dois

758 72 41
                                    










– 𝗛𝗢𝗥𝗔 𝗥𝗨𝗜𝗠? – diz aquela voz, sem a menor emoção.

Isso não estava acontecendo. Nãoestavanãoestavanãoestava.

Não.

Estava.

Pisco uma vez, duas. E então repito o processo, mais forte. Torcendo para que fosse alguma alucinação remanescente dos muitos Gibsons que bebi noite passada. Mas não era, para o meu pavor. Aquilo — aquela pessoa — em pé com uma mochila nas costas e uma mala pequena de mão repousada no chão, na porta do meu apartamento, era muito real. Tão real que chegava a doer.

Engulo em seco e forço meu estômago a aguentar firme, ao mesmo tempo em que sinto todo o sangue do meu corpo sendo drenado no meu peito. Meu coração comprimia meus pulmões, era essa a sensação, de que eu estava sufocando e iria me romper. Fiquei paralisada pelo que pareceram horas, mas sei que foram apenas segundos arrastados. Então a raiva se manifestou, forte para caralho e impossível de ser ignorada. Me agarrei a ela.

Levantei-me em um rompante, do assento que permaneci imóvel durante os últimos três minutos, me sentindo completamente livre da ressaca. Não tiro meus olhos de Luke, quando digo:

– Meri, se importa de vir ao meu quarto?

Minha voz soava estranha até para mim, controladamente descontrolada.

Ela pigarreia. Sabe que estou transtornada.

– Hm, claro. Vamos. – não espero por ela e rodo nos calcanhares, praticamente marchando rumo ao meu quarto. Apenas escuto quando ela sussurra, para o irmão: – Pode ficar à vontade. Vou tentar voltar inteira.

Fecho a porta atrás de mim (com força) e aguardo minha amiga chegar depois dessa pequena demonstração de fúria.

Estou tão imersa em minha cabeça barulhenta, andando de um lado para o outro do quarto, que mal escuto o momento em que Meri adentra o cômodo.

– Você vai fazer um buraco no porcelanato desse jeito.

Envio um olhar atravessado em sua direção, e a vejo encostada com os braços atrás do corpo na porta fechada do meu quarto. Travo ainda mais o maxilar.

– Eu deveria fazer um buraco na sua cara, isso sim.

Diminuo o ritmo dos meus passos até parar de frente para Meri, mantendo uma distância segura.

– Eu sei que você tá puta. – ela começa, os braços estendidos à frente do corpo como se quisesse demonstrar estar desarmada. Legal, mas eu estava totalmente armada.

Desato a andar de um lado para o outro mais uma vez.

Puta? Meri, eu estou furiosa! – agarro meus cabelos com as mãos, como se eu pudesse arrancá-los e torno a parar. – Pode me explicar, pelo amor de todos os Santos, no que diabos você estava pensando? O que a porra do seu irmão gêmeo está fazendo aqui?

Seus ombros se desmoronam para dentro do corpo, o peso do mundo parecendo ter se acumulado bem ali naquele instante. Seus olhos fogem dos meus por um instante.

Sempre Foi Você #1 [REESCRITA]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora