Capítulo 10

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A minha mãe não parava de reclamar que as damas da corte estavam comentando que eu tinha voltado da viagem ainda mais desajeitada.

— Acho que essas senhoras deviam cuidar da vida delas, isso sim — bufei enquanto bebericava aquele chá horrível, sentindo muita falta daquela água de coco fresquinha de Porto Rico.

— Minha filha, onde foi que você aprendeu a dizer coisas tão rudes? — Mamãe franziu o cenho muito aborrecida. — Eu implorei ao rei que não a permitisse viajar sozinha para um lugar tão distante que, com certeza, estava cheio de pessoas promíscuas, mas ele nem deu ouvidos... — suspirou.

— Conheci pessoas maravilhosas — falei me levantando da cadeira da sala de chá, onde aguardávamos duas das "damas fofoqueiras da corte", umas duquesas, que eram parentes distantes, que não tinham mais nenhum afazer a não ser beber chá e bisbilhotar a vida alheia.

Olhei, ao longe, pela imensa janela de pedra, os jardins esplendorosos de Woodland Castle, desejando que a vista fosse o pôr-do-sol na praia.

— Que tipo de pessoa? O presidente? — Para uma rainha, mamãe sabia usar bem os tons de deboche.

— Não. Gente normal, gente de carne e osso — respondi ainda olhando para aqueles jardins, onde um riacho corria ao longe.

— Gente que te ensinou a falar desse jeito arrogante. Acho melhor chamar a madame Hortênsia de novo. — Hortênsia era a professora de etiquetas da corte.

— Não preciso de mais aulas de etiqueta, é só mais uma chatice desnecessária... e ninguém se importa de verdade comigo, nem sei para quê essas formalidades — apesar de chateada, falei em tom calmo, pois a brisa suave em meu rosto, fazia-me recordar as caminhadas noturnas, com os pés na areia, em San Juan.

— Eu estou muito preocupada com o que será de seu futuro, se continuar tão imatura. O príncipe Edgar pode ser uma oportunidade que nunca irá se repetir.

— Essa é a minha maior esperança, que ele desista — deixei escapar, enquanto me lembrava do calor do sol e do cheiro de maresia.

— Não deixe seu pai te ouvir falando essas bobagens infantis, ou ele pode mandar confiscar esse aparelho aí. —  Apontou para o meu celular. — Você deve estar aprendendo essas falácias e mal costumes na internet, aposto.

— Não mesmo. Eu preciso dele. — Segurei firme o meu smartphone contra o peito, pois ele era minha única esperança de ter algum sinal de vida do Daniel.

Apesar de que já fazia quase um mês que eu tinha voltado a Âmbar e nada. Nem sinal de fumaça. Nenhuma carta, nem ligação, nem mensagem de texto...

Eu, provavelmente, tinha sido mais uma aventura de verão para Fernandez, e já devia ter aceitado esse fato, se não fossem as palpitações cardíacas que eu sentia cada vez que meu celular apitava.

Para minha desventura, a maioria das notificações pertencia ao príncipe Edgar, insistindo que eu voltasse ao castelo de Ametista, pois ele gostaria de me oferecer um banquete especial.

A maioria das damas de Âmbar dariam os dois rins por um convite como aquele, pois o presunçoso Ed raramente dava banquetes, e, quando o fazia, era para um número completamente restrito de pessoas. Eu odiava a simples ideia de estar naquele mar de indivíduos interesseiros, portanto, ignorava tais convites pomposos tanto quanto podia.

Mamãe já estava prestes a começar um discurso rigoroso e articulado sobre o quanto um bom casamento poderia ser um divisor de águas na vida de uma dama, quando, para minha sorte, ou não, fomos interrompidas pelo mordomo Sidney.

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⏰ Last updated: Jan 16, 2022 ⏰

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