03 - Seja Luz

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Semanas conturbadas eram normais para as duas. Acordar cedo, chegar em casa tarde, trabalhar nos finais de semana. Elas tinham um envolvimento emocional muito grande com tudo que faziam, não conseguiam se entregar parcialmente. Resultado: a mente de Bianca só funcionava para BRB e BRH e Rafaella completamente entregue à história de Dona Francisca.

Os exames da senhora não eram nada bons. Marcela conseguiu montar uma equipe de médicos que não cobrariam pela cirurgia. Rafa e Bia iriam assumir os demais custos hospitalares e com a equipe de enfermagem. Thelminha seria a anestesista do caso e estava mais do que disposta a ajudar.

R: Só não sei ainda como a gente vai fazer com a neta dela, amor. - Comentou com Bianca enquanto tomavam café numa manhã de domingo. - A gente pode até colocar em alguma atividade no período que ela não estiver na escola, mas não resolve 100% porque de noite precisa de alguém, né.

B: Amor... - Pegou a mão esquerda dela e apertou de leve. - A gente contrata alguém pra ficar com ela. Eu sei o que você tá pensando, Rafa. Mas você vai fazer o que seu coração mandar e eu vou te apoiar. - Beijou os dedos dela. - Incondicionalmente.

R: É que eu nunca me envolvi tanto assim, Bi... - Nunca duvidou de que teria o apoio da esposa, mas sentiu-se aliviada por saber que a carioca a entendia sem precisar dizer nada. - Não sei, sabe?

B: Você tá com medo?

R: Medo? - Sentiu um nó na garganta.

B: Medo, amor... Medo de se apegar. Porque eu sei e você sabe, Rafa. - Esticou a mão para acariciar a bochecha dela. - Você vai se aproximar dessas duas e elas vão tomar conta do seu coração. A sementinha já tá aí, não é?

R: Ai, Bi... - Deixou um suspiro pesado sair e deixou o tronco bater no encosto da cadeira. - Meu único medo é isso acontecer sempre,sabe? Hoje, eu tô ajudando elas, mas e se for assim sempre? Se eu me apegar dessa forma sempre?

B: Rafinha... - Levantou da sua cadeira e se agachou na frente dela. - Faz o que o seu coração mandar. Você sempre confiou nele, agora não é a hora de parar.

R: Eu vou, amor. - Puxou Bianca para que ela sentasse em seu colo. - Obrigada por me tranquilizar.

B: Você sabe o que fazer, amor. Não hesite. - Pelo olhar, tentou passar a certeza e confiança que tinha dentro de si.

Terminaram de comer e Rafaella se arrumou para sair. Vestiu uma roupa simples, uma t-shirt por dentro da calça jeans e um tênis no pé. Naquele domingo, iria almoçar na casa de dona Francisca, a convite dela, para conhecer a neta, Luiza. Mas antes, foi encontrar com Marcela e Alessandra, na casa da médica.

M: Então, Rafa, assim que ela tiver alta, vai ter uma equipe de home care pra que o pós operatório seja bem tranquilo. - Repassou tudo para a mineira, que estava arcando com as contas.

A: Agora, Rafa... Sobre a Luiza. - Percebeu, pelo tom dela, que o assunto não seria tão simples de resolver. - Dona Francisca vai passar por uma cirurgia complexa, por mais que a gente esteja dando assistência, ela precisa se precaver em relação à neta.

R: Isso aí eu vou resolver também, Ale. Vou procurar uma pessoa de confiança pra ficar lá só cuidando da Luiza enquanto a dona Francisca estiver se recuperando. - Bianca estava certa, aquilo era o que precisava fazer para tranquilizar seu coração diante daquela situação toda.

A: Não é só isso, na verdade. - Respirou fundo e uniu as mãos sobre a mesa. - Ela precisa deixar a guarda da menina com alguém, caso...

R: O pior aconteça. - Completou, abaixando a cabeça e apertando a ponta do nariz com os dedos. - Ok. Eu e a Ma vamos almoçar com ela hoje. Vou conversar sobre isso, ver se tem algum parente, não sei.

DevagarinhoWhere stories live. Discover now