VII

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            O copo na minha mão se espatifa no chão e eu me abaixo para pegar os cacos no mesmo momento. Harry se abaixa para me ajudar.

-Não- grito.

Sinto os pedacinhos grudarem na minha mão enquanto tento juntar o máximo possível de cacos. Me levanto e olho em volta, procurando uma vassoura.

Eu te amo, Sofia.

Pego um papel toalha e junto tudo, jogando no compartimento de lixo embaixo da pia. Fico parada, de costas para ele.

-Eu te ouvi ontem, agora você tem que me ouvir- a voz dele sai baixa, suplicante.- Por favor.

Apoio uma mão na pia e abaixo a cabeça. Harry limpa a garganta.

-Ontem, depois da conversa, fiquei pensando no que você disse. Eu realmente nunca te odiei, mas queria que você pensasse que sim. O dia que eu...- ele suspira- que eu fui embora, estava com medo. Medo do que eu faria se ficasse mais um dia com você, do que o meu coração faria.

Mordo a parte interna da bochecha para não chorar. Não gritar.

-Eu fiquei tão... assustado. Sei que não faz sentido nenhum, mas o que eu senti, o que eu sinto por você, não faz sentido também. Não fez sentido na época porque foi rápido demais. Fui para o Brasil para descansar, espairecer e esquecer, mas me apaixonei.

Solto o ar pelo nariz, incrédula.

-E hoje não faz sentindo porque fazem dois anos. Era para eu ter te esquecido, te superado- ele põem a mão sobre a minha.- Não teve um dia, Sofia, nenhuma porra de um dia durante esse tempo todo que eu não tenha pensado em você.

"Sabe o que mais me assustou? Eu vi o carinho nos seus olhos, vi o quanto você se importava comigo. Não merecia, não mereço, esse tipo... esse tipo de amor. Tão genuíno, tão puro.

E quando te vi no hotel naquele dia, tão diferente, tão mulher, não a menina que eu conheci, ainda vi um lampejo daquele carinho e me senti seguro de novo. Seguro como você sempre me fez sentir, como seu chegasse em casa depois de um longo dia. Posso ser eu mesmo com você. Dizer o que penso, do que gosto, e você nunca vai me criticar. Pode não concordar, mas vai questionar o por que. Porque você é assim, Sofia. E é por isso que eu te amei...e te amo..."

-Para- sussurro.- Por favor.

Sinto uma pontada na mão esquerda. Abro a mão e sangue começa a pingar, o caco de vidro cai quicando dentro da pia, deixando um rastro rosado.

Começo a rir. Um riso histérico que, enquanto lavo a mão ensanguentada, se transforma em choro.

Fecho a pia e caminho até a minha bolsa, desesperada por um cigarro. O primeiro em alguns dias. Harry se mantém quieto ao lado da pia.

Acendo o cigarro, manchando-o de sangue. Caminho até a sacada e me apoio na grade, o vento jogando meu cabelo para frente do rosto.

Meu corpo treme dos pés a cabeça e tenho dificuldade de levar o cigarro até a boca.

-Essa não era a reação que eu esperava- diz ele ao meu lado.

Rio de novo, esfregando o polegar na testa.

-Ah me desculpa, queria que eu me jogasse contra você e te beijasse loucamente?- me viro para olhá-lo, retirando o cabelo do rosto.

Os olhos dele estão cheios de preocupação, mas é o único sinal de desconcerto nele todo. É como se nada o afetasse, como se desde que ele tivesse saído da minha casa aquele dia, o tempo tivesse parado para Harry e ele se manteve intacto.

you're still the one || h.sWhere stories live. Discover now