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15/12/2020

Eu gosto de José desde o começo do ensino médio, e não é algo de que eu me orgulho tanto. Eu tenho tentado criar coragem recentemente, então fazem alguns dias desde que eu decidi me declarar para ele.

E eu estava finalmente em sua frente. Eu sentia um ótima sensação por estar tão perto assim do José. Eu nunca havia tido coragem nem ao menos de o olhar nos olhos, quem dirá permanecer em contato visual por tanto tempo assim.

— Por que queria me ver? — José finalmente disse algo, o que me fez o olhar novamente. Eu não conseguia pronunciar nada. Eu sentia minha garganta presa — É importante, Eleanor?

— Eu... — eu gaguejei.

— O quê? Você gosta de mim?

Me assustei com sua pergunta repentina. Eu senti meu coração disparar, e, talvez eu esteja delirando, mas um pequeno sorriso surgiu nos lábios de José. Fiquei paralisada, ainda mais quando ele aproximou sua mão e acariciou minha bochecha. Seus dedos estavam gelados. Mas, de qualquer forma, aquele afago era bom.

— Eu sinto o mesmo. — sua voz saiu como de um sussurro. Seu hálito caloroso abraçou meu rosto em meio àquela ventania fria de inverno.

Ele sorriu.

— Você tá falando sério? — pisquei os olhos diversas vezes, na dúvida de ser algum sonho. Eu estava eufórica.

Ele se aproximou de forma rápida, não tive nem ao menos tempo de pensar em recusar. Seus lábios apenas encostaram nos meus e...

— Eleanor? — em um pulo, eu despertei. Senti meu sangue ferver de raiva.

Levantei meu rosto e respirei fundo. Meu irmão havia jogado meu livro de física sobre a mesa.

— Brincadeira, não é?! — eu coloquei as mãos no rosto, frustada.

Meu irmão me olhou com desdém. O pano de prato que estava em seu ombro, ele o segurou firme e o bateu em minha cabeça.

— Mamãe pediu pra você estudar, e você continua aí. Dormindo.

— Não me olhe assim, eu quero descansar! — choraminguei. Deitei minha cabeça sobre o livro de física, vendo meu irmão se distanciar com chateação.

Eram quase onze horas da noite. O único motivo que me fazia ficar acordada (ou tentar ficar) era a prova do dia seguinte. A lanchonete tinha fechado poucos minutos atrás e meu irmão mais velho arrumava as coisas.

Com a visão embaçada, permaneci olhando para a árvore de natal, lutando para não dormir de novo. Minha visão doía apenas de olhar para meu caderno lotado de cálculos para a prova de química. Algumas coisas ainda não haviam entrado na minha cabeça e eu não estava nem um pouco confiante.

A porta foi escancarada de repente. O vento geladinho entrou de forma violenta e superabundou o comércio. Eu estremeci, abracei meu próprio corpo na tentativa de me esquentar.

O garoto que havia acabado de entrar olhou para mim por alguns segundos. Seu rosto estava meio avermelhado, ele parecia um pouco assustado. Ele respirou fundo e andou calmamente até o balcão, onde meu irmão estava. Sua roupa estava molhada, seus cabelos pingavam pelo chão da lanchonete. Meu irmão deve estar frustrado com isso.

O garoto pediu um milk-shake de chocolate. A lanchonete já havia fechado, mas meu irmão nunca nega mais uma venda. O garoto virou seu rosto em minha direção e manteve contato visual por uns dez segundos. Ele não sorriu, e eu não sabia o que seu olhar significava. Parecia ter milhões de significados.

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