Capítulo 4

16 3 0
                                    

Louise e eu ficamos muito sonolentas e ela prometeu me contar o restante de sua história no dia seguinte. E eu ia garantir que minha babá cumprisse aquela promessa, pois além de ter me despertado muita curiosidade em saber o desfecho, me distraia dos últimos capítulos constrangedores da minha própria história.

Deus ouviu as minhas preces, e, depois de uma semana e meia de chuvas intensas, naquela manhã de quinta-feira, o sol deu-nos o ar da graça. Aproveitei a oportunidade para conhecer melhor o Balneario El Escambrón, a mesma praia na qual eu tinha tomado uma bela chuva naquela noite fatídica: aquele rapaz irritante... o meu primeiro beijo... quase mudei de ideia não fosse a lembrança de que o meu único mês de férias estava escorrendo por entre meus dedos e eu precisava aproveitá-lo ao máximo. Daria o meu melhor para ficar longe de confusões dali em diante.

A areia macia, o mar cristalino e de um azul turquesa tão vívido que parecia até uma miragem, o cheirinho da maresia

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

A areia macia, o mar cristalino e de um azul turquesa tão vívido que parecia até uma miragem, o cheirinho da maresia... "Louise teria gostado se tivesse aceitado vir comigo", pensei. Mas segundo ela, o sol intenso poderia lhe trazer problemas de pele, já que, com a idade, sua derme havia ficado muito mais sensível. Como fui abençoada com a melanina e como estava na flor da idade, juntei tudo o que precisava na sacola de praia — óculos de sol; protetor solar fator 60; duas tolhas; meu chapéu; meu par de chinelos; meu celular; scrunchies para prender meus cachinhos; uma canga; meu maiô; uma pequena boia em formato de flamingo; um vestidinho solto e um pequeno guarda-chuvas (para não precisar aceitar abrigo de "estranhos", se é que me entende...).

Sei que parece burrice viajar para um lugar pela primeira vez sem nenhum guia turístico, mas eu conhecia todos os idiomas que alguém poderia querer falar comigo ou para o caso de eu precisar pedir informações, e, além disso, forrei a canga perto de onde haviam policiais à paisana, para prevenir eventuais riscos. Eu não era tão ingênua quanto parecia, podia me virar bem sem meus pais ou a babá.

Louise não queria que eu fosse à praia sozinha, me indicou que eu acompanhasse a senhora que estava hospedada no chalé vizinho, Rita, uma mulher muito simpática com quem minha babá tinha feito amizade. Porém, isso limitaria a minha sensação de liberdade e independência, então, eu apenas disse que iria, sim, junto com a vizinha. Mas Loulou não precisava saber a verdade, não é mesmo?!

Eu estava caminhando na areia, indo em direção ao mar, quando uma bola de vôlei veio de encontro à minha testa, jogando-me para trás. Cai com a bunda na areia, não tão macia diante de um impacto desse. Certo, o destino queria rir de mim...

Dios mio! Moça, você está bem! Me desculpa, eu não queria... — Vi uma garota se aproximar, seguida de um rapaz. Ou melhor, vi o vulto deles.

— Você consegue me dizer quantos dedos tem aqui? Qual idioma você fala? Español? English? Português? — O rapaz loiro com a pele vermelha de sol perguntou parecendo preocupado.

Sí. Yes. Sim — falei levantando o meu tronco até ficar sentada, ali mesmo, onde caí. —  E estou bem, obrigada por perguntar. Você está mostrando três dedos, eu acho.

Não Muito PrincesaWhere stories live. Discover now