Capítulo 16 - Ana Maria

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A partir do meu casamento pensei que tudo ficaria bem. Amanda me amava e eu, gradualmente, ia aprendendo a amá-la também. Ela engravidara após um ano e fora do nosso filho, Fábio, que nascera em 2005. Garoto grande e forte, parecido com a mãe.

Lembrei-me de brincar com Kelly e Kátia, pois as duas também tiveram filhos por volta da mesma época e dizia que a cegonha vinha de plataforma, uma referência ao tipo de caminhão que leva carros em cima.

John fora o primeiro que nascera, sendo meu sobrinho, filho de Rogério e Kátia. Nessa época, por pressão da minha mãe e talvez motivado pela paternidade, meu irmão voltou a falar comigo, mas não era o mesmo de antes.

Fora mais de dois anos após o episódio que acabara com minha vida. Minha antiga vida se fora, mas nascera uma nova e essa era materializada em Fábio. Por último, porém, não menos importante que os demais, veio ao mundo William. O "caçula" do trio era filho de Kelly e Mark.

Kelly e Mark casaram em maio de 2004, mas eu não pude ir ao casamento. O motivo? Ela... Elizabeth veio da Inglaterra para a ocasião e Amanda achou prudente evitar tal encontro. Concordei. Precisava evitá-la, mas fiquei triste em não comparecer. O casal também se entristeceu, mas compreendeu.

Depois que Fabinho nasceu, o meu estado mental piorou. Tentei me esforçar para suportar os momentos de depressão e um dia quase o deixei cair ao chão. Os pensamentos suicidas vinham de um vazio que eu não deveria sentir.

Quando ele completou um ano, decidi sair de casa. Eu havia me tornado uma ameaça para ele. Pensei que, numa recaída ou num choro não consolado, eu poderia fazer algo ruim a ele.

Amanda sofreu muito, mas também concordara que eu poderia piorar de vez e prejudicar o Fabinho em uma ação suicida. Pensei em me internar numa clínica, mas já passara por uma e acreditei que não adiantaria nada. Gregório, meu chefe, ficou com pena de mim.

Então, me emprestou o trailer do camping, em Bertioga. Eu passaria então a morar naquela cidade um pouco mais distante. Tive que sair do emprego, mas iria fazer algum "bico" em meu novo lar, junto à praia. O isolamento, inicialmente, foi tortuoso, mas estranhamente, diante daquele mar, contive meus impulsos.

Amanda regularmente ia me visitar e levava Fabinho para ficar comigo. Esses momentos eram de pura alegria! Rolávamos na areia, entravamos no mar e construímos muitos castelos de areia.

Contei muitas histórias na fogueira que acendia à noite. Dava banho nele, trocava fralda e o botava para dormir. Amanda sempre ficava de olho em mim e, em algumas dessas visitas, acabamos dormindo juntos. No entanto, o mal que se escondia no meu interior sempre aparecia para estragar tudo.

Aprendi a fazer artesanato e isso me ajudou a combater a depressão. Eu vendia tudo na praia e era uma boa terapia. Todos os dias e em horas variadas, Amanda ligava para "monitorar" meu estado e já fizera até amizade com a vizinha de outro trailer, mas no intuito de me vigiar.

Porém, um dia algo mudara minha rotina. Ao atender uma ligação, percebi ser Kelly, mas ela estava chorando.

— Alô? – questionei.

Não obtendo resposta, insisti:

— Kelly, o que foi? Por que está chorando?

Do outro lado, a agora mãe ruiva, disse:

— Regi, eu não tenho boas notícias...

Meu coração congelou! Imediatamente pensei nela, na minha amada e deixei escapar:

— Elizabeth...

Kelly me corrigira, tentando falar:

— Ana Maria. Ela se foi Regi...

O que ela viu em mim? - Volume 1Onde histórias criam vida. Descubra agora