Coração aberto

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Assim que Flávio saiu, eu liguei para ela diversas vezes até perceber que ela desligou o aparelho. Eu estava pensativa com a ponta do celular apoiado nos lábios, será que ela realmente viajou ou só disse isso para o Flávio, para que ele me contasse? Além do mais, ele não tem nem ideia de que ela tem um apartamento aqui e ela pode simplesmente estar lá.

Eu me vesti, peguei minha bolsa e saí pegando um táxi em direção ao seu apartamento. O porteiro já me conhecia e liberou a minha entrada sem hesitar, peguei as chaves na minha bolsa e destranquei a porta. Ela estava sozinha e sentada no chão, ao lado de uma taça de vinho, e montando um quebra cabeça. Seu olhar para mim não era dos melhores, mas eu não me importava, eu estava exatamente onde queria estar.

— O que faz aqui? — Questionou ela tomando um gole da sua bebida sem me olhar.

— Eu disse para ele que não vou mais me casar. — Ela me olhou rapidamente voltando a atenção para as peças que estavam em suas mãos. — Eu juro, Marta. Por favor, não fique longe de mim, eu estou morrendo por dentro sem você. Eu não consigo fazer absolutamente nada com essa angústia, essa saudade pressionando o meu peito.

— Estar entre você e o meu próprio filho já é demais para mim. — Disse ela encarando as peças no chão, e eu me aproximei, ficando agora na sua mesma altura.

— Não estou te pedindo para escolher entre nós dois, estou aqui, sendo sincera com você, estou aqui de coração para pedir que me perdoe, eu sei que agi errado com você várias vezes, por favor. — Ela me olhou profundamente e eu me sentia nervosa.

— Qual foi a reação dele? — Perguntou curiosa.

— Ele disse que não era o tipo de conversa para termos naquele momento, ele foi viajar, e prometeu que quando voltasse conversaremos. — Ela sorriu e me olhou, voltando atenção para as peças no chão com tranquilidade. — Marta, eu não consigo ficar mais nem um segundo sem você. — Sequei uma lágrima que insistia em cair. — Me perdoa, fica comigo...

— Foram poucas as vezes que eu me apaixonei de verdade nessa vida. — Disse ela pensativa, fazendo uma pausa enquanto tomava um gole de sua bebida. — E aparentemente em todas as vezes em que me apaixonei, eu fiz as piores burradas que alguém em sã consciência poderia fazer. Uma delas, me relacionar com a noiva do meu filho. — Ela sorriu e me olhou por um longo tempo em silêncio. — Eu me julgo todos os dias por amar você. Eu me questiono todos os dias como eu pude ser tão infeliz por fazer isso com ele.

— Você sabe que não fizemos isso na intenção que acabasse dessa forma, até tentamos evitar. Eu me apaixonei por você desde a primeira vez que eu te vi, desde o nosso primeiro encontro, não foi nada premeditado, não agimos na intenção de magoar ele, você sabe que foi um acaso, Marta! Não tínhamos como saber que nossos destinos iam se cruzar novamente.

— Eu não estou disposta a sofrer ainda mais, Melissa. Eu não posso abrir mão de tudo por alguém que nem sequer consegue terminar um relacionamento por mim.

Eu me aproximei beijando-a, nossos lábios sedentos se misturavam a aquele emaranhado de sentimentos, um misto de amor, medo, e confusão. Eu nunca fui tão entregue a alguém, como sou a ela, ela consegue me fazer a mulher mais feliz do mundo, ou me destruir na mesma proporção.

— Eu amo você, fica comigo, Marta. Eu estou disposta a qualquer coisa para ficar com você, eu me sinto a mulher mais feliz do mundo ao seu lado.

Ela me olhou e se levantou levando a taça para a pia, eu me aproximei dela e pressionei o meu corpo contra o seu encurralando-a no armário da cozinha.

— O meu lugar é ao seu lado, eu não tenho dúvidas disso. Eu amo você como nunca amei ninguém.

Nos olhamos por algum tempo, eu a beijei com vontade, toquei em sua nuca deslizando os dedos para os seus cabelos molhados e senti suas mãos ansiosas apertarem o meu corpo contra o seu, ouvi o meu celular tocar e ela me olhou nos olhos.

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