cinco

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            𝗥𝗘𝗧𝗜𝗥𝗢 𝗠𝗘𝗨 𝗦𝗢𝗕𝗥𝗘𝗧𝗨𝗗𝗢 𝗔𝗢 𝗘𝗡𝗧𝗥𝗔𝗥 no estabelecimento. Meri marcou de se encontrar comigo no Flagg's, um barzinho-barra-restaurante-barra-clube-noturno. O qual passou a ser o meu lugar favorito na 5° Avenida, logo nos primeiros meses em que me mudei para Nova Iorque. O Flagg's Pub veio muito bem a calhar numa noite em que eu havia extrapolado o conceito de estar na merda.

Foi quando conheci Raffe Flagg, o filho adotado do dono do bar. Era uma noite fresca de primavera e eu estava afogando as mágoas com whisky e coca quando Raffe se aproximou de fininho, do outro lado do balcão. Ele me encarou por um tempo, com um olhar meio esquisito. Meu lado egocêntrico já havia formulado um grande fora, para deixar bem claro que eu não estava interessada. Porém, Raffe mudou totalmente os meus planos no segundo em que abriu a boca. Ele sorriu cauteloso e, logo em seguida, se debruçou confortavelmente com os cotovelos sobre o balcão.

– Você estragou minha noite.

Quase cuspi a bebida na cara dele. Travei meu olhar nas suas íris escuras, quase tão negras quanto seu cabelo curto.

– Como é?

Ele ergueu um dos ombros, o que estava coberto pelo habitual pano de prato branco, displicente.

– Sabe o cara ruivo, ali atrás? – Nem precisei olhar. Eu já sabia a quem ele se referia. Muito possivelmente, meus quadris estariam com uma enorme cratera, de tanto que o sujeito me fuzilava com os olhos. – Não parou de olhar para cá, desde quando você e sua redoma depreciativa sentou o traseiro no banco do meu pub.

O homem parecia quase raivoso.

Aceno com a cabeça, lentamente. Que cara estranho. Como contratam gente assim hoje em dia? Espera aí... Franzo o cenho e pairo com a borda do copo de vidro a cinco milímetros da minha boca. É isso mesmo que ele acabou de insinuar? Pouso minha bebida sobre a superfície molhada do balcão, mais uma vez.

– Você está querendo dizer que eu estou impedindo seus clientes de se aproximarem – faço aspas no ar. –, por causa da minha redoma depreciativa?

Notei que os cantinhos de seus olhos — naturalmente cerrados — franziam sempre que ele segurava o riso. Isso estava começando a me irritar. Não era engraçado, não era para ninguém estar rindo de nada hoje. Porque isso é estar na merda.

Outro dar de ombros displicente da parte dele.

Não. Estou dizendo que pretendia que aquele cara fosse minha transa após o expediente. – o estranho abana a mão no ar, com floreio. – Até o momento de você chegar aqui no meu bar, com essa carranca e bunda enormes. Sua energia pesada confundiu o Dominic. Agora terei de lidar com isso sozinho, se é que me entende.

Fiquei sem saber o que dizer, os lábios entreabertos como um peixe fora d'água.

Ah.

– Ah.

Ele se recosta no balcão interno, o que ficava a pia e tudo o mais, e cruza os braços definidos sobre o peito.

– É, ah.

Semicerro as pálpebras em sua direção, quando deslumbro aqueles malditos sulcos se formando nos cantinhos de seus olhos. Aponto um dedo acusador para ele, um sorriso sacana sambando em um canto dos meus lábios.

Você está tirando uma com a minha cara.

O barman sorri pra valer dessa vez, exibindo uma fileira de dentes irritantemente alinhados para mim.

Sempre Foi Você #1 [REESCRITA]Where stories live. Discover now