Capítulo 17

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  "Sua incapacidade de compreender que há coisas muito piores que a morte sempre foi sua maior fraqueza."

  James Potter estava particulamente feliz ao pôr do sol naquele dia, Alexia notou. A infelicidade dela o agradava.

  Quando o céu começou a escorregar gradualmente de um cinza para um azul cobalto, o time de quadribol da Grifinória se reuniu no campo. A chuva tinha virado uma garoa que mantinha o corpo de Alexia numa temperatura agradavél. Quando ela começou a voar em círculos, vinte vezes em volta da circuferência do campo, por mais quente que a pele ficava, o sangue queimava e o coração batia mil vezes mais rápido do que o recomendado, quando os pingos de água tocavam-na, ela quase podia esquecer a falta de ar e o olhar presunçoso do capitão.

  Aquela era totalmente a área de jurisdição dele. Ela sabia disso. E para a descontentação de Alexia, Potter sabia também.

  Depois de ser atingida três vezes por um balaço — duas no ombro e uma na barriga, a sua queda não foi nada graciosa na última —, estar com lama em lugares que ela pensou antes ser inalcancavéis e farpas terem entrado em dois de seus dedos. Alexia resolveu apelar pelas necessidades fisiológicas para fugir de James. Mas assim que ela tomou coragem para descer de sua vassoura e avisa-lo que iria ao banheiro já haviam passado-se três longas horas e o treino havia oficialmente acabado.

  Não via a hora de tirar as roupas grudadas do corpo. Se eram de água ou suor, Alexia não tinha certeza. Tinha criado o plano perfeito de ir para o banheiro dos monitores, preparar um banho de bolhas na extensa banheira e ficar ali até a água ter se tornado gelada e todos os músculos terem relaxado. Mas uma pedra surgiu no ínicio do caminho, assim que Alexia saiu do vestiário alguém a esperava.

  "Amos!" a voz afinou algumas oitavas. Alexia praguejou mentalmente e pediu para todas as entidades possivéis que Diggory achasse que o efeito em sua voz tinha sido surpresa. Cogitou virar o corpo e voltar correndo para os vestiários.

  "Alexia," com um impulso ele desencostou o corpo da parede, sorrindo brilhantemente. O cabelo loiro caia no olho, molhado. Ele deveria ter acabado de tomar banho. Pensar em Amos Diggory tomando banho não era algo que ela tinha planejado, mas mesmo assim o pensamento correu pela sua mente a fazendo corar.

  Por, Merlin! Isso não era o tipo de coisa que ela deveria imaginar nunca.

  "O que você está fazendo aqui?" começou a andar, esperando que Diggory ficasse para trás junto com todos os seus pensamentos impróprios. Seu corpo agia de forma contraditória com sua boca, que deixou escapar a pergunta.

  Mas a vida nunca seria tão boa assim com ela, é claro.

  "Esperando você" as pernas dele eram mais longas que a dela, e Amos estava prontamente andando ao seu lado como se não tivesse sido deixado para trás.

  "Não estava tentando espiar o nosso treino para roubar nossas estratégias?" estreitou os olhos.

  "Talvez eu devesse ter usado isso como desculpa," ele colocou uma mão no ombro de Alexia para que parassem de andar "Pelo menos não pareceria tão desesperado para falar com você."

  Alexia piscou uma, duas e três vezes. Esperando que Amos dissesse que estava brincando. Ninguém ficava desesperado para falar com ela. Piscou novamente quando percebeu que ele não estava sendo sincero e não fazia ideia de como reagir áquilo.

  Diggory sorriu quando Alexia não lhe respondeu sarcasticamemte. Aquele era um grande avanço entre os dois.

  "Sábado vai ser o primeiro dia de volta a Hogsmead," Amos estava se sentindo com sorte quando levantou a mão até uma mecha de cabelo espesso e escuro e o retirou do rosto de Alexia, os braços que a grifana mantinha cruzados em frente ao peito defensivamente escorregaram para o lado do corpo. Diggory não pôde evitar sorrir.

  Não sabia como nunca tinha prestado atenção em Alexia. Mas quando ela começou a andar com Lily Evans no primeiro dia de aula foi impossivél ignora-la. Amos tinha se sentido atraído a ela como um imã ao seu polo oposto.

  Diggory fez perguntas para todos para descobrir se Alexia namorava. Não queria saber mais nada sobre ela, queria descobrir por si próprio. Queria que ela lhe contasse.

  Na primeira vez que tomou coragem para falar com ela tinha sido frustrante. Esperava que Alexia fosse se derreter por ele como todas as outras meninas. Mas ele gostava que ela não fosse desse jeito, gostava do pequeno desafio que ela proporcionava.

  "E?" ela perguntou impaciente. Amos achava que Alexia entenderia o que ele estava querendo dizer. Mas claro que a garota dos cabelos de asas de corvo iria fazê-lo perguntar claramente. E talvez aquilo fosse bom. Uma boa relação era baseado numa boa comunicação, certo?

  "E eu queria saber se você me deixaria te levar para os três vassouras"

  "Ah"

  Ah? Não parecia que ela iria dizer sim.

  "Eu adoraria ir ao Três Vassouras com você," é claro que teria um mas "mas por conta de Potter vou ficar o final de semana inteiro polindo a sala de troféus"

  Alexia deu dois tapinhas no peitoral de Diggory. Nunca se sentiu tão feliz por ter detenção no sábado. Não que seria um sacríficio sair com Amos, e exatamente porque não seria que ela não poderia.

  Amos Diggory nunca poderia ficar com ela.

  "Olha," ela começou com um suspiro, estava pronta para lhe dizer que não queria nada com ele. E que a relação deles nunca evoluiria das conversas amigavéis na arquibancada. Porém, um barulho a fez perder o racíocinio.

  Um barulho ensurdecedor que fez Alexia apertar os olhos. Agarrou o braço de Amos para conseguir se manter em pé. Ela sentiu a pele queimar de dentro para fora. Sentiu os ossos se transformarem em carvão e cozinhar a carne que os envolvia. Queria gritar, mas a garganta estava fechada, abriu a boca e nenhum som saiu.

  Desejou que a chuva estivesse caindo em cima dela como durante o treino. Desejou até que fosse enterrada embaixo de neve pura. Qualquer coisa que ajudasse a aliviar excruciante sensação de estar sendo queimada viva.

  Quando abriu os olhos novamente, por um breve momento, não era apenas os olhos cristalinos do lufano que a encarava. Ele havia a deitado no chão e mais dois pares de olhos a olhavam preocupado, mas Alexia não conseguia reconhecê-los, a mente estava nublada com vermelho e cinza. A língua estava com um gosto amargo de bile e ocre.

  Ela sentiu o corpo mexendo involuntariamente e sabia que estava convulsionando.

  "O que diabos você está esperando? Ela precisa ser levada para a enfermaria" ouviu como um eco distante.

  "Ela está queimando, cara. Não consigo nem tocar nela"

  Um momento de silêncio preencheu a atmosfera e Alexia achou que tinha finalmente desmaiado. Era como se todos os nervos tivessem sido fritos e agora incapazes de receptar a dor.

  "Foda-se!" e então ela foi levantada do chão e todas a sensações voltaram para o corpo.

  O pico de dor foi tão intenso que Alexia apagou de vez, entregado o subconsciente para uma escuridão pungente com gosto de ferro e cheiro de carne pútrida e queimada.

 

  

 

𝐒𝐂𝐎𝐑𝐂𝐇 | Era dos MarotosWhere stories live. Discover now