Capítulo 28

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A atividade que ele havia escolhido para fazermos naquela manhã?

Pescar.

Algo que eu não fazia a muitos anos. Me perguntava até se eu ainda levava jeito. A última vez eu tinha uns 10 anos. Meu pai me levou junto com minha mãe para a casa de verão de uma amiga dele e lá, havia um deck abandonado e ficamos pescando a tarde inteira.

Naquela noite, tivemos vários tipos de frutos do mar.

Essa é uma das memórias mais preciosas que tenho de meu pai. Quando ele ficava sóbrio, parecíamos uma família perfeita e eu era amada por ele. Apenas quando estava sóbrio.

Bem, agora eram águas passadas. Minha nova memória seria feita ao lado de outro homem. Que talvez, eu até ousaria dizer, que me ama mais do que um dia meu pai chegou a amar.

Saber que esse sentimento era real, pela primeira vez, não me pareceu estranho. Me sentia merecedora de seu carinho e afeto.

Saio de meus devaneios, colocando as iscas em pequenas sacolinhas plásticas e as fechando com cuidado. Coloco na caixa de transporte, esperando Vincent na sala de estar.

Todo mundo já tinha ido para a tirolesa. Por isso, a casa estava no maior silêncio absoluto. O que dava certo medo, visto o tamanho da residência.

- Vamos indo? - Viro a cabeça pro lado e rio baixo, observando sua roupa para pescar. Usava uma bermuda simples, com uma regata branca, que dava para ver suas tatuagens no peitoral e abdômen.

- Seus pais sabem disso? - Brinco, andando com ele para a praia.

- Sabem, eu acho... - Ele ri baixo, deixando os cachinhos caírem sobre sua visão. - Eu paguei com meu próprio dinheiro e falsifiquei uma assinatura. Descobri uma nova forma de lidar com minha raiva.

- Se tatuando? - Arqueio a sobrancelha.

- Sim. Melhor do que ficar com raiva e meter em alguém. - Rio de seu linguajar e noto um sorriso malicioso se forma em seu rosto. - Mas para você, eu abro a exceção.

Borboletas atingem meu estômago e me pego sorrindo feito idiota. Se deixar e se permitir ser amada, era algo incrível, por mais que ainda não tivesse dito a ele.

Em breve, Vinnie. Em breve...

- Você não tem vergonha alguma na sua cara... - Rio baixo, observando de longe o deck. Sinto a respiração de Vincent próxima do meu ouvido.

- E não minta dizendo que detesta... - Um arrepio sobe minha coluna e não digo mais nada, seguindo atrás dele até a beirada. O sol ainda estava lá em cima e nossa sorte era que havia um guarda-sol enorme logo ali do lado, para nos proteger daquele clarão forte.

Vincent entrega uma vara para mim e eu aceito, colocando uma isca na ponta com cuidado e lançando ao mar. O loiro ao meu lado repete os mesmos movimentos.

Agora só nos bastava esperar. E o silêncio entre nós aos poucos, se tornava menos constrangedor.

- Quando fez as tatuagens?

- Hm... - Sua expressão era pensativa e como se tivesse lembrado de algo ruim, sua face muda sombriamente. - Eu havia discutido com Troy uma vez na casa de Jaden. Estávamos inclusive debatendo sobre a casa de Addison. E aí na raiva eu pensei em pagar qualquer uma para transar comigo. Mas eu lembrei de você.

Meu coração para e eu o encaro pelo canto do olho.

- O que tem eu?

- Ficaria chateada se eu tivesse feito aquilo. - Antes mesmo que eu pudesse negar sua frase, ele já se adianta. - E eu sei que ficaria. Lembro como se fosse ontem a sua expressão quando me encontrou no banheiro com Addison.

AFTER CLASS || Vinnie HackerWhere stories live. Discover now