Outro Lado da História

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Bernardo:

Era uma noite para comemorar, afinal a Cami tinha apresentado o último projeto prático do semestre. Nós tínhamos passado o fim de semana longe por conta disso e também por eu precisar gravar uma reportagem em outra cidade, mas hoje teríamos a noite toda para nós. Olhei meu celular e tinha uma mensagem dela avisando que estava a caminho, eu já estava ansioso em vê-la. Ainda não sei como essa garota fisgou meu coração assim de repente, mas a verdade é que eu era loucamente apaixonado por ela.

Digitei e apaguei umas três vezes o final da mensagem, eu já havia dito isso a ela várias vezes sem que ela ouvisse, a última foi no acampamento depois que ela dormiu. Na casa dela eu finalmente tomei coragem para dizer abertamente que a amo, mas os pais dela chegaram e ela não respondeu, talvez não esteja preparada. Eu devo insistir? E se ela se sentir pressionada? Por isso apaguei e escrevi mais de uma vez, até que resolvi mandar "melhor assim. Te amo".

Ela visualizou e novamente a resposta não veio. Era cedo demais para falar em amor?

Essa dúvida me corroeu até que começou a ficar tarde, realmente tarde. Já era para ela ter chego há um bom tempo. Mandei outra mensagem, mas não chegou, liguei e caiu direto na caixa postal. Será que foi o que eu falei? Não, isso era mais grave. Foi então que liguei para os pais dela e eles disseram que Camilla não tinha ido para casa, ela não estava com as amigas, ninguém sabia dela.

Desse momento em diante tudo é apenas um borrão para mim, atravessei a cidade em um piscar de olhos me dando conta disso apenas quando cheguei em frente ao portão da casa dela. Carlos estava indo para a faculdade porque a Nat encontrou o carro dela estacionado no mesmo lugar. Eu tive medo de perder ela, mas esse medo não era apenas o ciúme que eu não sabia evitar, Camilla estava realmente em perigo. Passei todos aqueles dias apenas rezando para que ela voltasse bem.

Os sequestradores fizeram contato na manhã seguinte, eu ouvi a voz dela gritando pelo pai e pedindo para tirar ela de lá. Eu quis fazer alguma coisa, mas o que? O que um merda como eu faria nessa situação? Era assim que eu me sentia, um merda incapaz de proteger a garota que ama. Então eu pude fazer, era eu quem deveria levar o dinheiro do resgate, eles mesmos pediram isso. Eu insisti que a polícia não fosse, eu tinha medo do que fariam com ela caso desse errado.

O ponto de encontro eu conhecia, parecia coincidência, mas isso não importava. Eu só queria ver a Cami. Foi tudo muito rápido, pelo menos na minha cabeça, ele pediu para deixar a mochila no chão e me afastar, ele a pegou enquanto Cami corria em minha direção, um tiro no pneu para evitar que seguíssemos ele. Não me importava. O que era um pneu furado quando eu podia abraçar ela novamente?

– Cami, amor. Você se machucou? – Perguntei vendo que ela havia caído.

– Não, – ela respondeu enquanto eu a levantava – e você? Ele atingiu você?

– Não, olha. Ele atirou no pneu – expliquei mostrando a camionete atrás de mim – Você tá bem?

Eu fiz uma varredura com os olhos e só vi alguns arranhões. O criminoso já havia entrado no carro e dava meia volta levando o dinheiro consigo.

– Cami, você tá de volta. Meu amor, você tá de volta! – Comemorei puxando ela para mim outra vez – Deixa eu te ajudar com isso aqui.

Desamarrei as cordas com delicadeza percebendo os punhos machucados, dessa vez ela quem me puxou para um abraço e eu fui do inferno ao céu sentindo seu corpo junto ao meu. Troquei o pneu e levei ela para casa, depois de um banho me ofereci para ficar ao seu lado enquanto ela dormia, assim eu poderia aliviar a saudade e a angústia desses dias terríveis, apoiei sua cabeça em meu peito e afaguei seus cabelos aproveitando a sensação de estar com ela outra vez.

Um Lugar para Nós DoisWhere stories live. Discover now