Parte 2.

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As luzes noturnas ganhavam vida à medida que a penumbra se levantava findando o dia. A brisa que acompanhava o início da noite em San Juan enchia as narinas com o cheiro salobro característico, tão morna como um banho de mar no momento em que o sol está à pino no céu.

Algumas pessoas transitavam despreocupadas por Calle Norzagaray, e as paredes vibrantes por trás dos postes agora iluminados haviam se tornado apenas uns borrões coloridos na visão periférica de Jungkook, enquanto este corria sem olhar para trás, preenchido por um leve pânico combinado com vergonha. Seu cérebro parecia ter entrado em um estado de dormência, e toda aparentemente toda sua lógica havia regredido a um estado de reação primitiva da infância.

Sentindo-se ofegante pela fuga repentina, ele diminuiu a velocidade de sua corrida, sentindo-se ofegante e embananado. Respirou fundo buscando todo oxigênio possível para acalmar seus pulmões, e em resposta fisiológica à oxigenação, seus neurônios ativando-se prestes a trabalhar devidamente pela primeira vez nos últimos minutos. O que diabos eu estou fazendo?

Jungkook olhou ao redor notando que ao menos havia disparado na direção certa, e o local parecia conhecido em sua vaga memória, apesar de que a falta da luz diurna o deixa um pouco confuso. Olhando para sua direita, ele notou o muro pintado com a frase "esta "democracia" no la entendemos", que não fazia o menor sentindo para si, mas lhe atribuiu um conforto imediato, deixando a agitação se esvair com a certeza de que se aproximava de seu novo lar.

Atravessando a rua, caminhou rente ao muro, cujo não imaginava que estava repleto de palavras silenciadas, marcado pela única manifestação da prepotência do povo, expressa na forma graciosa da arte. Mas aquele detalhe era mais um dos tantos outros que Jungkook não enxergava, apenas mais uma das pequenas grandes coisas empurradas para longe de seu psiquê.

Ao fim, a volta para casa foi finalizada em calmaria, Jungkook desceu a rua principal em passos largos, mas tranquilos, suas engrenagens mentais ainda tentando encaixar cada peça do ocorrido. Por que eu corri? Eu não fiz nada demais, então, porque? Eu sou bobo?

Ele dobrou a esquina da rua que agora, lentamente, se tornava conhecida, mas ainda assim não lhe era familiar. Parou em frente à porta dupla tentando ao máximo se recompor, as mãos correram pelos cabelos cereja os empurrando para longe da testa, a bainha da camisa servindo para enxugar os resquícios de suor quando ele entrava na casa.

- Mãe, pai, estou em casa.

A sala iluminada apenas pela claridade vinda da televisão parecia aconchegante e acolhedora, o noticiário atuando como um ruído de fundo que complementava o ambiente de uma maneira positiva. Jungkook caminhou em direção a cozinha, a garganta seca reflexo da desidratação causadas pelo calor e pelas horas a fio debaixo do sol da tarde.

Ao alcançar o cômodo se deparou com uma cena que aqueceu seu coração, seus pais preparando a mesa do jantar juntos, trocando sorrisos doces e caricías sutis, parecendo tão felizes e satisfeitos, tão cheios de amor. E então, invadido por um carinho imenso, ele sorriu, como se pudesse fazer qualquer coisa apenas para partilhar tanta felicidade novamente.

- Hey, o que tem para comer? – Jungkook cortou o espaço, abrindo a geladeira e agarrando uma garrafa de água.

- Filhote! Não vimos você chegar. – Seu pai bagunçou seus cabelos, quase fazendo-o engasgar. – Vai com calma, a água não vai fugir.

- Argh! – Jungkook tossiu.

- Hoje vamos comer arroz con habichuelas! – A voz animada de sua mãe fez Jungkook franzir o cenho.

- Arroz com o que?

- Con habichuelas. É um prato típico, peguei a receita na internet. Venham, vamos comer meninos. - Jungkook olhou para seu pai com uma cara questionadora, recebendo um olhar que lhe avisava que deveria ser gentil e aproveitar as coisas novas.

Baila Conmigo - JJK + PJMWhere stories live. Discover now