Capítulo 3

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O carro do tio dele não era nem um pouco parecido com a limusine real, era um Opala marrom. Eu gostei, pois apesar de cheirar a gasolina, era um veículo de pessoas normais.

— Não sei nem o seu nome — falei do banco do passageiro, enquanto o garoto focava seus olhos na rua de pedra-sabão.

— Você nunca me perguntou. — Sorriu. — Eu tenho cara de que nome? — Olhou-me de soslaio e depois voltou a prestar atenção na estrada.

Sir. Metido — devolvi seu desafio.

— Essa foi boa — Deu risada.

Estranho, ninguém em Woodland achava graça das minhas tiradas, porque eram "hostis demais para uma dama proferir".

— Mas que nome eu devo dizer quando a... vovó perguntar? — Era esquisito imaginar Louise como minha avó. Minha avó legítima, Hortênsia, a duquesa de Woodland, era totalmente diferente da minha babá. Enquanto Louise era só sorrisos, vovó Hortênsia era só reclamações. Ok, o meu pai herdou isso dela, e depois, euzinha herdei dele. A minha avó materna eu não conhecia, mamãe disse que ela vivia nas cadeias montanhosas do Chile. Teoricamente, a minha mãe é uma duquesa, não uma rainha (ainda que o povo ambense a considerasse assim), pois, embora pertença a uma rica e respeitada família, não vinha de nenhuma linhagem real. E agora ela fazia questão que eu me casasse com um "puro sangue azul"! Um pouco cômico, não?!

Mas chega de árvores genealógicas, por ora.

— Me chame de Daniel. — Seus olhos brilhavam sob a luz dos postes. A chuva estava muito mais amena. Os cabelos dele escorriam gotículas de quando ele me puxou pela mão de novo até o lado de fora da cabana — em sua lateral —, onde, sem muita areia, mas sim, um passeio de concreto, o veículo estava estacionado.

— Honrada, Daniel... não... quer dizer... honrada nada!Droga de fleuma!

Você. É. Hilária. — Riu balançando a cabeça. Ok, ele tinha certo charme e era um rapaz bonito. Os cabelos escuros, o sorriso genuíno e não por mera educação, o maxilar pronunciado, os ombros largos... mas, nem de longe, um cavalheiro. Era rústico demais em suas maneiras de se portar e muito debochado para o meu gosto.

— Eu também me sinto honrado, Lady... bem... qual o seu nome mesmo? — Tornou a me olhar de soslaio, enquanto seguia as coordenadas que eu tinha lhe dado até o chalezinho do Airbnb.

— É Valentina. Ou só Tina. Mas "lady" não. Nada disso. Só uma garota normal, só isso. — Não vi problema em revelar meu primeiro nome a ele, afinal, quantas Elisabeth's existem por aí e nem por isso são a rainha da Inglaterra. E, além disso, Âmbar não era muito conhecido como no caso do reino britânico. Como eu disse, nem no mapa nós constávamos. Ou seja, as probabilidades de Daniel me reconhecer eram praticamente nulas. Nem devia ao menos ter ouvido falar do Rei Felipe Carlos de Afonso Cortês IV, meu pai.

— Você não é "só uma garota normal". — Riu e eu estremeci na cruel expectativa de que ele fosse relevar a minha identidade, seja lá como tivesse descoberto — É inteligente... engraçada... metida pra caramba, e... linda. — Deu uma olhadinha para o meu lado para verificar se eu havia caído naquela baboseira. Mas eu já havia sacado o jogo dele, e era uma boa jogadora, vice-campeã de xadrez do campeonato da Corte. O meu pai era o campeão. Para variar.

Se eu havia ficado afetada? É óbvio que sim! Para alguém que nunca havia recebido um elogio sequer pelos meus atributos pessoais e não à fortuna no meu inventário, eu estava recebendo até demais daquele garoto. Mas ele não precisava saber disso, então, eu:

Não Muito PrincesaWhere stories live. Discover now