Capitulo 2

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Um grupo de soldados se dirige ao litoral que um dia pertenceu ao Brasil, estavam indo lá para averiguar uma denuncia que receberam imigrantes estariam vindo pelo literal se estabelecer clandestinamente no país, uma infeliz ideia, já que o presidente não tolerava quem não possuía sangue seraphin.
- O que vocês acham que é? –perguntou o soldado Brian, entre os solavancos do caminhão.
- Falaram que era de cinco a dez pessoas. – respondeu Thomaz, cutucando um fio solto da farda.
- Você sabe de algo, preferido?- completa Brian, direcionando-se ao soldado Eric, que até então se manteve calado.
- Vou descobrir com vocês – disse Eric, seco.
- Claro que vai. – encerrou Thomaz.

Alguns minutos depois estacionaram o carro e desceram, dando de cara com um morador.
- Onde estão?- indagou Eric
O homem que não teria mais de trinta anos o olhou cansado e respondeu em baixo tom:
- São apenas seres humanos – suspirou e gesticulou para onde os invasores estavam.
-Examinem a área, eu vou por aqui. – disse Eric aos colegas, enquanto dirigia-se para o local que o homem apontou.
Os invasores estavam abrigados atrás de uma fábrica abandonada, havia uma fogueira praticamente apagada, e um grupo de quatro pessoas, duas mulheres, uma adolescente e uma criança que não tinha mais de oito anos.
- Levantem-se já! Sem movimentos bruscos – disse Eric. As mulheres logo o obedeceram, todas olhando para baixo, enquanto somente a criança o olhava com medo.
- De onde vieram? – indagou
- Viemos de Liryo, atravessando pela corrente do golfo – respondeu uma das mulheres, com a voz tremula.
- Por favor! Por favor! Não viemos fazer mal, só queremos viver, respeitamos vocês! – disse histericamente a segunda mulher, ela sabia oque ele devia fazer.
Eric retirou a arma do coldre e mandou as quatro invasoras ajoelharem, a adolescente começou a chorar copiosamente, enquanto a criança permanecia o encarando. Enquanto destravava a arma Eric pensou em como odiava tudo isso, são pessoas, certo? A briga não era entre os presidentes? Por que pessoas inocentes deveriam sofrer as consequências do que seus lideres fazem? Quem merecia esse tiro na cabeça não seria o líder delas? Ponderando tudo isso, o soldado pergunta:
- Quantos vieram?
- Somos só nós – disse a mulher com a voz embargada.
Eric guardou a arma novamente, olhou para as quatro inocentes em sua frente, ele não era Deus, mas poderia dar essa misericórdia, elas mereciam mesmo pagar por erros que não cometeram?
Em um segundo, o soldado ouviu os estalos, Brian e Thomaz haviam acabado de abater as três mulheres e a criança, em segundos, sem qualquer hesitação.
- O que diabos você estava fazendo? Planejava um chá da tarde com elas? – perguntou Brian, carregado de sarcasmo.
- Vocês atiraram sem interrogar, como sabiam que eram invasoras? – perguntou Eric, ainda atônito com sua distração.
- Elas estavam em posição, e, por favor, você sabe que eram, pretendia o que? Liberta-las? – respondeu Brian,  começando a entender a situação.
-  Isso não é da sua conta, usou sua arma sem seguir o protocolo! – Eric bufou
- Sejamos honestos, ninguém se importa com os protocolos, agora com soldados de patente alta conspirando com o inimigo? Tenho certeza que isso seria uma grande merda – ameaçou Brian, dirigindo-se para o carro sem mais nenhuma palavra.
- Thomaz, ensaque os corpos para o transporte – disse Eric, dando uma ultima olhada para o corpo sem vida da pequena menina, respondeu seu próprio questionamento, sim, a população sempre sofreria as consequências pelos erros de seus governantes.

Durante todo percurso os soldados permaneceram em silêncio, Brian soltava algumas respiradas fundas, tentando parecer debochado, enquanto Eric tentava sem muito sucesso ignorar o cheiro metálico de sangue que impregnava em seu nariz. Brian com toda certeza iria contar oque havia acontecido, mas tudo bem, ele estaria pronto para qualquer que fosse a consequência.
Algumas horas depois os três soldados chegaram no quartel, que ficava a poucos metros da nova casa branca. Aproximaram-se quatro soldados com  uniforme cinza, eram da colônia, as coletas estavam cada vez mais perto de acontecer. Brian, Thomaz e Eric tinham uma patente mais alta por isso seus uniformes eram em caqui, sabendo disso Brian começou seu show:
- Em posição! – gritou ele. Eric riu por dentro, não era ele que não ligava para os protocolos? – limpem a bagunça na caçamba – enquanto os quatro iam fazer oque lhes foi dito, Brian virou-se para Eric e Thomaz – vocês podem deixar comigo, eu mesmo farei o relatório do dia. – com um sorriso de canto, ele andou em direção ao gabinete principal, onde ficava o general e o "querido" presidente.

Brian caminha confiantemente, finalmente teria algo para queixar de Eric, por que ele era o preferido? Conforme se aproximava ele conseguia ouvir os berros do presidente Vincent:
- Maldito, malditos, todos malditos – praguejou o presidente.
- Creio que se reforçarmos nosso poder  de fogo não teremos oque temer senhor, são pequenas invasões – argumentou o general Lotter.
- Não importa! Hoje entram dois, amanhã dez, e daqui um mês? Um ano? Dez anos? Morrerei antes de deixar essa nação padecer novamente – insistiu Vicent
Com batidas firmes na porta, Brian os interrompe, aguardando autorização para entrar.
- Entre – gesticulou o presidente, cansado.
- Senhor – cumprimentou Brian – venho para o relatório da missão de hoje.
- Por que o Eric não veio fazer isso?- indagou o general.
- Creio que o Eric não agiria com imparcialidade senhor.
A fala chamou atenção de ambos na sala, Eric era um soldado prestigiado, direito, e todos sabiam disso.
- Explique, desenvolva, vamos! – se irritou Vicent.
-Bom, chegamos no perímetro e Eric abordou um homem, que gesticulou algo, então ele nos deu ordens para irmos em outra direção, enquanto ele seguia para onde o homem havia apontado, depois de checarmos, fomos para onde ele estava e, bom, lá estavam a escória, mas ele não parecia cumprir o seu dever.
- O que quer dizer? – Lotter perguntou, já sem paciência.
- Ele estava guardando a arma no coldre.
- Ele poderia estar retirando ela. – defendeu o general.
- Duvido muito – Brian rebateu.
- Já chega! – urrou o presidente – esse disse, não disse, não tenho tempo e nem paciência, traga Eric aqui e eu mesmo falarei com ele.
- Vá logo!

Brian desceu as escadas satisfeito, o humor do presidente estava uma grande merda e o general não teria muito sucesso em defender seu protegido. Invadido pela diabólica empolgação Brian entrou no prédio do alojamento e dirigiu-se ao apartamento de Eric.
- O que você que? – disse Eric, ao abrir a porta.
- Sugiro que vá o quanto antes para o gabinete, sabe,  bater um papo, pedir um aumento, sofrer consequências. – zombou Brian
- Você realmente é um ótimo pombo correio – respondeu Eric, saindo do apartamento e fechando a porta.

Calmamente ele desceu as escadas, não cairia nas provocações de Brian, ele sabia seu valor, andando calmamente até o gabinete, Eric entrou sem qualquer formalidade.
- Boa noite. – cumprimentou
- Soldados Eric Cross, me disseram que você foi condescendente com invasores, você confirma? – perguntou o presidente, sem rodeios.
Eric olhou para o general que fitava o chão, depois encarou Vicent.
- Creio senhor presidente, que condescendente não seja a palavra certa, sim, eu hesitei, e tive motivos para isso.
- Me ilumine, quais foram? – respondeu com sarcasmo, enquanto Lotter se mantinha em um silencio absoluto.
-Eram quatro mulheres, uma delas criança, bem pequena.
-Eu deveria mata-lo por traição.
- Vicent, por favor – começou Lotter, se irritando – sejamos coerentes, não foi uma traição, ele sentiu pena de uma criança, castigue-o por insubordinação.
- Espere do lado de fora – rosnou o presidente.
Após a saída de Eric, Lotter continuou.
- Sabemos que ele e o melhor, serviu honrosamente até hoje, não pode culpa-lo por sentir misericórdia por uma criança, ainda mais pelo que aconteceu a família dele.
- Misericórdia é uma fraqueza, Lotter.
-  E matar seu melhor soldado te ajuda em que?
Vicent começou a pensar sobre, o erro de Eric poderia ser imperdoável, mas os ratos foram mortos de qualquer forma, mas outros soldados viram sua insubordinação. Pensou por longos cinco minutos até uma ideia piscar em sua mente.
-Ele não será morto – começou o presidente – mas no próximo erro o senhor será responsabilizado, general Lotter.
- Não haverá o próximo... então ele não será punido?
- É claro que vai, ele será rebaixado a soldado da colônia.

Aquele OutonoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora