Por favor, não me ignore

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Flávio não me ligou, talvez ele ainda não tenha conseguido contato com a mãe, o que aumentava um pouco a minha ansiedade. Eu mal consegui tomar café ou almoçar naquele dia, até cogitei ligar para ele, mas não queria parecer afobada com a possibilidade de revê-la.

Quando eu estava desligando o computador no trabalho, vi que Flávio finalmente ligava, e quase deixei o aparelho cair das minhas mãos de nervosismo.

— Oi. — Disse ao atender.

— Amor, falei com minha mãe, mas ela é teimosa como uma mula empacada, e disse que não queria incomodar. — Meu coração parecia sair pela boca. — Obrigada por sua disponibilidade, mas não vai ser preciso.

— Tudo bem, amor. — Disse um pouco decepcionada. — Como estão as coisas aí?

— Agora melhor, minhas primas estão mais calmas, a família também está chegando aos poucos. O enterro é amanhã pela manhã.

— Entendi. — Fiz uma pausa. — Se precisar de alguma coisa me liga.

— Está bem. Devo voltar amanhã com a dona Marta, te amo, qualquer coisa aviso.

— Tá... um beijo.

Ao mesmo tempo em que eu sentia um alívio gigantesco, eu me sentia estranha, eu queria vê-la? A razão com certeza, não, mas o coração gritava um grande e luminoso sim.

Uma angústia começava a me sufocar, de volta para casa eu não conseguia deixar de pensar um só segundo em tudo. Eu sei que ela está me ignorando, e fico feliz que ela consiga ser mais forte do que eu, pois eu já tentei esquecê-la, mas não consegui.

Eu não acho que estou apaixonada por ela como a Vanessa diz, é só que... eu não consigo explicar a atração que sinto quando vejo ela, quando penso nela, quando lembro de nós...

Aquela noite foi um pouco difícil para que eu conseguisse pegar no sono, eu me culpava por desejá-la, por pensar excessivamente, por não poder controlar meus desejos carnais.

— Dorme comigo. — Pediu Flávio na ligação avisando que estava voltando para a cidade. — Estou precisando de você.

— Que horas vocês chegam? Assim que eu sair do trabalho vou para sua casa.

— Estou indo sozinho, minha mãe resolveu ficar para ajudar com algumas coisas. Estou na metade do caminho.

— Está bem, beijo, amor.

Assim que o expediente acabou, fui até a minha casa pegar minhas coisas. Flávio estava bem, conversamos um pouco sobre o acontecido, enquanto eu preparava o nosso jantar. Jantamos, assistimos um filme longo, e ele dormiu ainda antes do filme acabar.

Eu abri os olhos devagar, senti um cheiro gostoso de café e me sentei na cama, entrei no banho, coloquei uma calcinha e uma camiseta e saí do quarto.

Olhei para Marta que estava de costas para mim, com o pensamento longe, e senti meu corpo quase travar. Ela tinha uma postura impecável, ombros finos alinhados, eu não entendia como podia existir tanta perfeição.

— Bom dia. — Disse ela ao perceber que eu estava ali parada, encarando-a.

— Bom dia, Marta. E o Flávio?

— Saiu para resolver alguma coisa do trabalho. — Disse virando novamente de costas.

Eu fui para o quarto e me vesti, coloquei uma calça e meu sutiã e uma camiseta, alcançando meus tênis. Eu sei que a Marta não podia ir embora e fugir da casa de seu filho, mas eu podia, e devia, pois sei que ela está me evitando, e ir embora é o mínimo que posso fazer para colaborar.

Por acaso Où les histoires vivent. Découvrez maintenant