Duas verdades, uma mentira.

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Bianca P.O.V – tarde da madrugada de domingo, Leblon.

Quando percebi o que tinha feito, já era tarde demais.

Que merda, Bianca. Que merda.

Deslizei minhas mãos sobre o rosto e cerrei os meus olhos com força, numa tentativa de diminuir o efeito do álcool, que me deixara entorpecida. Ou o que me deixou mole foi, na verdade, o aroma da pele exposta de Lorena que ainda pairava sobre meus lábios? Não sei. Só sei que eu estava definitivamente fora de mim.

Quando retomei a consciência, atravessei o recinto atrás da mineira, mas não a avistei nem na pista, nem parte externa do Deck. Desci até o primeiro andar, procurando o seu rosto em meio às poucas pessoas que sobraram na área do bar nessa hora da madrugada. Nada. Entrei no banheiro – todas as cabines abertas e vazias.

Com certeza ela foi embora.

O pensamento dela ter ido embora sem se despedir de mim e pior, sem eu sequer ter pego o número do seu celular, me apavorou. Não. Eu não podia ter fodido com tudo nesse nível.

Ela parecia estar retribuindo... eu pude sentir seus olhos ao meu corpo praticamente a noite toda. Ela estava tão à vontade, rindo praticamente por tudo. Quando selei seu pescoço, eu pude senti-la estremecer...

— Mas ela é hétero, Bianca, sua burra. — Falei para mim mesma em voz alta. — Sua burra.

Subi ao último andar, com o último resquício de esperança de encontrá-la. O ambiente tinha uma grande porta de correr, que estava fechada. Hesitei, mas resolvi abrir devagar, sem fazer barulho.

Sorri aliviada ao ver que ela estava lá, na mesma posição de quando eu a avistei pela primeira vez: em pé, com os cotovelos apoiados na madeira, e com os seus olhos voltados ao mar. O seu cabelo ainda estava impecavelmente intacto no rabo de cavalo.

Diferente do primeiro e do segundo andar, esse ambiente tinha uma grande parede de vidro que se estendia por toda a varanda. Dali, era possível ver toda a extensão da costa e as luzes da Cidade Maravilhosa pareciam estar mais brilhantes. Graças ao vidro, ali não ventava. Mas eu podia sentir meu corpo inteiro gelar.

A mineira não notou a minha presença e eu aproveitei para tomar coragem. 

Inspirei e soltei o ar. Fui em sua direção.

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Rafaella P.O.V – tarde da madrugada de domingo, Leblon.

— Duas verdades, uma mentira. — Escutei a voz de Bianca atrás de mim e pude sentir o meu corpo se enrijecer.

— Meu nome é Bianca. Não sou carioca. Eu estou louca para te beijar. — ela disse enfatizando a última frase.

Senti uma corrente de eletricidade passar pelo meu corpo ao ouvir a última frase que Bianca proferiu calmamente. Fechei os olhos, inspirei o ar tentando retomar o pingo de sanidade que ainda restava em mim.

Em vão.

Virei o meu corpo e me deparei com a carioca olhando fixamente para mim. Seu rosto era impassível, mas o seu olhar transparecia seriedade e luxúria. Foram milésimos de segundos em uma batalha silenciosa, num entrave de olhares.

Foda-se.

Aproximei-me dela e ela colou nossos corpos num movimento abrupto, me pegando de surpresa. Pude sentir os seus lábios irem de encontro aos meus e o meu corpo esquentou automaticamente. Abri a minha boca e senti a língua da carioca deslizar, encontrando-se com a minha.

Sinestesia | RabiaWhere stories live. Discover now