Capítulo 2 - Meu mundinho

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O domingo amanheceu de um jeito diferente... Era o primeiro dia em que eu acordara sob os cuidados de outra pessoa, que não fosse a minha mãe, é claro. Agora pertencia a ela e aquele sentimento me deixava muito feliz.

Antes que eu pudesse chegar ao banheiro, meu celular tocou. Levei um pequeno susto, mas sabia quem podia estar ligando naquele momento.

— Bom dia! Tudo bem com o senhor?

Beth, do outro lado da linha, disse palavras que eu precisava ouvir para começar bem o dia.

— O dia começou muito bom! – respondi.

Ela deu risada e, com aquela voz doce que poderia me acalmar em qualquer situação, continuou:

— Ainda bem que seu dia começou assim, pois o meu também. Infelizmente, não sei se eu te disse ontem, mas terei que pajear meus tios que chegam logo.

Elizabeth não havia falado nada ou talvez tivesse esquecido. Senti uma ponta de arrependimento em sua voz. Claro, ela não queria estar lá e sim comigo, contudo, não escondi minha decepção ao responder. Ela sabia como eu me sentia naquele momento.

— Tudo bem minha linda! Não vou sumir não. Ficarei em casa para arrumar umas coisas e fazer meu Fusca funcionar de vez. Logo vamos passear com ele.

Nesse momento, me lembrei de que havia uma loja de autopeças em São Vicente, que abria também aos domingos. Pronto! Poderia finalmente colocá-lo para andar. Aquilo me animou, mas também a ela, que respondeu:

— Sim, será ótimo! Como eu disse ontem, você é meu guia por este mundo. Me leve até onde nós possamos ir. Eu, você e ele (o Fusca), formaremos um trio inseparável.

— É claro meu doce. Passaremos momentos maravilhosos a bordo do meu "bólido".

Notei a risada dela e completei:

— Mas, você terá de me ajudar com ele, viu?

Rimos. Ela sabia bem que o Fusca era um carro antigo, fadado sempre a problemas. Seu pai possuía um Chevrolet Opala 1973, dissera ela.

— Vou deixar você agora, pois parece que eles chegaram.

Ela falava de William, outro dos "britânicos", mas não consegui responder. Elizabeth me animou:

— Não se preocupe. Eles não devem ficar até muito tarde. Aí, quando forem embora, eu ligo para você e saímos ainda hoje. Quero muito estar com você!

— Sim meu amor, vamos sair com certeza. Se ele não pegar, vamos do jeito que nos encontramos.

— Então tá. Um milhão de beijos! Muitos beijos! Até daqui a pouco!

— Para você, uma infinidade de beijos minha linda! Até...

Ela riu e desligou. Bom, agora eu tinha uma missão: limpar a casa, tarefa fácil, pois, eu sempre fora organizado. Além disso, precisava ainda ir até a loja e comprar a peça do Fusca.

Assim o fiz e, nesse meio tempo, minha mãe ligou. Falamos brevemente, mas eu não tinha intenção de subir o morro, não naquele dia. Enquanto ainda dava uma "geral" rápida em casa, ouvi uma música vinda da casa da frente.

Estranhei o estilo. Romântica? Só podia ser a dona Letícia, uma "senhora" de 45 anos. Morena, ela era bonita, mais até que a filha, Amanda. Seus olhos castanhos claros devem ter afetado demais seu Moacir há alguns anos... Achei graça nesse pensamento meu, mas, obviamente eu poderia estar certo disso.

Contudo, o som não vinha da cozinha, onde geralmente ela ficava e nem da sala. Pelo tempo que eu morava ali, sabia exatamente de onde saíam os sons, mas este vinha do quarto de Amanda.

O que ela viu em mim? - Volume 1Where stories live. Discover now