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Andras

Cuido da Manu 24hrs por dia, não tenho ferias e nem descanço, não confio em ninguém para ficar com ela, os funcionários da livraria se tornaram meus amigos. Tina que faz faculdade de letras, Katty que veio fazer uma pesquisa para escrever um livro e ficou morando aqui e Larry que estuda administração e me ajuda com algumas coisas. Eu tive que parar de estudar pra cuidar da Manu. Terminei o colegial pela internet quando ela dormia. Manu era uma criança fácil de lidar, eramos só nós dois explorando New Orleans, ela era tudo o que me restou de família, era um pedaço do meu pai, mas também eu a via como um pedaço de Samuel também. Manu é bem independente pra idade dela e se comunica muito fácil com todo mundo. Adora música e vai pra natação comigo. Me lembro de quando a levava pra academia no bebê conforto, enquanto eu fazia exercícios todos vinham falar com ela. Quando eu saia pra correr com ela no carrinho esportivo que comprei eu precisava por fones de ouvido pra não parecer tão mal educado porque todo mundo queria que eu parase pra falar com ela.  Eu precisava do exercício, era a única forma de eu me manter são.

A livraria deu mais do que certo, eu precisei ampliar a livraria por conta da demanda diaria que eu tinha. Fiz amizade com alguns escritores. Uma delas era a favorita de Sam. Ela veio passar o aniversário dela em New Orleans este ano, não veio dar autógrafos como ano passado, ela sabia um pouco da minha história e pedi que fizesse uma dedicatória para Sam. Eu nunca mais tive ninguém, não consigo nem curtir um flerte ou simplismente olhar nos olhos de alguém.

- . . . me nego a sentir por alguém o que sinto por Samuel, Nathan até foi o primeiro que tocou meu coração, eu o amava sim, mas não com a mesma intensidade que amo Sam ele tocou minha alma.

-Mas se você não quer deixar a porta aberta para outro procure-o. . .

-Não é fácil, eu tenho a Manu. . .

-Filho não é empecilho pra nada!

-No caso da Manu ela é sim, os irmãos dela podem tirá-lá de mim se descobrirem que é irmã deles.

-Mas você já é maior de idade. . .

-Mas ela não e eles são podres de ricos poderiam entrar na justiça e tirar o único pedaço que sobrou do meu pai.

-Não creio que alguém que o ame faria isso com você!

-Eu não posso arriscar, prometi ao meu pai que cuidaria dela como se fosse minha.

-Te entendo. . .

-Papai?

-Oi amorzinho?!

-Posso binca com a Manu ali?-apontou ela pra um pequeno gramado.-Pode só promete não se sujar?

-Não posso pomete isso!-disse ela cruzando os braços e eu sorri.

-Tudo bem vá brincar!

Ela pegou a mão da Manu da minha amiga e correu pra lá. Olhei pra ela.

-Viu, tenho Sam nos mínimos jestos!-falei sorrindo.-Tenho os olhos de Sam todos os dias. O jeito de cruzar os braços quando está brava. . .

-Não pode mais viver de lembranças Andras.

-As vezes queria que minha vida fosse um dos seus livros!-suspirei terminando meu café.-Quem sabe eu não tenha um final feliz esperando por mim depois da última página.

-Quem sabe não há um final feliz pra você na próxima página?!-disse ela levantando a xícara como um brinde solitário e terminou seu café.

-Eu sabia!-falei vendo a Manu cair.

-É só uma roupa!

-Com certeza e minha sorte é que eu ando sempre com roupas extras na mochila.

-Você é o segundo melhor pai que eu conheço!

-Quem é o primeiro?

-O meu marido!-sorriu ela o vendo chegar.

. . .
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Samuel

No dia seguinte acordei cedo e fui tomar café em uma cafeteria ali perto. Já havia música e risadas pelas ruas. Cidade alegre. Coração alegre. Comprei um chapéu e soltei meu cabelo para disfarçar, apesar da minha barba estar comprida tenho receio que me reconheça e me corra de sua vida pra sempre. Ele não estava lá. Apenas um rapaz e duas moças atendendo, tinha bastante gente lá dentro.

-Precisa de ajuda?-perguntou uma atendente.

-Quem é o dono desta incrível livraria?

-Ah, o senhor Adams ele não está, gostaria de falar com ele?

-Não, só queria parabeniza-lo pelo lugar incrível.

-Ele ficará feliz com o elogio.

-Vou olhar mais um pouco se não se importa?!

-Claro, fique a vontade.

A menininha que vi com o pai ontem a tardinha entrou correndo na livraria e pulou no colo de uma atendente.

-Tia Tina tem uma histólia pa mim?

-Sempre pipoquinha, mas agora a tia tem que atender!

-Eu azudo!

-Está bem!

-Manu não incomode ninguém!-disse o homem.

-Pode deisa!

Sorri ouvindo aquela voz de boneca, me lembrava muito Nanda. Eu olhava pra porta em busca daquele garoto hoje tem 18 anos, não deve ter mudado muito. Passei a mão pela minha barba e sorri, Andras odiava pêlos, deixei minha barba crescer como birra. Uma mãozinha minúscula pegou minha outra mão.

-Oi o senho que azuda pa compa um livro?

Me abaixei e lhe sorri.

-O quê você me sugere?

Ela colocou a mão no queixo pensativa, Nathan costumava fazer isso quando pequeno e a lembrança que aquela criança me trazia era estranha e adorável. Os olhos dela eram exatos da cor do meu. Os cílios dela eram grossos e encostavam nas sobrancelha.

-Do que gota?

-De fantasia e romance!

-Então vai gota desse aqui!-disse ela me entregando um livro da Bruxinha Lóla.-O nome da filha dela também é Manu sabia?

-Eu sei, sou muito fã dela.

-Eu conheci ela sabia, de vedade vedadela!-sorri de seu trava língua.

-Pois bem me convenceu eu vou levar.- ela sorriu tão largo e me veio a memoria o sorriso de Andras-Você é uma funcionária excelente sabia?

-Obigada e o senho um . . .-Ela pensou no que dizer.-Amigo feliz?

-Isso!-falei estendendo a mão pra ela.-É um prazer conhecê-la, Manu!

Ela apertou minha mão feliz.

-Paze!

-Manu?!

Ela correu quando a chamaram. Mesmo tendo o livro o comprei igual. Paguei e fui pro hotel eu me sentia exausto.

Os irmãos da minha irmãWhere stories live. Discover now