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11 de janeiro de 2020

AGORA







𝗗𝗘𝗠𝗢𝗥𝗢 𝗨𝗠 𝗧𝗘𝗠𝗣𝗢 𝗣𝗔𝗥𝗔 processar que o peso opressor sobre minha barriga era, na verdade, um braço.

Mordo o interior da bochecha com força, como se isso fosse me impedir de resmungar. Não é o que acontece, claro. Eu resmungo mesmo assim. Minha cabeça dói, minha boca está seca e minha garganta queima como se eu tivesse feito gargarejo com o enxofre do inferno e lascas de vidro. Bom dia pra você também, ressaca.

Tento sair do abraço sufocante daquele desconhecido, sem me preocupar nem um pouco em tentar ser delicada e não acordá-lo. Não me lembro exatamente quem ele é, mas já passou da hora de ir embora. Me irrita um pouco o fato dele estar se sentindo, aparentemente, tão confortável que sequer se remexe no colchão quando enfim salto da cama.

Solto um suspiro profundo. Preciso escolher melhor minhas companhias.

Perambulo até um dos cantos do meu quarto, próximo à cortina fechada da sacada, e pego minha calcinha marsala jogada de qualquer jeito no chão, ao lado do montinho que meu vestido longo formava. Solto um muxoxo.

– Só pode ser brincadeira.

Encaro furiosa o cara deitado de costas para mim.

– Olha só o que você fez, seu imbecil. Você acabou com uma Victoria's Secret exclusiva. – ergo o tecido minúsculo de renda, agora em frangalhos. Minha vontade é de estrangulá-lo com o que restou da minha peça única favorita. – Satisfeito? Pois eu não estou, nem um pouco.

Eu odiava como os homens se achavam no direito de simplesmente rasgar as porras das nossas roupas, calcinhas. Quem eles pensavam que eram? Um He-man sexy demais por destroçar renda fina? Pelo amor de Deus.

Abro os botões da camisa branca do dobro do meu tamanho, com certa agressividade. Ela era muito provavelmente do cara que ainda estava babando no meu travesseiro e também muito difícil de ser transformada em retalhos. Sim, eu tentei. Pesco um blusão aleatório de dentro da minha cômoda e começo a vesti-lo de qualquer jeito.

Paro em frente à minha cama com as mãos apoiadas na cintura. Faço uma análise do moreno enrolado em meus lençóis, inclinando levemente a cabeça para inspecionar melhor.

Ele era bonito, mas ainda estava babando na minha fronha mil fios e precisava sair.

Pego um travesseiro caído no chão aos meus pés e o lanço com destreza na figura. Ele ergue o corpo lustroso com desespero, olhando para todos os lados com os olhos escuros esbugalhados e a respiração entrecortada. Engulo uma risadinha.

– Bom dia, bela adormecida. – cantarolo, quando seu olhar recai sobre mim. Ok, ele é mais do que bonito e talvez eu tenha me dado bem na noite passada. Se ao menos eu começasse a me lembrar... – Já está na hora de você ir embora.

Confusão perpassa pelo seu rosto levemente inchado pelo sono — ou falta dele. Ao que parece, foi uma noite bem agitada.

– Meron? – Seja lá qual nome ele acabou de dizer, soou como uma pergunta.

Respiro fundo e começo a pegar suas roupas espalhadas pelo meu quarto, inclusive a camisa que eu tirara alguns poucos minutos atrás.

– Não, é Charlie. – lanço uma olhadela para ele e ergo um dos cantos dos lábios em um meio-sorriso. – Geralmente sou eu quem confunde os nomes aqui, cara. Mas vou deixar passar dessa vez.

Sempre Foi Você #1 [REESCRITA]Where stories live. Discover now