Chefe

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Narrador P.O.V - Kalimann's Beauty, São Paulo.

Rafaella desaprendera, momentaneamente, como fazia para respirar. Os seus orbes verdes fitavam, vidrados, os olhos castanhos escuros de Bianca. A carioca permanecera em pé, com um sorriso congelado aos lábios, fitando a executiva de volta, em um entrave de olhares. Após um silêncio perenal de longos segundos, Manoela falou:

— Rafaella, a Gizelly precisa alinhar uma pendência contigo, não vai demorar. Com licença — a diretora de marketing direcionou o olhar para Bianca. — Em um instante voltamos, pode ficar à vontade. Sente-se, por favor. — Sorriu gentilmente e apontou a mão para a poltrona em frente à grande mesa de vidro.

— Claro, sem problemas. — Bianca sorriu de volta. — Estarei aguardando.

Atônita, Rafaella levantou o corpo em um sobressalto e apenas assentiu para Manoela, direcionando os passos apressados à porta da sala, sem sequer fitar a entrevistada, que agora acomodava-se confortavelmente na poltrona.

Manoela parou no corredor ao lado, puxando a amiga para perto de si.

— O que diabos está acontecendo aqui? — Sussurrou. — Aquela era... a Bianca, do Rio?

Rafaella sentia o seu corpo enrijecido como pedra e a respiração pesava. Passou as mãos no rosto e soltou o ar pela boca, numa tentativa de controlar os frenéticos batimentos cardíacos.

— Manu, eu não tenho absolutamente nada a ver com isso, mas sim, é ela. — a mineira sinalizou com o dedo para Manoela não falar, e ela o fez. — Eu vou verificar com o RH, mas Bianca deve ter se candidatado para a vaga de designer e passou pelas fases on-line, pois Marcela não faz ideia de quem ela é. — Rafaella pausou e olhou em súplica para a menor. — O que eu faço, amiga?

— Ok... — Manoela suspirou pesadamente. — Temos uma questão e tanto. Mas, primeiro de tudo — Cruzou os braços embaixo do peito. — Como você não analisou os currículos que pedi para Gizelly lhe entregar?

— Amiga — Rafaella mordeu o lábio inferior. — Eu detesto essa merda burocrática. Apenas confiei na opinião da Marcela, queria conhecer os candidatos sem pré-julgamentos.

— Rafa — a menor riu baixo e balançou a cabeça em negação. — Se ela chegou até a esse ponto, significa que é boa e passou por todas as etapas. Agora temos que dar a ela a chance de tentar, sejam lá quais forem as suas intenções. Não seria ético tirá-la da última fase apenas por vocês terem tido... algo. — Pigarreou. — Mas, se você quiser, posso fazê-lo sozinha. Você não precisa passar por isso agora.

— Não. — Rafaella respondeu com a voz firme. — Sou eu quem devo ter essa conversa com ela... Sozinha. Concordo com você, apesar de não sabermos quais são as intenções dela, temos que ser justas. Caso precise, eu te chamo, certo? Vou lá. — A mineira inspirou o ar e sorriu.

— Certo, trevo. Vai lá resolver essa bucha... Qualquer coisa você me chama que eu vou lá te salvar. Lembre-se de focar apenas no profissional. — A menor enfatizou, encorajando-a, e avistou a amiga voltar à toca do leão.

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Bianca P.O.V – Kalimann's Beauty, São Paulo.

— Acho que precisamos conversar. — Ouvi a voz aveludada, mas firme de Rafaella, atrás de mim. Senti o meu coração parar por meio segundo.

O perfume cítrico da mineira preencheu o ar quando ela fechou a porta e passou por mim, deixando um vestígio do seu sabor floral. Engoli à seco quando os seus olhos esverdeados, agora quase cobertos pelas pupilas dilatadas, pairaram fixos nos meus.

Sinestesia | RabiaWhere stories live. Discover now