhavam o rosto. Com as mãos tremulas, não que houvesse uma parte dela que não tremia, puxou as fitas e abriu o embrulho.

— Oh deus!

Era uma câmera fotográfica profissional. Linda, brilhava de nova. Era tudo o que ela mais queria. Não o objeto em si, mas a ideia do que ele representava. Do apoio do pai na sua escolha profissional, da escolha de sua vida.

Catarina soluçou, incapaz de se conter. Não poderia acreditar que ele tinha comprado, que a apoiasse tanto. Com as costas da mão, secou o rosto e piscou, mal conseguido enxergar através das lágrimas e fungou ao ver um pequeno envelope colocado a caixa. Entorpecida, os dedos abriram delicadamente a carta e teve que respirar fundo algumas vezes para poder controlar a tremedeira da mão, que dificultava ainda mais a leitura da letra pouco legível do pai.

Querida Catarina,

Eu sei querida, sei de como está sendo difícil, mas eu decidir escrever essa carta para que você pudesse, de algum modo, me ter com você. Espero que quando a vida ficar muito difícil, lembre-se de mim e do que vou escrever em seguida.

Primeiro, gostou da câmera? Não ligue para as coisas que sua mãe lhe disse, ela se preocupa com você (sim, de um jeito meio torto), mas ama, meu amor. Você é o nosso raio de sol. Por isso, pegue essa câmera e vá seguir seus sonhos, não desista deles e não deixe ninguém lhe dizer como deve viver sua vida. Nem mesmo sua mãe, nem seus irmãos, ninguém. Nem mesmo eu!

E segundo, é o último ensinamento meu, como seu pai, lhe dou. Não se esqueça, NUNCA, que o sol se levanta todos os dias, mesmo quando nuvens pesadas ameaçam a ofuscá-lo. Assim que a chuva passa ele está de volta, brilhante, vivo. Então, meu raio de sol, nunca se esqueça de brilhar. De viver. De ser feliz.

Não chore por muito tempo. Não lamente por eu ter partido, comemore os momentos incríveis que tivemos juntos. Eu tive uma vida plena, amei, casei e criei quatros filhos. Não sabe como eu amo todos vocês. Pessoas vivem a vida inteira procurando o que eu tive por um curto tempo e não me arrependo disso.

Seja feliz, meu raio de sol.

Te amarei para sempre.

Seu pai.

Catarina teve que dobrar o papel antes que as lágrimas pudessem manchar as lindas e últimas palavras do pai. Levantou os olhos molhados, vermelhos, para a lua já presente no céu escuro e com a ponta dos dedos, tocou o pequeno colar, desenhou o contorno do pingente em formato de sol que o pai o tinha dado desde pequena e deixou-se chorar por ele. Por ela.

Não chore por muito tempo

Naquela noite ela lamentaria, choraria até as lágrimas secarem, até o corpo não aguentar mais.

Não lamente por eu ter partido, comemore os momentos incríveis que tivemos juntos.

E amanhã ela se levantaria como o sol, brilhante, forte e guardaria para sempre em seu coração a certeza de que teve, mesmo que por um breve momento, o melhor pai que alguém poderia pedir.

                E amanhã ela se levantaria como o sol, brilhante, forte e guardaria para sempre em seu coração a certeza de que teve, mesmo que por um breve momento, o melhor pai que alguém poderia pedir

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Bem vindos a mais uma história! 

Sei que tinha marcado para postar em Janeiro, mas ( como sempre) não aguentei e estou aqui!

E não se desesperem! Tem mais um capítulo ainda hoje! :)

E como foi o Natal de vocês? ( Ficaram como eu aguardando o lançamento dos Bridgerton?) gente, adivinha quem acordou as cinco da manhã para ver a série? Sim, eu. O nível meu pai.

Sol Maior [ DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now