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12/06/2021

Ao entrar em contato com a música, zonas importantes do corpo físico e psíquico são acionadas - os sentidos, as emoções e a própria mente. A música nos faz expressar emoções que não conseguem se materializar com palavras. A música induz dopamina e serotonina, substâncias no nosso corpo relacionadas ao bem-estar. Essa era a razão pela qual eu escrevia músicas para as minhas pessoas preferidas.

Mas numa certa noite chuvosa, um rapaz entrou na cafeteria do meu irmão e me fez questionar: "e se pessoas fossem músicas?". Afinal, assim como a música, as pessoas também despertavam sentidos, emoções, dopamina e serotonina umas nas outras. As pessoas que amamos têm esse poder sobre nós.

Meu pais seriam a música que me abraça a todo momento. Ao lembrar deles brincando um com o outro e trocando piadas e carícias, seria meu abrigo. Assim como Lucas. Eles seriam o lugar onde eu poderia descansar e me tornar alguém melhor. Uma música calma e agitada, que me lembra o dia com o céu azul, os pássaros cantando e a ventania confortante.

Sofia seria uma doce orquestra. E apesar dos instrumentos serem delicados, o som seria bem forte. Ao ouvir a música, seria como ouvir a gargalhada dela... Escandalosa e engraçada, ninguém consegue ficar sério perto dela. E seu sorriso é o mais adorável, assim como ela por completo. A música (Sofia) nos lembraria o lado doce da vida e nos motivaria a seguir em frente apesar dos momentos ruins.

Mas, se a música fosse realmente uma pessoa, para mim ela seria Benjamin. Seria unicamente ele. Fragmentos de momentos, memórias, emoções, pessoas... A música seria uma noite chuvosa de inverno com o céu estrelado; seria a respiração descompassada de Benjamin como na noite em que dançamos naquele corredor vazio de hospital; seria sua gargalhada única que eu ouvia raramente; seria seu ombro quente em um ônibus lotado onde eu apoiaria minha cabeça cansada; seria seu amor imenso por sua mãe e sua família; seria sua doce voz que fazia meu coração sambar; e seria seu medo que o fez o embora e me deixar... Benjamin na verdade é a música mais singular, espetacular. A música que me faz chorar descontroladamente. As melhores músicas nos causam esse tipo de sentimento.

E eu queria ser a música preferida dele.

— Eleanor, você está bem? Está sentindo alguma dor? — José parecia nervoso, já que havia se declarado para mim, e minha única resposta foi cair em prantos.

— Eu sinto a falta dele — eu disse entre soluços, e quando José me olhou confuso eu completei: — Do Benjamin.

— Me desculpe, eu não sei quem ele é... — José desviou o olhar e arrumou sua postura. Provavelmente saber que eu não tinha mais interesse nele tivesse o deixado desconfortável. Mas ele deu uma risadinha e completou: — Esse é um fora bem doloroso.

Eu ri. — Me desculpe. — eu peguei um pouco de guardanapo para enxugar minhas lágrimas — Eu acho que vi ele, e isso doeu.

— Viu ele aqui, agora? — José começou a olhar para todos os lados do lugar.

— Ele foi embora. — eu tentei secar minhas lágrimas com guardanapos. 

— Vamos atrás dele então, se você quiser. — José deu um sorriso. Eu balancei a cabeça desacreditada.

— É sério? — ele deu uma risadinha do meu desespero. Ele assentiu e pegou nossos sanduíches e pediu para um funcionário pôr em embalagem para viajem.

José pediu para conversar com o chefe, e ele conseguiu bem fácil. O dono do restaurante confirmou que havia um Benjamin trabalhando naquele local, e que saiu mais cedo por motivos pessoais. Porém, o homem não quis revelar o lugar em que Benjamin morava, mesmo com muita insistência.

Música De Inverno Where stories live. Discover now