Capítulo 6: Quartos

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Oh we were born to get together.
(Oh nós nascemos para ficar juntos)
Shut Up And Dance - Walk The Moon

(Oh nós nascemos para ficar juntos)Shut Up And Dance - Walk The Moon

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- Lise, acorda! Todo mundo já foi!

Eu tinha sido a última a dormir na noite passada. Toda vez que eu fechava meus olhos, eu via o corpo retorcido de minha mãe, via seus olhos abertos de forma mórbida, via o sangue escorrendo pelo chão...

E quando finalmente consegui dormir, tive um sono tão pesado que não acordei até sentir Knut me chamando e chacoalhar meu corpo de leve.

Abri os olhos devagar com aquele sentimento que sempre temos quando acabamos de ser acordados de que eu ainda não estava completamente desperta.

- Tudo mundo foi para onde? - perguntei sonolenta e ainda com os olhos semicerrados.

Knut com a sua paciência de uma criança de nove anos, pulou em cima de mim forçando meus olhos a abrirem com seus dedinhos.

Foi então que vi a porta aberta!

Me levantei rapidamente.

- Eles fugiram?

- Não, o Trainer Shultz levou eles para seus quartos. Vamos logo, Lise! Estou ansioso para ver o meu quarto! - disse ele também se levantando e me puxando para fora da sala.

Sorri ao vê-lo empolgado daquele jeito, fazia muito tempo que eu não o via sorrindo...

Ele se soltou da minha mão e subiu correndo uma escadaria à nossa esquerda.

- Knut, espere!

Corri atrás dele preocupada e dei de cara com Shultz.

- Bom dia, senhorita! - falou para mim.

Olhei para os lados estranhando aquele corredor. Era amplo e tinha exatamente seis portas, três de cada lado, e talhados na madeira, haviam nomes estranhos...

Olhei para a porta mais próxima de mim à direita e identifiquei o que estava escrito: "Wurmloch".

Lembrei então de que o soldado havia chamado Kristofer assim na noite passada...

Meus pensamentos foram interrompidos pelo meu irmão caçula que agarrou minhas pernas com carinho.

- Qual será que é o nosso? - ele perguntou ansioso.

- Os últimos à direita. - Shultz respondeu.

Knut foi saltitando até as portas indicadas e eu o segui percebendo o soldado na minha cola.

Na última porta do lado direito estava escrito "Fischweib".

Olhei para o soldado com desprezo.

- Sereia? Sério? Porque quando eu canto encanto as pessoas? Que original! - disse irônica.

- Por que meu nome é "E-LE-MEN-TAR"? - leu Knut pausadamente o nome escrito em sua porta.

Shultz pareceu espantado com aquilo.

- Ele sabe ler? - me perguntou.

- Quando as escolas fecharam por causa da Guerra, eu continuei ensinando ele de casa. - esclareci.

Knut abriu a porta de seu quarto e assim que entrou, desafiei o alemão:
- Chega dessa merda! Vai me explicar o que significa isso? - perguntei apontando para as portas.

Ele estava com a expressão chocada, eu estava acostumada a receber aquele tipo de olhar, afinal não era nada comum para uma dama falar palavras de baixo calão, gritar ou usar qualquer tipo de tom agressivo... Minha mãe sempre me repreendia por conta desses meus deslizes, mas agora ela estava morta! Por causa deles! Então eu com certeza não manteria meus modos na frente daqueles demônios!

Finalmente ele falou:
- O quê? Você realmente achou que deixaríamos vocês naquela sala para sempre? Eu sei que você está acostumada a nos ver como os vilões, mas você são da família agora, nós não machucamos os nossos.

- Ah não?! Porque em um desses quartos tem uma garota alemã que pode discordar disso! - rebati irritada.

- Ela está segura, todos vocês estão, Fischweib.

- Não ouse me chamar assim! Meu nome é Analise Simonsen e é assim que você vai me chamar! - retruquei.

Ele bufou frustrado. Provavelmente não estava acostumado a ser desafiado por ninguém, muito menos por uma garota.

- Cuidado com esse tom, mocinha! - ele falou ameaçador mas eu ignorei - Eu estou tentando aqui! Eu coloquei seu quarto e o do seu irmão um do lado do outro... Até pedi para instalarem uma porta interna dando passagem para ambos entrarem um no quarto do outro!

Eu ri com sarcasmo.

- Uma porta não vai trazer minha mãe de volta!

Abri a porta do "meu quarto" e encontrei Knut dentro dele, pelo visto ele já tinha encontrado a tal da porta interna.

O quarto inteiro era decorado com temática marinha, as paredes eram azuis com pinceladas que lembravam o mar e pequenos desenhos dos mais variados tipos de peixes. Ao centro havia uma cama média com cobertores e lençóis perfeitamente dobrados, ao lado dela, um guarda-roupa com várias roupas dentro e do outro lado, uma penteadeira de madeira com uma gaveta, dentro dela escova de cabelos e escova de dentes. Por fim, havia um banheiro, com chuveiro e energia elétrica!

Eu estava louca para tomar um banho quente, depois de tanto tempo tomando apenas banhos gelados! Mas me manti séria e me dirigi novamente para o exterior do quarto onde Schultz me aguardava com um olhar esperançoso.

- E então? O que achou? - perguntou.

- Quantas casas de pessoas inocentes vocês invadiram e roubaram para fazerem esses quartos?

Ele deu uma pequena risada.

- Você realmente é difícil de agradar, Fischweib. - falou enfatizando meu nome falso para me irritar e finalmente me deu às costas indo embora.

- Vem ver o meu, mana! - disse Knut animado me puxando pela porta interna até seu quarto.

A estrutura do quarto era a mesma, mas a decoração era diferente, as paredes estavam pintadas em um degradê entre branco, azul, laranja e marrom e os desenhos eram minimalistas, assim como o meu, também não havia janelas, ou seja, apesar de acolhedora, ainda era uma cela...

- Você viu a grade? - ele perguntou me fazendo acordar de meus pensamentos.

- Grade? - estranhei, apesar de ter a consciência de que aquilo era uma cela, não tinha reparado em nenhuma grade...

Ele voltou para o meu quarto e apontou para um papel colado na parte de dentro da porta.

- Ali, olha! Você também tem uma.

Me aproximei do papel e vi uma espécie de grade horária que tinha os nomes que eles deram para todos nós espalhados pela grade com horários, dias da semana e direções.

- Ah... Esse tipo de grade...

- Na escola também tinha isso! Talvez seja divertido... - ele falou esperançoso e eu o abracei.

- Talvez... - respondi para não magoá-lo, mas eu sabia que nós não estávamos na escola. Estávamos no inferno!

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