3.Asas

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Abri meus olhos e visualizei Erick um pouco distante, porem sua espada próxima a minha jugular.

— Faça — falei. Ele encarou meus olhos e então se distanciou levando consigo a espada. — Por que desistiu? — tirei as agulhas que estavam perfuradas em minha pele. Levantei-me e foi em direção a Erick. Direcionei sua espada para meu peito, a lâmina afiada já cortando minhas mãos e falei. — Faça, não estarei perdendo nada.

Erick encarou suas próprias mãos que estava segurando firmemente o cabo da espada e então falou.

— Não posso.

Aproximei-me ainda mais de Erick fazendo com que a espada começasse a perfurar minha pele e falei.

— Mas eu posso.

Erick puxou a espada para si e disse.

— Zoe precisa de você viva.

— Eu a coloquei em risco não foi? — Erick assentiu. — Diga-me provocar minha morte não faria com que as moradas a perdoassem?

— Está bem longe de uma mera morte Alice. Zoe matou por você, ela abandonou a morada quando mais precisávamos dela.

— Por que a aceitaram de volta?

— Pois ela é nossa princesa, sempre esperamos por sua volta.

Senti que Erick tinha algum tipo de ressentimento.

— O que você é dela? — perguntei.

— Seu guardião — ele balançou a cabeça em negativo e se corrigiu. — Era seu guardião.

— Era?

— Por que você acha que ainda está viva, Alice?

— Pois sou sua nova guardiã — ele assentiu. — Onde Zoe está?

— Refeitório. Siga-me.

Erick abriu a porta e visualizei muitos guerreiros encarando-me, esses já seguravam suas espadas. Passamos pela multidão que se formava. Eu estava atenta a cada movimento deles, pronta para o ataque.

Chegando ao imenso refeitório visualizei Zoe em uma das mesas, ela olhava em minha direção. O refeitório era coberto, mas suas laterais eram abertas, podia sentir a brisa gelada tocando minha pele.

Sentei-me em sua frente e ela encarou minhas mãos que ainda estavam sujas de sangue.

— O que houve? — perguntou.

— Tentativa fracassada de morte — falei.

— Tentou se matar pelas mãos? — ela perguntou. — Isso está me parecendo cômico.

Encarei minha blusa que também estava manchada de sangue pelo corte que havia sido feito pela espada e depois encarei novamente Zoe que fitava a minha blusa.

— Alice — ela sussurrou. — Não ouse fazer isso novamente.

— Não fale como se você se importasse. Você escondeu de mim tudo o que você é. Como sei que tudo que passamos juntas não foi uma mentira?

Eu não estava fazendo drama como todos a nossa volta pareciam estar interpretando, sempre me importei com Zoe, sempre nos protegemos e nos cuidamos, nos tornamos como irmãs, sempre contando a verdade uma para outra, e pensar que as verdades sempre foram ditas apenas por mim.

Zoe não respondeu, parecia tentar criar uma nova historias para suas mentiras.]

Levantei-me e fui em direção ao gramado que me daria à liberdade para voar e sair desse lugar.

Abri minhas asas e voei em direção as nuvens ignorando o chamado de Zoe.

Eu precisava deixar Zoe, não apenas pelo fato de que estava magoada, mas por que Zoe jamais estaria segura comigo.

Não possuía força e o poder para mantê-la a salvo, eu apenas atrapalharia quem tem a capacidade de salvá-la.

Fui em direção a nossa antiga casa. Não tinha outro lugar para ir.

Quando estava quase chegando, senti algo perfurando meu ombro e atingindo minha asa, assim fazendo com que eu perdesse a força e caísse no meio da estrada. Por sorte não tinha nenhum humano na rua, a não ser os dois caçadores que se aproximaram de mim apontando a arma em direção a minha cabeça.

A bala que perfurou meu ombro tinha alguma magia que me deixou paralisada.

— Onde está Zoe? — perguntou um dos caçadores.

— Não sei — respondi com dificuldade.

— Vamos leva-la, quando souber Zoe vira atrás. — disse o outro caçador.

Ouvi outro disparo e então tudo escureceu.

***

Abri meus olhos e visualizei uma sala escura, tentei me movimentar, mas sem sucesso. Minhas mãos estavam estendidas para cima, as mãos como os pés estavam presos por correntes.

Movimentei minhas asas na tentativa de conseguir alguma força para sair dessas correntes, mas foi falha.

— Veja quem acordou — visualizei no meio ao escuro um homem se aproximando. Os cabelos loiros, seus braços cobertos por tatuagens tribais, ele segurava uma adaga, acariciou meu rosto e então disse. — Não se preocupe já estamos comunicando a todos que você está conosco. Logo Zoe saberá onde te encontrar — ele foi atrás de mim e encostou suas mãos em minhas asas, logo senti uma perfuração em minha pele. Ele cortava minhas asas.

— Não! — gritei. — Por favor, não.

— Você não vai mais precisar delas.

Ele foi a minha frente e sorrindo fincou a adaga em meu abdômen, depois me deu um murro na cara fazendo com que eu cuspisse sangue.

— Por favor, eu faço qualquer coisa — implorei.

— Fique quieta — ele foi novamente para trás de mim. — Ou melhor, grite de dor — passou novamente com força a adaga por minha pele arrancando as asas.

Minha visão começou a ficar turva com a imensa dor que sentia em toda parte de meu corpo, até que por fim minha cabeça tombou de lado e fraca meus olhos se abarcaram a escuridão. 

Criatura da NoiteWhere stories live. Discover now