4.Sol

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Minha vista estava embaçada, porém ainda assim pude visualizar logo a frente o caçador que havia arrancado minhas asas. Quando se aproximou, trouxe consigo uma pena em suas mãos, ele balançou em frente ao meu rosto mostrando que era minha. Respirei profundamente e pude sentir o cheiro de sangue.

— Solte-me — sussurrei, minha boca estava seca, não possui nem forças para xinga-lo.

— Estou esperando ansiosamente Zoe, quando ela chegar talvez você seja libertada, ou morrerá junto com ela.

Ouvi batidas e uma voz feminina chamou pelo caçador.

— Venha Diego, eles estão aqui.

— Vejamos que chegou a hora.

Ele deu as costas para mim, e saiu do local me deixando a sós.

Olhei para cima encarando meus braços que ainda estavam presos pelas correntes, forcei-os para baixo em uma tentativa falha de me soltar.

— Eu deveria ser mais forte que isso.

Forcei novamente meus braços, porém senti uma imensa dor a onde antes estavam minhas asas.

— Alice — ouvi meu nome, mas não identifiquei de onde vinha a voz. — Minha doce Alice.

Forcei meus olhos, e então o visualizei.

A mesma criatura que me tornara um demônio estava em minha frente. Não havia duvidas que era ele, as enormes asas e os olhos de um vermelho intenso.

— Ajude-me — pedi. — Foi você quem fez isso comigo, então ajude-me.

A criatura balançou a cabeça em afirmativo e encarou as correntes que logo estouraram, assim libertando-me. Ele pegou a adaga que ainda estava suja com meu sangue e estendeu para mim, assim que a paguei ele desapareceu.

Sem me questionar a recente presença, corri até encontrar a maçaneta em meio ao escuro e abri a porta, assim que meus olhos começaram a se acostumar com a claridade, comecei a caminha pelo corredor na esperança que eu encontrasse a saída.

Ouvi o barulho de tiro, e meu cabelo balançou com o vento que a bala fez ao passar pelo lado de meu rosto, havia um caçador em minha frente pronto para fazer o próximo disparo.

Joguei-me para o lado quando ele atirou, e lancei a adaga em sua direção acertando em cheio sua arma que caiu de suas mãos.

Acelerei meus passos e pulei em cima dele, antes que ele recuperasse sua arma.

O caçador conseguiu facilmente ficar sobre mim, e soqueou meu rosto, o empurrei com força para afasta-lo de mim, e recuperei a adaga que estava caída no chão, quando ele se aproximou para dar uma ajoelhada em meu estomago, eu agilmente finquei a adaga na região de seu coração.

Respirei profundamente para retomar o folego e voltar a correr pelos corredores.

Por fim visualizei aquele mesmo homem que antes me salvara na morada da lua, ele segurava uma enorme espada.

— Erick! — chamei.

Seus olhos cinzentos me visualizaram e então corri em sua direção, não faço ideia de como consegui forças para alcança-lo, assim que estava mais perto me joguei em seus braços. Ele soltou sua espada para conseguir me segurar, meus braços contornaram seu pescoço, e os dele se fecharam em volta de minha cintura.

— Suas asas? — perguntou.

— Erick — falei novamente seu nome, agora com a voz chorosa.

— Meus homens estão feridos, preciso que você aguente mais um pouco, pode fazer isso por mim? — respirei profundamente e assenti, ele sorriu e falou. — Vamos sair daqui Alice.

Erick entrelaçou suas mãos na minha e começamos a correr em direção a uma janela, fechei os olhos quando pulamos, quebramos o vidro da janela e os estilhaços caíram sobre nós.

— Recuar! — Erick gritou para os seus caçadores, e logo todos começaram a fugir.

Escutei mais tiros, mas não olhei para trás, apenas continuei seguindo os passos de Erick.

Quando nos distanciamos bastante da morada, Erick me puxou para seu colo e sugeriu.

— Estaremos em breve em casa Alice, enquanto isso feche os olhos e adormeça.

Antes mesmo de eu relutar, apaguei.

***

— Alice! — ouvi uma voz feminina gritar.

Abri meus olhos e visualizei Erick olhando-me, ainda estava em seu colo, observei em volta e sabia que estávamos entrando na morada da lua.

— Está tudo bem — Erick sussurrou.

— Alice! — novamente gritou a voz feminina, ergui minha cabeça para poder encarar de quem vinha a voz, e então notei que era Zoe.

— Estou bem, posso andar — falei para Erick. Ele assentiu e me ajudou a ficar em pé, mas seus braços em volta de minha cintura.

Zoe correu em minha direção e me abraçou.

— Você me deixou tão preocupada — Zoe se afastou e olhando para Erick agradeceu por ter me salvado. — Agora a leve para a enfermaria.

Erick andava lentamente para me acompanhar, sempre me olhando com medo que a qualquer momento eu pudesse desmaiar.

Assim que chegamos na enfermaria, deitei-me na cama e Erick sentou-se ao lado segurando uma de minhas mãos.

— Obrigada — agradeci.

— Se for para morrer, tem que ser pelos caçadores da lua e não do sol.

Eu dei uma gargalhada e falei.

— Essa é sua tentativa de ser carinhoso.

Ele sorriu.

— Tento melhorar a cada dia — voltou a ficar sério antes de perguntar. — E suas asas, elas vão voltar a nascer?

— Não sei, nunca experimentei arranca-las.

— O que eles fizeram com você?

— Me prenderam, perfuraram minha pele e arrancaram minhas asas.

— Como conseguiu sair?

— Consegui quebrar as correntes — menti. Não podia simplesmente falar que o mesmo demônio que me transformara havia me salvo.

— Sinto muito por demorarmos a chegar — ele segurou firmemente minhas mãos como se demonstrasse preocupação.

— O importante é que chegaram.

Erick levantou-se da cadeira, e então disse.

— Talvez haja como mudar o que você é.

Não o respondi, apenas fiquei o encarando.

Uma enfermeira abriu a porta, e antes de Erick sair, se aproximou de mim e sussurrou próximo aos meus ouvidos.

— Pela primeira vez parece que um demônio me conquistou.

Criatura da NoiteWhere stories live. Discover now