07 - Decisões

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R: Eu quero um filho, Bia.

A sensação daquelas palavras saindo de seus lábios era libertadora. Deu dois passos para trás e levou a mão à boca. De repente, o alívio virou uma náusea que tomou conta de seu corpo e ela saiu correndo para o banheiro. Não teve tempo de fechar a porta, logo sentiu as mãos de Bianca segurando seu cabelo e passando por sua testa, enquanto ela colocava tudo pra fora. Literalmente.

B: Calma, amor. - Tentou controlar a voz, mas temia ter pesado a mão quando insistiu naquela conversa. - Só respira.

Quando ela terminou de vomitar, a carioca abaixou a tampa do vaso e deu descarga. Rafaella continuava no chão, tentando respirar fundo e se acalmar, como a esposa tinha orientado. Depois de alguns minutos, teve certeza que o enjoo havia passado e levantou para lavar o rosto e a boca.

B: O que foi isso, Rafa? - Encostou na bancada, de frente para ela, enquanto acariciava suas costas.

R: Nervoso, eu acho. - Cuspiu na pia. Ela tinha as duas mãos apoiadas na pedra fria.

B: Desculpa, amor. - Apertou a ponte do nariz.

R: Desculpa pelo quê, Bia? - Virou o rosto na direção dela, sem entender.

B: Por ter te pressionado. - Acariciou a bochecha dela, que estava com a cara abatida. - Vamo. - Secou o rosto dela com a toalha de mão. - Vem tomar um banho.

Rafaella de fato não tinha como contestar. Toda a tensão que seu corpo havia acumulado desde o susto que levou com a chegada surpresa de Bianca saiu do seu corpo junto com o vômito. Então só lhe restava o cansaço. Físico e mental. Se deixou ser cuidada pela esposa durante o banho, era praticamente um ritual que tinham. Um banho quente, demorado e carinhoso sempre que uma das duas estava mal.

R: Obrigada por ter vindo. - Depois de vestir uma camiseta larga, abraçou a carioca.

B: Óbvio que eu viria, amor. - Passou os braços ao redor dela e deixou um beijo em seu ombro. - Vamo deitar?

R: Hoje você faz um carinho delicinha em mim? - sua voz manhosa estava abafada pela pele da empresária.

B: Com essa voz dengosinha assim... - Riu, porque era a única reação possível. - Até deixo vocês roubar minha fala.

R: Ainda bem que minha mulher não é egoísta. - Andou com ela, ainda abraçadas, até chegar na cama.

Bianca acomodou Rafaella em seus braços e ficou calada, fazendo carinho nela até sentir as lágrimas molharem seu pescoço. Deixaria que ela colocasse tudo para fora, não tinham condições nenhuma de continuar aquela conversa com ela naquele estado. Seria bom, também, para que a empresária pensasse sobre o assunto. Nada lhe doía mais do que ver a esposa sofrendo daquela forma.

Cada lágrima que caía dos olhos verdes, cada soluço que ela tentava segurar, era como se seu próprio coração estivesse sendo perfurado. Rafa era uma mulher maravilhosa e que já tinha aguentado muitas dores na vida. Bia não queria que ela tivesse que se privar da felicidade. Nunca mais. Quando casou com ela, fez uma promessa para si mesma, de que faria o impossível para ver sua mulher realizada. Bom, estava exatamente diante de uma situação daquela.

Rafaella sofria por algo que poderia ser alcançado. Ela sabia disso e sabia que Bianca sabia disso. Ter filhos era algo que estava nos planos do casal, a questão não era aquela. O que não estava nos planos delas, era ter filhos naquele momento, em que moravam em cidades diferentes, em que as carreiras exigiam delas, mas, o que doía mais na mineira, era saber que aquele era o momento de Bianca.

Ela via como a empresária estava se esforçando para elevar o nível de sua marca, expandir o máximo possível e tornar a sua visão real. A carioca lutava para ver seu sonho se tornar realidade. Se dividia entre duas cidades, por causa dela, da mulher que amava. Exigia ao máximo de sua equipe e, ainda por cima, dava conta das aulas de inglês.

DevagarinhoWhere stories live. Discover now