Evergreen

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—o Ministro nos pediu que guardasse a notícia.

Mamãe quebra o silêncio, papai está cabisbaixo, seu bigode ruivo sendo alisado por dedos rechonchudos, os olhos azuis fixos em mim como se eu fosse um fantasma e eu sei porque, mesmo que odeie a ideia a raiva está passando e com isso me vem um peso enorme nos ombros, um peso do qual nunca carreguei na vida.

Pelo casamento, pelas palavras da anciã, mas também porque sei que absolutamente não estou pronta para isso.

Até alguns dias atrás estava fantasiando sobre a história do último Oráculo e rindo disso, o ser mitológico que surgiu com a chegada de humanos em nosso planeta, entretanto agora depois de ouvir tudo o que a Anciã disse, só começo a ficar apavorada com isso.

Meu pai está assustado e minha mãe está totalmente silenciosa, sei que ambos também não estavam prontos para esta notícia, meu coração ficou apertado enquanto saía do Palácio dos Ministérios, mas o retorno para casa a pé, é algo que realmente foi me trazendo certa paciência.

Ainda estou um pouco zangada, ainda estou chateada e inconformada, mas agora depois de ouvir o que a Anciã falou sobre mim, por mais que me negue a aceitar, sei que nunca poderia negar o fato de que vai acontecer.

—filha entende o que isso significa, não entende?—papai está sentado à mesa com um copo de chá de ervas entre as mãos.

Mamãe se senta ao lado dele e vejo sua pluralidade no jeito em que ambos poderiam ser definidos em nosso antigo tempo, eles denominavam as pessoas pela aparência e por sua cor, tamanhos, problemas físicos, meu pai é o que eles chamavam de ruivo e mamãe é o que eles chamavam de mulher negra, ambos tão diferentes fisicamente, mas que me acostumei a ver todos os dias desde que tenho minha primeira lembrança.

Isso me faz pensar em muitas coisas das quais nunca me questionei em toda a minha vida.

—Hielena, fale—mamãe ordena.

—vocês dois se amam?—pergunto criando coragem.

—não somos educados para o amor Hielena—mamãe responde tão sincera que isso me atravessa—mas eu desenvolvi muito carinho pelo seu pai e aprendi a ama-lo com o passar dos anos, mas se a pergunta é se nos apaixonamos de imediato, você sabe que não, raramente casais apaixonados se casam, o amor é uma coisa que só se adquire com o tempo, ninguém se casa por amor nos dias de hoje, o amor é algo conquistado.

—não é tão difícil quanto imagina estar casado—papai alega muito tranquilo e segura a mão da minha mãe sob a mesa.

—já tiveram pensamentos de traição?—vou aproveitar o momento.

—não sei se traição, mas há qualidades que eu sempre busquei em muitas pessoas que nunca encontrei no seu pai, isso não quer dizer que eu me sinta menos atraída por ele só quer dizer que ele e eu somos diferentes—os olhos dela se fixam em mim—Hielena o que está buscando acredite, é totalmente normal pensar, querer, desejar, ainda há dentro de nós uma força muito grande de possuir o livre arbítrio, de fazer escolhas quanto a isso, mas é algo do qual nunca poderemos mudar.

—nós também não nos conhecíamos e não nos cativamos de imediato—papai faz uma careta feia—ah isso não, esta mulher é difícil, como diria sua avó, sangue nos olhos.

Não queria rir, mas a cara que ele faz é impagável, mamãe lhe dá um beliscão no braço, eu sei que são muito companheiros, que são carinhosos conosco e um com o outro, mas sempre tive dúvidas de como as coisas aconteceram em dado momento para eles.