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—tente sorrir ao menos!

—isso não vai acontecer Ministro.

Não sei se poderia sorrir depois dessa tarde difícil, ainda mais para uma completa desconhecida, mesmo consciente de que terei de lidar com ela por um bom tempo, acho que foi bem assim que mamãe se sentiu ao conhecer a minha avó, ao passar por todo esse ritual, ainda estou meio tonta e todas as apresentações e formalidades me deixaram extremamente cansada, agora estamos voltando para casa, minha mãe não para de falar enquanto sempre que olho para trás vejo os olhares da mãe dele para mim.

A vontade que eu tive a todo momento desde que saímos da tenda foi de sair correndo para longe dali, não é fácil saber no mesmo dia que irá se casar, logo em seguida passar por um ritual desse porte e estar basicamente noiva, resta agora a celebração que acredito que será onde ambas as famílias estarão reunidas, dentro de 61 dias estarei casada com o Ministro Virgo.

Papai conversa sobre suas plantações com o bisavô dele, eles vem mais atrás e devagar, é complexo demais andar nas ruas onde cresci e ver que as pessoas me olham, que sou o centro das atenções e odeio isso, acho que meus pais estão tão felizes que mal notam o quanto as pessoas da vizinhança estão chocadas com o fato de estarmos andando junto de pessoas com tal relevância em toda a Navie.

Os ministros tem uma vida muito pública, eles tem tudo exposto desde suas nomeações até mesmo notas e honrarias que adquirem na vida, em cada estado tem um mural com fotos de todos os ministros que servem a cada lugar, eles são reconhecidos por usar capas pretas e é justamente por isso que as pessoas enxergam neles toda essa grandeza, um ministro tem uma função muito fundamental em nossa sociedade, os primeiros ministros se tornaram uma espécie de lendas para toda a população, porque foram os sobreviventes da guerra, os que resistiram a tudo.

—as pessoas estão olhando...

—se importa mais com o que as pessoas vejam do que com o meu bem estar? Por algum acaso se perguntou se me sinto bem?

O ministro me lança um olhar tenso, ele está agindo como meu pai quando quer me dar bronca, como um velho rabugento e reclamão, achei que no mínimo fosse ser mais educado, sei que ter seu segredo exposto diante de mim o constrangeu, mas isto não é motivo para que aja feito um homem estúpido.

Só estou cansada demais, parece impossível continuar a andar, ainda parece muito longe.

—sinto muito, também não gosto da situação, não há intuito de trata-la com descaso.

—muito obrigada.

O ministro me lembra aquela pose dos antigos soldados e generais da velha guarda, uma altura impressionante e forma aristocrata de ser algo que lembra proteção e postura, ele é um homem que parece tomar mais de dois banhos por dia e se manter sempre muito limpo.

Sei que porque tem tal posição ele disponibiliza de mais recursos do que nós e por mais que pareça injusto, sei que não é, alguns ministros trabalham por até três dias seguidos porque não são tantos e eles sempre tem muito trabalho, os Estados carecem de cuidados que somente pessoas que estudaram muito terão zelo em tomar decisões, porque afinal de contas, são pessoas, não queremos repetir os erros anteriores e dar sentenças erradas para as pessoas, acontece raramente, mas acontece.

Somos humanos, mesmo com tudo o que aconteceu ainda há aquele traço genético que nos prende a doenças mentais e padrões pre estabelecidos, extinguimos a fome de poder, mas não a vontade de tê-la, por isso soa meio injusto com pessoas de prole "inferior" porque o Estado Majoritário nem sempre tem condições de viabilizar o melhor tratamento para estas pessoas, muitas porque não aceitam o sistema, a outra maioria porque não consegue conciliar as coisas e acaba não colaborando com nada.

—você também não quer se casar não é?

—não é algo do qual planejei para agora, mas é o meu destino.

—quando eu tinha a sua idade também pensava da mesma forma.

—não precisa falar comigo como se eu fosse uma menina pequena, sou dona da minha razão e muito consciente.

—não é isso o que demonstra.

—o senhor também é um poço de demonstração de maturidade não é?

—fui pego de surpresa com a notícia, como acha que me sinto?

—frustrado.

—você tinha outros planos por esses próximos cinco meses?

—sempre há coisas que quero melhorar na minha vida.

—não achei muito oportuna a situação.

—não mesmo.

Respiro fundo, mas encontro um pouco de falta de ar e tosse. O ministro me segura pelos cotovelos e continuamos a andar, só quero poder chegar em casa logo, tirar essa pasta vermelha do meu corpo e descansar um pouco, sei que mereço.

—é o efeito da pasta, ela é feita com as folhas de chá que eu trouxe, é algo forte que trás fertilidade ao casal—explica ele.

—não sei se serei mais fértil, mas estou cansada.

—quer que eu a leve para sua residência?

—creio que vou dormir na casa dos meus pais.

—acredito que terei que procurar um lugar já que fui transferido para cá, daí poderemos ter visitas formais.

—sim.

Parece impossível ir contra, é como remar contra uma correnteza forte, algo que eu até iria querer por conta da água, mas sei que seria derrubada provavelmente.

—talvez se fizermos isto juntos, dê certo—o Ministro está bastante sério.

—é, quem sabe?

Há alguma outra opção?




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