Capítulo 09

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"As consequências de nossas ações são sempre tão complicadas, tão diversas, que prever o futuro é uma coisa muito difícil."

  O cheiro de ditamno é a primeira coisa que Alexia sente quando entra na sala de aula

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  O cheiro de ditamno é a primeira coisa que Alexia sente quando entra na sala de aula. As narinas dilatam com o cheiro familiar. Quando criança — antes de receber a Chama —, ela costumava brincar de tudo que podia no amplo jardim de sua residência, sua brincadeira favorita era fingir ser uma jogadora profissional de quadribol, e essa brincadeira nem sempre acabava muito bem. Leonard, roubava algumas folhas de ditamno, uma planta que acelera o processo de cicatrização, para que seus pais não descobrissem que Lexa tinham se machucado brincando com ele. 

  Uma dúzia de alunos preenchia a sala quando ela chegou. Professor Slughorn ainda não estava ali, mas o caldeirão fervendo com a poção cor de púrpura indicava que ele estivera alguns minutos antes. 

  A morena nunca fora muito fã da aula de poções. Talvez fosse porque era teimosa demais para aceitar que aquela era a única matéria que lhe seria útil no futuro. Apesar de não gostar, era boa nela, como em todas as outras. 

  "Você não ama esse cheiro de menta?" pergunta Alice, apertando levemente o braço de Alexa. As duas vieram de braços dados por todo o caminho, sussurrando comentários do que elas supunham que as pessoas com olhares tortos estavam pensando. 

  Agora que Alice falara, ela conseguira sentir o cheiro fresco e adocicado. O cheiro de menta sobrepunha o de ditamno. É engraçado como a memória fora mais forte do que o que estava bem ali na sua frente, banhado em seus sentidos. Assim que seria quando finalmente completasse o rito de passagem? Viveria nas memórias do que um dia fora? 

  Se fosse desse jeito, era melhor que ela fizesse algumas memórias logo, porque não tinha nenhuma que achava digna de ser lembrada pelos próximos quinhentos anos.   

  Esse período era com os alunos da Corvinal e lufa-lufa. Azul, vermelho e amarelo se misturavam nas mesas de madeira. Alexia soltou um suspiro pesado quando uma certa corvina com o mesmo sobrenome que ela entrou, os cabelos castanhos escuros batendo no ombro, os olhos verdes a cortando como uma navalha, que Alexia tinha certeza que se a prima tivesse teria usado para cortar sua garganta bem ali. 

  Mareth se ressentia por não ter sido escolhida naquele fatídico dia. Alexia tentara explicar múltiplas vezes que também se ressentia, que se tivesse escolha teria deixado que a Chama fosse dela. Ela não queria viver quinhentos anos, não quando teria que viver esses quinhentos anos á merce dos outros. Mareth podia ter aquela maldição disfarçada de dom se tanto queria

  O olhar hostil permaneceu em Lexa, mesmo quando ela fez o caminho até a mesa de madeira, sentando o mais longe fisicamente possível da grifana, uma promessa raivosa e silenciosa de que não pretendia deixa-la em paz. 

  "Qual o problema entre vocês duas?" Marlene pergunta, enrolando um cacho dourado em seu dedo indicador. Lily dá um tapa no braço da amiga "O quê? Eu só estou perguntando o que todo mundo quer saber" a loira balança os ombros "O boato diz que vocês duas estavam namorando o mesmo cara, escondidas. Ela encontrou vocês dois se pegando na sala de troféus e ele escolheu você" as sobrancelhas grossas dançam para cima e para baixo, sugestivas.

  Claro que o problema entre duas meninas seria um menino. Clássico.

  "O que?" Alexia vira abruptamente, com a boca entreaberta "Não foi isso que aconteceu!" mas ela também não podia contar a verdade.

  "É meio loucura mesmo" Alice concorda com a exasperação de Lexa.

  "É..." Marlene se arruma no banco "Mas explicaria porque nunca vimos ela com garoto nenhum. Você, por um acaso, tem algum namorado secreto?" os lábios se curvam em uma linha fina e os olhos brilham com curiosidade e algum tipo de... esperança?

  "Não, Marlene, eu não tenho" as palavras ficam misturadas entre uma risada nervosa "E eu não vou namorar nenhum garoto dessa escola" ou de nenhum outro lugar.

  "Então é melhor você contar isso para Amos Diggory" um sorriso maroto toma os lábios rosados de Lily "Por que ele não para de olhar para você"

  "Por Merlim" Alexia deita a testa na mesa, encarando as pernas, tentando esconder a vermelhidão esquentando em sua bochecha. As risadas das amigas cessam quando o professor entra e Alexia recolhe toda a coragem para levantar o rosto novamente, mas agora ciente demais do olhar de Diggory em suas costas. 

  Ela odiava se sentir assim. Não tinha nada que ela podia fazer sobre isso. Se alguma anciã estúpida decidiu que a Fênix não poderia se envolver amorosa ou carnalmente com ninguém, por que não, também, impedir que ela se sentisse toda boba quando recebia esse tipo de atenção? Amos era um dos garotos mais bonitos do sexto ano, com seus cabelos loiros brilhantes e estúpidos olhos azuis da cor do oceano, e mesmo que tivesse anos de treinamento em como guardar aquelas sensações, tinha de admitir que não seria ruim sair com ele.  

  Ela fez questão de não olhar na direção do lufano, não podia dar nenhuma esperança. Para nenhum dos dois. 

  Quando o professor terminou seu discurso de boas-vindas, ele começou a explicar a lição do dia.

  "A poção que vocês estão vendo" ela acena para o caldeirão, agora não mais estourando bolhas violetas na superfície do líquido "É uma Poção Limpa Feridas. Alguém sabe me dizer para que serve?" 

  Lily e mais meia dúzia de alunos levantam os braços. Slughorn normalmente escolheria a ruiva para responder à questão, parecia se maravilhar com qualquer coisa que saísse da boca dela, mesmo que fosse a mais simples das coisas, mas seus olhos viajam curiosos para um aluno que raramente estende a mão para responder a perguntas.    

  "Hmm, limpa feridas?" James mais pergunta do que responde.

  Uma risada fica presa na garganta de Alexia e ela tem que repreender para não rir, porque deixaria Slughorn mais desconcertado, Lily confusa e seu orgulho muito, mas muito, machucado. James nem era engraçado, mas fazia sentido o que falara e ver o professor lutar internamente decidindo se o xingaria ou ignoraria era, de fato, divertido.  

  "Sim, senhor Potter, está correto" Slughorn passa as mãos suadas nas vestes. Claro que ele não falaria nada, não quando queria tanto arrastar James Potter para o seu clube "Mas o que esqueceu de comentar é que a Limpa Ferida acelera o processo de cicatrização do ferimento, quando entra em contato com a ferida, fumega e arde proporcionando uma cicatrização mais rápida" ele anda entre as mesas "Na página 165 de seus livros, vão encontrar a lista de ingredientes"

  Ele segue uma explicação sobre o preparo e a mente de Alexia divaga para os quatro amigos sentados na mesa em frente a dela. Precisava de um jeito para se aproximar deles ou espia-los, mas de qualquer forma, precisava fazer isso sem que notassem sua intenção. 

  Como se tivesse algum super poder telepata, quando Slughorn termina de falar e senta em sua mesa, Alice se vira para pedir que Alexia pegue um dos ingredientes que está muito longe dela. 

  "Obrigada" ela diz analisando o vaso vítreo com óleo extraído da folha de ditamno "Ah! Eu esqueci de te perguntar no café-da-manhã," ela começa, colocando o vidro na madeira e uma mecha de cabelo escuro atrás da orelha "vi que tem muitas revistas de quadribol, planeja fazer o teste para o time esse ano?" 

  O time de quadribol da Grifnória. O mesmo time do qual James era capitão e Sirius batedor. 

  "Isso!" falou alto de mais, recebendo alguns olhares furiosos de alunos que estavam concentrados, abaixou a voz quando pronunciou as próximas palavras "Quer dizer, sim. Era exatamente isso que eu estava pensando em fazer"

        


𝐒𝐂𝐎𝐑𝐂𝐇 | Era dos MarotosWhere stories live. Discover now