Capítulo 2

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Durante todo o voo, fiquei com os olhos grudados na janela do avião, deslumbrada por finalmente poder ver uma paisagem diferente das monótonas colinas de Âmbar. O mar estava mais azul, o céu mais bonito e o meu coração, muito mais leve.

— Essa jaqueta... não me lembrrro de... a sua mãe não gosta que a senhorr... que você use jeans — Louise falou, olhando por cima de seus óculos a peça amarrada à minha cintura.

— Não é minha mesmo — Fiz uma careta. — Nem em cem mil anos eu teria um gosto tão terrível para roupas. Só estou usando para tentar disfarçar a sujeira que aquele infeliz fez. — Balancei a cabeça em negativa. — Mas... quanto à mamãe... eu pretendo ir ao primeiro brechó e comprar um monte de roupas jeans, se quer saber — provoquei.

Pensando bem, eu deveria ter aceitado que aquele cara me comprasse um "vestido normal", para já começar a experimentar o meu novo estilo de vida,  mas não queria dá-lo o gostinho de pensar que podia consertar um prejuízo caríssimo de um jeito tão fácil. Eu não podia deixá-lo "vencer", porque ele daria um sorrisinho satisfeito e debochado. Mas a verdade era que eu nem gostava tanto daquele vestido. Mamãe é quem o tinha escolhido e comprado para mim. Mas a verdade é que eu me senti uns trinta anos mais velha ao vesti-lo.

O oceano abaixo de mim fazia eu me sentir infinita e pequena ao mesmo tempo. Era a mesma sensação que tive em relação as múltiplas possibilidades de ser simplesmente uma garota normal. Quando pousamos no San Juan Airport, os roncos de Louise já estavam me dando nos nervos e cortaram todo o meu clima onírico. Fiquei encarando a senhora de cabelos curtos e grisalhos, enquanto seus ombros magros subiam e desciam à medida que ela respirava. A francesa acordou assustada quando eu tossi bem alto, de propósito.

Chegamos à liberdade! — anunciei com um sorriso de orelha à orelha.

— Devo dizerrr a vossa... a você... que a rrrainha... a sua mãe... ela me deu orrrdens para que...

— Sim, sim. Eu sei — Revirei os olhos. — Mas eu ordeno que esqueça tudo isso, afinal, a senhora é minha assistente, não?

Eu sabia que a babá iria querer me controlar de toda forma, mas me comprometi a fazer de tudo para tornar sua tarefa o mais difícil possível, e nisso eu era muito boa.

No hall do aeroporto, esperando as nossas bagagens — que nós mesmas iríamos carregar, pois dispensei toda e qualquer regalia de princesa —, havia um mar de pessoas falando em espanhol, castelhano, inglês e um monte de outras línguas estrangeiras

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No hall do aeroporto, esperando as nossas bagagens — que nós mesmas iríamos carregar, pois dispensei toda e qualquer regalia de princesa —, havia um mar de pessoas falando em espanhol, castelhano, inglês e um monte de outras línguas estrangeiras. A pior parte de ser obrigada a aprender tantos idiomas, era conseguir entender o que cada pessoa estava dizendo, e aquilo era um tumulto muito grande para a minha mente, acostumada à vida pacata dentro daquele castelo de pedra, onde o meu único entretenimento era passar tardes inteiras na biblioteca do papai.

Não que nós não tivéssemos vários aparelhos de TV, pelo menos uns 15, espalhados pelos aposentos reais e quartos de hóspedes, além dos salões imensos de recreação onde havia outras dúzias delas. Na verdade, eu sempre preferi os livros, pois, não importava onde eu estivesse, era possível ir a qualquer outro mundo, usando simplesmente a minha imaginação. O meu lugar preferido para ler era debaixo daquele carvalho centenário, onde havia um banco de madeira, em um dos imensos jardins do Castelo Woodland, nossa residência oficial.

Não Muito PrincesaWhere stories live. Discover now