Capítulo 6

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Sento calmamente na poltrona do meu pai, os dias que se passaram tem sido confusos, tive diversos pesadelos, meus pais fingem que nada aconteceu, sequer pude contar para minha irmã oque estava havendo. Meus devaneios são interrompidos por uma forte batida na porta, começo a sentir meu corpo em alerta, mas como? Não poderia ser, não fomos avisados. Minha mãe saiu da cozinha com olhos arregalados, olhando da porta para mim, limpou as mãos em seu avental, engoliu seco e dirigiu-se a porta.

- Olá? – disse ela abrindo a porta.

- Bom dia senhora – quem respondeu foi um soldado, alto, cujo rosto trazia muito mau humor, era soldado, claramente, porem usava um uniforme que nunca havia visto. – foi constatado que aqui reside uma mulher adulta de dezoito a vinte seis anos.

- Sim, entre, por favor – mamãe estava branca como papel – isso é pra coleta, certo?

- Pandora Fulgur? – o guarda olhou diretamente pra mim – quantos anos você tem? – perguntou enquanto pegava uma pasta parda.

- Sou e-eu, tenho vinte – gaguejei.

- Ok, então vamos lá – coçou a garganta e começou a ler um documento - "A nossa amada pátria resistiu a bombardeios...

- Eu conheço o protocolo – interrompeu minha mãe.

- Ótimo. Senhorita Fulgur, separe itens pessoais e lembranças que queira guardar, pode levar algumas roupas, mas você ganhará novas quando chegarmos.

- Que gentileza – rebati com sarcasmo.

- Pandora! – censurou minha mãe.



Irremediavelmente sério, o guarda encostou-se à parede, era claro, estava me esperando. Fui para meu quarto enquanto minha mãe tentava sem sucesso, implorar ao guarda que eu me despedisse do restante da minha família. Dou uma boa olhada no meu guarda roupa, até tenho coisas bonitas, mas pra que levar? Separo minhas roupas simples em uma mala que o guarda me entregou, era vinho com um brasão do pais, um padrão, obvio, enquanto olho meus farrapos na mala uma vozinha insistente sussurra em meus ouvidos "Você nem sabe se vai voltar", rendida pelas palavras, pego meus poucos vestidos bonitos, bordados pela minha bisa, minha bisa, eu a veria de novo? Estaria aqui quando chegasse a hora dela? Saindo de meu devaneio começo a encarar minha humilde penteadeira, maquiagem? Perfume? Pra que meu Deus.

- Você vai levar! –disse minha mãe, me matando de susto.

- Me maquiar pro meu estupro e privação de liberdade? – indago

- Eles podem te tirar de lá, se algum coronel, sei lá, for com a sua cara.

- Coronel? – pergunto, que eu saiba não existem mais.

- Só estou sendo razoável – responde ela, com a voz embargada – nós não podemos te tirar de lá filha, eu só quero que você tenha... opções, chance...

-Mãe? – minha mãe desata a chorar na minha frente.

- Minha filha – soluçava ela – minha menina.

- Vai ficar tudo bem mamãe – tento acreditar no que eu digo.

- Vá ver sua avó, eu termino a mala.



Saio do quarto e me dirijo ao quarto da minha bisa, ainda longe, escuto os soluços da minha mãe.

-Vovó?

- Melissa – ela sorri pra mim.

- Sou eu, Pandora, eu vou ... – procuro palavras – passar um tempo fora.

Sem dizer nada, minha vó me entrega o colar dela, era uma cruz, dourada com preto, delicada e bela, eu entendi, esse era nosso adeus.

- Eu te amo infinito vovó, pra sempre – digo enquanto beijo sua testa.



Encontro com minha mãe na sala, o soldado permanecia no mesmo lugar onde havíamos o deixado, minha mãe estava com os olhos vermelhos, não consegui me conter, ela me amava, minha família me amava, eu os amava.

- Ma- mamãe – eu disse entre soluços.

- Eu sei meu amor, eu sei – respondeu ela, enquanto acariciava de forma amável meu cabelo.

O soldado fixou o olhar em mim, oque era aquilo? Pena? Não consegui identificar, sumiu tão rápido quanto apareceu.

- Eu pego a mala – disse ele, enquanto ia em direção a porta.



Antes de entrar no carro, olhei para minha casa, minha mãe estava na porta, ah mamãe, você não sabe o quanto é difícil deixar você.  

Aquele OutonoWhere stories live. Discover now