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Uma carruagem foi nos buscar no ponto final de chegada, estava tão cansada que adormeci por boa parte do caminho até chegar aqui, agora anoiteceu e escuto o som dos animais cavalgando por ruas que sei que são asfaltadas, não têm janelas e não possui nada além de uma porta que foi completamente fechada deixando o ambiente escuro.

Imagino que tenham feito isso com o intuito de não permitirem que alguém soubesse que chegamos a cidade, ainda não sei exatamente onde fica, não quis conversar, não senti vontade alguma de ficar tentando compreender, agora em minha mente só me vem pequenos traços do que eu poderei fazer para escapar dessa situação.

Isso incluirá talvez uma pequena fuga, nem que seja para a casa de algum parente que more bem longe, ainda não sei, mas quero poder me afastar disso tudo e seguir com o meu caminho, com ou sem casamento, com ou sem bebê, por sorte se eu tiver que ser mãe de um Oráculo que seja com qualquer um exceto com esse mentiroso.

Farei com que ele lamente por ter me enganado.

A carruagem para e Virgo se move na carruagem, logo a porta é aberta por ele e vejo os focos de luz vindos do lado de fora, ele sai primeiro e estende a mão, arrumo minha bolsa no ombro e saio sozinha, olho em volta e escondo meu espanto por estarmos diante de um jardim imenso com gramado verde, um caminho de pedras que dá para uma escadaria cheia de degraus, assim logo daqui vejo esse palácio imenso e sinto-me de alguma forma intimidada.

— Bem-vinda a Sonora — Virgo diz com certa satisfação no tom de voz.

— Obrigada — respondo.

— Esta será a sua nova casa — explica ele me oferecendo o braço.

Aceito porque sei que se parecer arisca demais logo de cara em algum momento meu plano poderá ser arruinado, quero sair daqui no máximo em três dias, não pretendo ficar e acatar as ordens daquela mulher tão pouco suportar mais mentiras vindas dele. Caminhamos de braços dados seguindo pelo caminho de pedras, tão logo vamos nos aproximando dos degraus da entrada do lugar vejo que ao menos quatro pessoas com uniformes iguais de cor azul saem para fora.

Ele não precisa dizer que está feliz de estar aqui, sei que Sonora é uma das maiores cidades dos estados do Sul, que aqui eles têm essa grama sintética e que usam esses escudos para poderem desfrutar de dias mais frescos bem protegidos dos raios da radiação, nada que se compare a terra batida da minha antiga cidade e ao fato de ficarmos confinados dentro de nossas casas por dias inteiros.

É que aqui eles priorizam a força do trabalho e que a cidade funciona por todos os dias sem interrupções, nunca para, logicamente porque têm suporte e disponibilidade do Estado para que suas verbas sejam investidas nessas estufas enormes que os protegem de tudo e todos.

Conforme vamos subindo os degraus vejo Azula Manuel parada bem mais adiante perto da porta enorme aberta, ela usa um vestido de tons pastéis e sapatos da mesma cor, está usando tranças longas com fitas de tecido nelas e uma echarpe em volta de seus ombros, toda a elegância distribuída em sua postura, queixo erguido, olhos cobertos de confiança.

Os funcionários são compostos de duas mulheres e dois homens, todos mantém cabeças raspadas e não possuem sobrancelhas, algo mais próximo do que tenho vivido desde muito pequena, mas todos eles carregam nos olhos pontas de felicidade, um deles inclusive tenho a impressão de que sorri para Virgo, um rapaz da minha cor e que tem porte atlético e alto.

Nada colorido, nada que lembre as roupas que mamãe costurou alguns anos para nós, obviamente que não esperava também que ele tivesse irmãos tão diferentes dele, contudo, com a família tão miscigenada que tenho me parece quase impossível me sentir diferente disto.

EvergreenWhere stories live. Discover now