Por acaso

Revelações

Não foi uma conversa fácil explicar a eles tudo o que aconteceu comigo nas últimas semanas, minha mãe quase me bateu ao saber que eu me envolvi com a mãe do meu ex noivo, ela chorou muito e quase passou mal com minhas confissões, e se não fosse o meu pai, eu nem sei se eu ainda estaria aqui para contar história. Foi um assunto delicado, triste, e doloroso, ficamos conversando quase a tarde inteira de sábado até que tudo estivesse um pouco mais calmo.

Eu dormi no meu antigo quarto, e todas as minhas bonecas da infância ainda estavam como deixei. Minha cama de solteiro com o colchão um pouco desgastado pelo tempo, ironicamente era o local mais confortável que dormi nos meus últimos dias.

O cheiro do café fresquinho e pão caseiro, era revigorante. Tomei um banho antes de ir para a cozinha, tentando amenizar um pouco o olhar cansado.

Mamãe tinha um semblante triste, seus olhos estavam inchados o que me deixava claro que ela também chorou muito após a nossa conversa. Eu me aproximei abraçando-a e ela me encarou com um olhar que partiu o meu coração.

— Espero que um dia a senhora possa me perdoar, mãe. — Ela não respondeu, apenas assentiu, e eu teria paciência para que tudo pudesse se ajeitar.

Depois do almoço eu me despedi deles voltando para a minha casa, e poucas horas depois eu já estava decidindo o que jantar.

Vanessa queria me ver, mas pedi para ela me deixar um pouco sozinha, eu ainda precisava pensar em tudo, e colocar a cabeça no lugar.

Depois de quase dois meses, tudo estava mais calmo, eu acabei me mudando para um apartamento, trocando de número de telefone, e comprando um carro básico com minhas economias, o que me permitiria mais facilidade para estar indo até a casa dos meus pais com mais frequência.

Vanessa e Michele estavam oficialmente namorando, e agora moravam juntas. O que foi uma surpresa muito boa saber disso, elas são maravilhosas e formam um belo casal.

— Vou pedir uma pizza para nós. — Disse Michele se sentando no meu sofá depois de ter terminado de montar todos os meus móveis. — Vocês vão tomar o que?

— Cerveja. — Vanessa gritou da cozinha enquanto organizava as xícaras no armário.

— Eu quero uma Coca Cola bem gelada mesmo. — Disse encostada na parede recuperado o fôlego.

Ficamos juntas naquela noite conversando até tarde. Michele disse que ao que tudo indica, Marta voltou de Londres na última semana, e que todos comentam sobre o caso, assim como a decisão da Marta de proibir familiares na casa que era de seus pais, aparentemente, a briga em família foi generalizada.

Naquela manhã acordei bem disposta, eu fiz o meu café, e me arrumei colocando roupas quentes, indo para o escritório em seguida.

Marta estava na recepção a minha espera, trocamos olhares momentaneamente, e eu pensei que o nervosismo, me faria desmaiar aos seus pés.

— Melissa, podemos conversar? — Ela parecia calma, muito mais calma do que eu estava.

— Eu preciso trabalhar...

— Eu sei, a Raquel também sabe, ela disse que não se importaria. — Respirei fundo e assenti, saindo ao lado dela em direção a uma cafeteria do bairro.

O silêncio entre nós era incômodo, pessoas entravam e saíam a todo momento submersos a suas rotinas, eu mal conseguia olhar nos olhos dela, existiam coisas agora que eu jamais poderia falar com sinceridade, ela talvez não pudesse me compreender.

— Eu não quis te deixar aqui, e ir embora sem te dar explicações. — Começou ela e encarei minha xícara de café. — Eu tive um encontro problemático com Flávio, não consigo nem falar muito sobre o assunto porque ainda me faz muito mal, espero que eu possa te explicar com calma depois. — Ela tomou um gole de café e me olhou, e eu fiquei bastante nervosa. — Ele me processou.