Plantação de Girassóis

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Ouvi o barulho das teclas enquanto o homem dos cabelos descoloridos discava, o aparelho era de um modelo antigo ainda com os botões com os números digitados. Eu encarava o celular que parecia pequeno em meio as mãos ásperas do sequestrador, ele me olhava fixamente enquanto eu permanecia no colchão conforme ele orientou, eu tremia sob a ameaça de que qualquer coisa inesperada que eu fizesse poderia desencadear a minha morte antes mesmo da ligação terminar. No viva-voz, chamou apenas uma vez e já ouvi meu pai atender perceptivelmente desesperado:

- Alô.

- Pai! - gritei por instinto sendo repreendida pelos sequestradores.

- Camilla, filha. Onde você tá? O que aconteceu? Filha... - o homem tirou o celular do viva-voz enquanto se afastava de mim sorrindo.

- Isso aí, é a sua filhinha - ele dizia as palavras devagar quase que apreciando meu desespero.

Eu comecei a chorar e o outro homem ainda com capuz fazia sinal de silêncio com uma das mãos enquanto a outra apontava a arma para mim. O dialogo ao telefone seguiu:

- É o seguinte, ela tá viva e por enquanto tá bem. Eu vou ligar de novo e passar as instruções. Se fizer tudo direitinho ela não se machuca, mas se ligar para polícia já sabe: acabo com ela - ele parou de falar e ouviu - Você tem 1 minuto - caminhou até mim aproximando o celular- papai quer falar com você - ele fingiu um beicinho.

- Pai, me tira daqui - falei soluçando - por favor, me tira daqui.

- Acabou o tempo.

O homem desligou o telefone antes que eu pudesse terminar e foi saindo do quarto enquanto eu ainda chorava. Minhas têmporas latejavam com o choro, eu já não sentia o chão sob mim. Desespero. Mais uma vez eu desejei que aquele pesadelo acabasse. Chorei como uma criança que se perde dos pais, até que adormeci outra vez naquele colchão mofado.

Quando acordei estava quase anoitecendo, a penumbra tomava conta do ambiente aos poucos, ao meu lado notei que a garrafa de água havia sido substituída por uma cheia e havia outro pacote pardo, abri e encontrei o pão murcho com mortadela. Comi rapidamente e tomei bons goles de água. Eu estava decidida a sair de lá o quanto antes, me levantei, fui em direção à porta e dei algumas pancadas até uma voz me responder.

- O que você quer, garota?

- Eu preciso ir ao banheiro - menti.

- Tá bom, vai pro colchão que eu vou abrir a porta.

Me afastei e aguardei, com a porta aberta eu andei devagar permitindo que ele me acompanhasse até o banheiro novamente, olhei em direção à, entrada e chequei se a corrente grossa estava na porta da frente do barracão. Entrei no banheiro, encostei a porta e subi silenciosamente no vaso sanitário, devagar comecei a puxar uma das tábuas e como eu suspeitava ela se soltou em minha mão com facilidade.


Fui retirando uma a uma das tábuas até abrir espaço suficiente para que eu passasse, escolhi uma mais resistente e usei como apoio entre a porta e o vaso dificultando que abrissem pelo lado de fora. Me esgueirei através da janela e consegui pular para fora emitindo apenas um leve baque quando toquei o chão, eu estava livre! Antes que pudessem perceber minha fuga, corri em direção à plantação que eu via da janela, me embrenhei em meio as plantas correndo o máximo que consegui sem olhar para trás, como eu suspeitava eram altas o suficiente para me cobrir, olhei para cima e com a pouca luz tentei decifrar que plantas eram aquelas: eram girassóis.

 Me esgueirei através da janela e consegui pular para fora emitindo apenas um leve baque quando toquei o chão, eu estava livre! Antes que pudessem perceber minha fuga, corri em direção à plantação que eu via da janela, me embrenhei em meio as plan...

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