Sentiram minha falta? Quem é rabia, sempre retorna. Espero que ainda exista algum (a) rabia aqui para ler essa história. E, antes tarde do que nunca: pega fogo cabaré.
Recapitulando e contextualizando a memória de vocês: Ivy é a ex-namorada de Bianca e também a ex-melhor amiga de Rafaella (aquela que ela teve um caso quando adolescente). Rafaella pescou a informação desde que Ivy chegou ao Paris 6. Bianca não. ;)
Esse capítulo é dedicado a Júlia e a Nana - leitoras fiéis que esperaram muito por isso! Obrigada por tanto apoio, lindas.
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As luzes dançavam através das janelas do Paris 6, em reflexo da tempestade que assolava São Paulo. Os raios, luzidios, refletiam aos olhos esmeraldas de Rafaella, que permanecia absorta em pensamentos – enquanto fitava fixamente o celular.
Sem área. Sem sinal. Sem quaisquer chances de escapar dali, daquela jaula edificada em paredes verde-musgo e carmesim, onde sentia-se uma presa viva, que outrora fora devorada por duas leoas: Bianca e, sua ex-namorada, Ivy.
Será que Bianca já havia percebido? Essa era a única pergunta que pairava em sua mente, repetidas vezes, desde que Ivy adentrou no Paris 6. Será que Bianca havia percebido que Ivy, sua ex-namorada, também se relacionou com Rafaella?
A parte sã da mente de Kalimann captou o mínimo movimento da mineira, que se recostou à parede, serpentando um sorriso devasso e um olhar que passeava à mineira e à carioca.
— Não adianta tentar pedir um Uber, baby girl — o queixo direcionado à Rafaella. A voz fina como uma suave serpente. — Não há para onde correr, hm? Essa tempestade vai perdurar por horas.
A chuva grossa batendo aos vidros e o som abafado do restaurante transportou Rafaella ao passado. As suas mãos gélidas tocando o celular como um refúgio, como se a pressão dos seus dedos sobre a tela a prendesse à realidade.
Baby girl. Duas palavras. O apelido percorreu seu âmago, levando-a a um local íntimo, porém doloroso. Uma passagem de ida à adolescência, como um flashback agressivo que a empurrou sem qualquer permissão. Mais precisamente para aquela tarde do seu aniversário.
A tarde que se tornou o princípio do seu inferno particular. O primeiro quebrar de seu coração até então intocado. Até então imaculado.
*
A água morna da piscina abraçava as duas mineiras, acolhendo-as em seu segredo profano e íntimo. Um amor proibido, mas até então sólido. Como uma mordida na maçã proibida de Eva, seus corpos nus se entrelaçavam como raízes.
As pernas da mineira de cabelos pretos e olhos verdes envolvia a cintura de Kalimann. Seus dedos findavam a nuca arrepiada, puxando-a para si. As línguas em uma dança síncrona. A libido se misturando à água da piscina. Um arfar de deleite quando Ivy escorregou o lábio por entre o seu pescoço, e sussurrou ao pé do ouvido:
— Você é minha, baby girl. Só minha.
— Hoje e sempre — Rafaella respondeu sem hesitar.
Ivy gemeu em resposta e puxou o cabelo da castanha para trás, forçando-a a fitá-la aos olhos. Um olhar mútuo de desejo, em milésimos de segundos que pareceram horas.
— Não ouse sair. Não ouse fugir de mim.
— Nem se eu tentasse — Rafaella sorriu, sentindo-se desvanecer pelo toque quente de sua melhor amiga desbravando sua pele exposta.
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Sinestesia | Rabia
FanfictionRafaella (ou Lorena, como Bianca a conheceu) foi uma aparição passageira que, como uma tempestade de verão, tirou tudo do lugar, mas logo foi embora. "Sinestesia" está associada com a mistura de sensações relacionadas aos sentidos: tato, audição, ol...