Capítulo 7

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Era estranho namorar em público. Quer dizer, Daniel não disse a palavra "namoro", e eu não ousei mencioná-la. Acho que a nossa separação prematura estava implícita em cada momento nosso. Mas, ainda assim, era estranho. Não que os nosso amigos não dessem a maior força. Até mesmo o Juan. Se fosse em Âmbar, sendo conhecedora da personalidade dos habitantes daquele reino, eu diria que Daniel e ele seriam arqui-inimigos à essa altura. O comportamento deles só confirmou a minha teoria de que esse tipo de rivalidade, por causa de uma terceira pessoa, perfeitamente capaz de fazer as próprias escolhas, era uma tremenda e insana besteira.

Nós íamos todos juntos à praia todos os dias, e ficávamos do nascer do sol até o poente. Mas a minha parte favorita era vê-lo devorar o meu livro favorito, ali mesmo, numa cadeira de plástico — e ele o fez em menos de dois dias. — E chorou. Ele chorou lendo uma das melhores histórias da minha vida! Eu nunca quis tanto emoldurar um momento e guardá-lo para sempre.

Não que eu não amasse os meus pais. Muito pelo contrário, apesar de ter uma forma de enxergar a vida totalmente diferente do rei e da rainha de Âmbar, eles tinham todo o meu coração, e o meu respeito e o meu desejo de um dia ser tão inteligente e forte como eram ao gerir todo um reino. Como seria quando aquela responsabilidade recaísse sobre os meus ombros? Não podia imaginar tamanho desastre! Se eu não sabia lidar com um simples impasse na minha vida, quem dirá diante de conflitos descomunais, como os que eles venciam tão perfeitamente!

Apesar de que, o impasse de ter me apaixonado por Daniel Fernandez não era a total definição de "simples". Pensando bem, contrariar o rei, a rainha, um príncipe prometido em casamento e toda uma tradição familiar era algo bem desafiador. Já podia imaginar as expressões de decepção e afronta dos meus pais. E, depois, mandariam prender Daniel, que até então, não fazia a menor ideia de que se aproximar de uma garota poderia ser uma afronta, pelo fato de não ter nascido em um berço real.

Eu estava corroendo por dentro por não poder lhe contar a verdade, enquanto ele abria cada vez mais seu coração e sua vida para mim. Se aquilo não pusesse a sua vida em risco, ou mudasse a sua percepção sobre mim, uma simples menina normal, eu diria toda a verdade, palavra por palavra. Mas, como tudo em minha vida, não era tão simples assim.

Eu só queria saber que impasses levaram Louise a ser separada de seu amado. Em parte por curiosidade, mas sobretudo, para ver se achava em sua história alguma esperança para me apegar. Ou, nem que seja, em sua desventura, consolo para a minha.

— O que tanto a Lady Livros pensa? — Meus pensamentos agitados foram interrompidos pela voz do principal personagem deles.

— Em livros — Brinquei. — Em como esse céu está lindo. — E estava mesmo. Um pôr-do-sol vermelho-alaranjado de tirar o fôlego tocando a água do mar, cristalina. O som das ondas quebrando acalentavam meu coração inconformado.

— E em como o seu... o seu... namorado está mais lindo ainda. — Ele disse. Ele falou "namorado"! Hesitou, mas falou!

— Você disse... — Não consegui desconversar dessa vez.

— Eu disse. — Falou e depois olhou para os próprios pés descalços na areia. Ele e os amigos tinham me levado ao Balneario Punta Salinas, uma praia de tirar o fôlego com suas águas calmas e a paisagem verdejante. Por sorte, não haviam muitos turistas, então, pudemos caminhar tranquilamente, sentindo a areia em nossos pés. As garças voando à nossa volta e a cor tão vívida do sol poente tocando o mar me fizeram quase acreditar que aquilo era um sonho.

Não Muito PrincesaWhere stories live. Discover now