[05]

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[Benjamin]

Era quinze de dezembro. Minha mãe estava dormindo há duas horas, e eu estalava meus dedos para passar o tempo. O quarto de hospital estava silencioso, menso que tenha três pacientes e seus acompanhantes. Porém era tedioso.

Minha mãe estava internada faziam dois meses após ter feito uma cirurgia cardíaca. Ela precisaria de outra. Eu não conseguia dormir, eu morria de medo que algo pudesse acontecer com ela se eu ao menos pregar os olhos.

- Ben... - ao ouvir ela sussurrar, eu me levantei em um pulo e me aproximei dela. Então ela me perguntou com sua doce voz: - Hoje é seu aniversário... Por que você não sai um pouco?

- Está chovendo. - era uma desculpa, mas não deixava de ser verdade. Eu queria poder dizer que não confiava nos aparelhos conectados ao corpo dela, mas não ousei.

- Eu sei que você gosta da chuva - ela sussurrou -, vá respirar. É uma ordem.

Dei uma risada.

Eu não me importava se hoje era ou não meu aniversário, eu só queria ficar ao lado dela mais um pouquinho. E mesmo negando, não consegui a contrariar.

Eu apenas coloquei meu casaco e peguei o guarda-chuva velho que minha mãe guardava na bolsa. A noite estava bem fria, mesmo sendo um país onde o calor prevalece, dezembro estava considerável.

Eu não sabia para onde ir exatamente, apenas saí procurando um bom lugar para lanchar. Eu tentei até perguntar para algumas pessoas onde ficava o comércio mais próximo, porém estava tão tarde que ambos ficávamos com medo.

Eu acabei me molhando com a chuva por causa da ventania, e ainda bem que meu guarda-chuva não quebrou. Após andar por uns dez minutos, encontrei um lugarzinho meio iluminado. A plaquinha ainda dizia que estava aberto, porém não havia ninguém lá dentro além de dois adolescentes. Entrei com pressa, devido a chuva e acabei assustando os jovens.

A menina estava com a cabeça deitada sobre a mesa e parecia com sono, já o garoto limpava as coisas. A garota permaneceu olhando para mim, talvez eu estivesse em um estado horrível. Molhado e cansado. Dei um longo suspiro e fui até o balcão.

- Nós já fechamos... - o moço disse. Ele estava desconfiado.

- Mas a placa na porta diz que ainda está aberto. - o cara suspirou e então eu pedi minha bebida favorita. Não há nada melhor do que um milk-shake em uma noite fria.

Então, enquanto esperava minha bebida, ouvi a garota bocejar. Eu a olhei novamente, e então percebi que já a conhecia. Tentei segurar meu sorriso para não parecer mais estranho. Mas eu lembrava dela. Eu lembrava bem.

No ano passado, eu tive depressão. Meu pai chamava aquilo de bobagem, já minha mãe não conseguia se preocupar com nada além de trabalhar para sustentar eu e meus irmãos. Eu não conseguia dizer muita coisa, se eu me expressasse talvez eu tivesse mais problemas.

O natal do ano passado estava sendo um pouco mais difícil. Nós costumávamos nós reunir com a família e celebrar entre sorriso, mas meus pais estavam brigando a cada minuto e aquilo realmente não era algo agradável para compartilhar com a família. Eu passei duas semanas inteiras apenas ouvindo os gritos entre meus pais, eu não queria isso naquele dia novamente. Eu saí de casa com pressa, eu gostaria de estar em qualquer lugar menos ali. Eu gostaria de respirar um pouco.

Vaguei pelo bairro, até quase chegar ao centro da cidade, e na metade do caminho, eu vi um grupo de quatro jovens cantando e tocando instrumentos na calçada de uma igreja. Ela estava ali.

- Me ajude, Santo espírito. Eu preciso de Ti mais do que tudo. Todas as minhas melhores ideias são suas. O que sou eu, mas o que você faz de mim. Então, me ajude, Deus, respire minha fraqueza. Pois tudo que eu quero é ser como Jesus. Eu não tenho muito, mas o que eu tenho é seu para usar. Então faça a minha vida inteira Seu quarto superior.

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