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Navie 456,263 Luz da Terra.



—bom dia Cíbel!

Deixo minhas coisas em cima da mesa e vou tirando o casaco, jogo sob o primeiro móvel que vejo pela frente, sei que estou atrasada, sei que deveria ter acordado mais cedo, sei também que se eu não entregar esses projetos, meu couro será arrancado pelo Sven, mas fazer o que?

—bom dia Senhorita Hielena, como gostaria do seu café?

—doce, obrigada.

Não posso dizer que sou a melhor no que eu faço, ainda conto com um sistema bem arcaico, mas funciona bem dentro do possível, ao menos dentro do que a minha mão de obra pode pagar.

Observo a cafeteira ligada jorrar um pouco de café em um copo de alumínio que acaba de ser colocado devidamente no local, a maioria das casas que visito costumam ter um sistema todo próprio, o conforto oferecido por nossos antepassados e toda a tecnologia que Navie dispõe para nós.

É uma pena que Navie oferece muito mais a quem tem mais coisas que tem a dar a ela do que a quem tem que basicamente morrer de trabalhar para ter alguma coisa dela. Dei o azar dos meus antepassados colonizadores serem relojoeiros e digamos assim, eu sou uma das raras, porque o tempo em Navie é uma coisa muito relativa.

Temos uma Lua e um sol, mas ao contrário do que os colonizadores faziam em nosso planeta natal, nós trabalhamos durante a noite e pelo dia, ficamos trancados dentro de casa, porque Navie é um dos planetas que mais estão próximos a este sol. É estranho pensar em trabalhar de dia, a menos que eu queira morrer queimada ou adquirir alguma doença referente a radiação, aqui embaixo é tudo bem complexo nesse sentido.

—atrasada!—escuto a voz firme de Sven soando no escritório.

—minha bicicleta quebrou—praguejo.

—foda-se sua bicicleta Hielena, temos muita coisa a fazer aqui.

Sven é tecnicamente meu patrão, mas ele sabe que no final das contas, precisa muito mais de mim do que eu dele. Ele pega o copo de café antes que eu consiga me aproximar da máquina, abro minha maleta que costuma ficar em minha mesa e começo a pegar os relógios que tenho consertar no dia de hoje.

—o de Butler já está pronto?—indaga Sven indo para sua mesa.

—finalizando—respondo.

É difícil imaginar uma figura enigmática e mal humorada como Sven Sharper Comodoro Smith, lendo algo diferente de um jornal pela manhã, mas não usamos papel a cerca de 7.000 anos, desde que nossos colonizadores descobriram que isso poderia destruir nosso ecossistema nas épocas de queimada, nenhum, utilizamos papel em coisas bem necessárias e indispensáveis e eles costumam ficar sempre guardados em locais subterrâneos e revestidos por cofres de titânio.

Sven liga o holograma e começa a ler as notícias da noite, tento manter meus olhos no meu trabalho, pelo que soube a ministra enfim conseguiu uma pretendente para ele, sei que daqui há alguns meses terei provavelmente uma "patroa" por aqui.

Eu não gosto de pensar que ele vai se casar, mas afinal de contas, tenho 21 anos, em algum momento também serei chamada para o abate, já consegui me formar e estou a cerca de meses adiando minha ida ao magistrado, sei que tenho ainda alguns meses até conseguir pensar em me casar, a data limite é aos 22 anos, que é a idade na qual o magistrado costuma enviar uma intimação para que nos apresentemos.

EvergreenWhere stories live. Discover now