Prólogo

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Eu sabia que estávamos perdidos no segundo em que minha mãe trancou a porta e nos abraçou com força

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Eu sabia que estávamos perdidos no segundo em que minha mãe trancou a porta e nos abraçou com força.

A cada pancada que eles davam forçando a porta a abrir, mais forte nossa mãe nos segurava.

Olhei para seu rosto e vi em suas lágrimas seu desespero. A porta estava cedendo, não havia mais nada o que ela podia fazer por nós. Eu sabia disso, ela sabia disso, e eles também sabiam disso...

- Se escondam no porão! Não importa o que vocês escutem, não subam! - minha mãe falou entre lágrimas enquanto beijava minha testa suada pelo medo.

Ela nos soltara mas Knut continuou agarrado em suas pernas finas, chorando escandalosamente.

Puxei seu corpo com força o desprendendo de nossa mãe e o arrastei contra sua vontade até o porão sussurrando repetidamente em seu ouvido como um mantra:

- Nós vamos ficar bem!

E naquele momento, o que eu mais desejava, era poder acreditar em minhas próprias palavras.

Apaguei a luz do porão e arrastei meu irmão caçula para trás de uma mobília esperando que aquele fosse um esconderijo seguro.

Olhei para meu irmãozinho que ainda não cessara o choro e acariciei seus cabelos cacheados.

- Você precisa ficar quietinho, Knut. Nós vamos ficar bem. - falei em um sussurro e o escutei lentamente diminuir os soluços.

Me concentrei para tentar escutar o que acontecia no andar superior. Eu sabia que eles já haviam conseguido entrar pois ouvira o baque da porta sendo brutalmente arrombada, e agora podia ouvir as vozes, aquele tom ríspido e o sotaque alemão grotesco.

Ouvia a voz chorosa da minha mãe, que não entendia o que eles diziam mas sabia exatamente o motivo de eles estarem ali.

Então ouvi o que eu mais temia... Um barulho de tiro seco e a voz doce de minha mãe cessando, até que tudo o que eu podia ouvir eram os passos pesados dos soldados alemães.

Apertei Knut contra meu peito chorando baixinho, pois sabia que, assim como eu, ele também havia ouvido o tiro, e apesar da ingenuidade de seus nove anos, eu sabia que ele entendia muito bem o significado daquele som.

A Guerra havia tirado a sua infância. Em vez de brincar e rir como toda criança deveria ter o direito de fazer, ele aprendeu a conviver com a fome, com o medo, com o cansaço das noites em claro e o pior de tudo, tornou-se parte de sua rotina ver um cadáver estendido nas ruas de Copenhague, ou a violência, não apenas do exército nazista, mas também do próprio povo, que antes eram vizinhos, familiares ou amigos, mas que com a Guerra, se tornaram selvagens, animais famintos e sem empatia. Ninguém gostava da invasão alemã em nosso país, mas precisava de muita coragem, ou muita tolice, para admiti-lo em voz alta... As punições eram severas e as delações recompensadas.

Operação EscarlateWhere stories live. Discover now