Atraida pelo perigo

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Depois de muita insistência, ficamos do lado de fora da casa tomando cervejas geladas enquanto conversávamos montando um quebra cabeça de quinhentas peças.

— Eu amo montar quebra cabeça. — Confessou ela acendendo um cigarro. — Você fuma?

— Não. — Respondi olhando para ela.

— Meu pai me deu o meu primeiro quebra cabeça quando eu tinha seis anos. Desde então eu sou apaixonada.

— Eu não levo muito jeito. — Confessei bebericando minha cerveja. — Mas posso tentar.

— Falta quanto tempo para você se formar, Mel? — Questionou concentrada separando as peças.

— Apenas alguns meses. — Estou na metade do meu projeto de conclusão.

— Posso falar com uma amiga se você quiser. — Ela pegou a minha cerveja e deu um gole errando a garrafa, mas eu nada disse. — Ela tem um escritório de arquitetura bem central, não sei quais são as perspectivas de crescimento na empresa que você está estagiando, mas minha amiga tem muito conhecimento na área, pode abrir muitas portas para você, tudo hoje em dia funciona a base de networking.

— Se puder...

— Segunda sem falta vou vê-la. — Disse ela começando a montar pelas bordas.

Por um momento pensei em questiona-lá se era o tipo de amiga com quem ela transa as vezes, mas isso não era da minha conta. Olhei o relógio dourado no meu pulso e já passava de meia noite, mas eu ainda estava sem sono, e ela aparentemente também.

— Tem uma cachaça maravilhosa aqui, quem faz é minha tia, vou trazer para você provar. — Ela sorriu colocando de lado mais duas garrafas que esvaziamos.

— É bom?

— Você prova e me diz.

— Não, Marta! Eu já bebi o suficiente. — Disse com as bochechas queimando de calor. — Eu dei lição de moral no seu filho, e vou fazer o mesmo que ele? — Ela sorriu e saiu me deixando sozinha.

A casa estava em completo silêncio, as estradas eram distantes dali, e não era possível ouvir nada além de grilos, sapos e outros sons da natureza. A noite estava quente, ou eu estava, não sei explicar, embora eu tivesse a leve impressão de que as coisas entre Marta e eu, estivessem tomando bons rumos, seria possível esquecer tudo o que aconteceu entre nós e termos uma boa relação de amizade?

— Aqui está. — Disse ela trazendo um copinho com uma dose pequena. — Prova.

— Se eu ficar bêbada vou colocar a culpa em você, esteja avisada.

— Eu assumo. — Disse ela se sentando e sorrindo, e aparentemente era o sorriso mais incrível que eu já vi na vida.

Ela se debruçou na mesa e não consegui disfarçar o olhar em seu decote, peguei a cachaça e virei de uma vez encarando-a que olhou para mim. Ela voltou a atenção para o quebra cabeça, olhando a imagem da caixa e conferindo as peças espalhadas.

— O que achou? — Eu olhei para os seus lábios e me senti quente, encarando as peças do quebra cabeça.

— Gostei. — Me limitei a dizer um pouco tonta.

Ela sorriu e acendeu outro cigarro soltando a fumaça para cima. Encarei seus lábios avermelhados, suas bochechas coradas e suas unhas vermelhas, ela era linda. Seu rosto fino e assimétrico era harmonioso, ninguém em sã consciência daria a ela quarenta e cinco anos, ela arqueou a sobrancelha, talvez se dando conta do clima que surgiu em meio aquele silêncio cortante, eu deveria evitá-la, eu deveria estar com Flávio, com o meu noivo, mas inutilmente estou aqui, fissurada e encantada com essa mulher, a última mulher do mundo por quem eu poderia me interessar.

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