Devil's Smile

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Narrador P.O.V.

Metade de junho, Pinheiros, São Paulo.

Os ventos frios do prelúdio de inverno já banhavam as ruas de São Paulo e via-se o circular amontoado de pessoas agasalhadas, com passos apressados e olhos vidrados nos aparelhos eletrônicos. A grande selva de pedras deu boas-vindas à carioca, Bianca, e à baiana Mariana, com uma bela manhã fria e ensolarada.

— Eu nunca vou me conformar como esse lugar consegue ser frio. — Disse Mariana, esfregando as palmas das mãos.

— E eu nunca vou me conformar como você consegue me arrastar para os lugares mais aleatórios. Já sinto falta do meu mar.  — Bianca suspirou e tomou um gole do Mocha de chocolate branco do Starbucks. — Vamos? Está quase na hora.

— Para começo de conversa, foi você quem quis vir para cá. Não bota a culpa em mim. — Mariana deu de ombros. — Fica em paz que hoje não é entrevista com a diretoria. Rafaella não estará presente — enfatizou o nome da mineira, em provocação.

— Eu não estou preocupada em vê-la, Mariana. — Bianca revirou os olhos e bufou. — Isso não me incomoda mais. Estou aqui apenas pelo puta salário que eles têm a oferecer.

— Oh, claro. E eu não gosto de pinto. — Mariana rebateu, rindo, enquanto elas adentravam no imponente prédio da empresa Kalimann's Beauty.

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Bianca P.O.V - Empresa Kalimann's Beauty, Pinheiros.

— Senhorita? — Por gentileza, me acompanhe. A sua entrevista será a próxima.

Fui desperta do meu devaneio quando uma mulher de cabelos castanhos escuros, presos à um coque alto, me conduziu à uma grande e arejada sala no décimo andar. Podia-se ver todo o horizonte de São Paulo e seus emaranhados de prédios e arranha-céus através das amplas janelas de vidro. O ambiente era sofisticado, com tons de cimento queimado e móveis brancos e azuis marinho.

Observei alguns prêmios enfileirados em uma prateleira de madeira. "Melhor empresa para se trabalhar, 2019". "Inovação em sustentabilidade, 2018". "Empresa inclusiva, 2019".

— Obrigada, senhorita? — Perguntei enquanto apertei sua mão.

— Gizelly. Gizelly Bicalho. — ela respondeu com um sorriso sincero e pude reparar o quão bonita ela conseguia ser, vestida com uma camisa social azul bebê e uma saia social preta, justa às coxas.

— Bianca Andrade. Prazer — demorei um pouco mais a soltar a sua mão, e ela afastou dois passos para trás, um pouco sem graça.

— O RH virá daqui a alguns minutos, então fique à vontade! — ela gesticulava mostrando-me um sofá de couro e, ao lado, uma mesa com água, café e biscoitos. — Pode se servir e se precisar de algo é só me chamar.

— Obrigada, Gizelly.

Ela assentiu e me deixou sozinha na vasta sala. Pude finalmente respirar.

Sentia o meu estômago dar sinal de vida e minhas mãos suavam um pouco. Servi-me com um copo d'água e fitei a grande metrópole à minha frente. Diferente do Rio, aqui via-se prédios colados um ao outro, ao invés da natureza mesclada à arquitetura.

Não que eu me importasse com a paisagem, tampouco com a temperatura abaixo dos 20ºC, pois o que realmente pairava nos meus pensamentos era uma específica mulher cuja altura era 1,70, dona de cabelos castanhos claros e dos orbes mais verdes que eu já vi na vida.

Sinestesia | RabiaWhere stories live. Discover now