Capítulo 04

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Sabe quando você chega numa fase da vida que as pessoas te olham e pensão "nossa, esse cara tem tudo" ou "Queria ter a vida desse cara"...

Pois é, estou nessa fase a alguns anos, mas para mim é sempre como se faltasse algo.

Desde que meu pai morreu eu assumi uma posição na família, e na empresa, que exige muito de mim.

Faz 10 anos da morte do meu velho, há 10 anos liguei o piloto automático, abandonei a vida obscura que tinha durante os 5 anos de faculdade.

Hoje possuo uma rotina, afim de manter o controle sigo á risca.

Vou ao trabalho, volto pra casa, visito minha mãe uma vez por semana, tenho encontros casuais que sempre termina em sexo, volto pra minha casa, no dia seguinte trabalho... E assim sucessivamente durante esse 10 fodidos anos.

Tenho alguns colegas, saímos às vezes para beber, mas nenhum amigo profundo, meu único amigo era o Cláudio.

Cláudio era meu amigo desde que vim para o Brasil, fazíamos tudo juntos, com o tempo ele se apaixonou por Suzan, ano passado se casaram, finalmente nossa família estava feliz, minha mãe já se tratava a um tempo e estava bem, havia progredido pela primeira vez após a morte de meu pai.

Pouco tempo após o casamento minha irmã engravidou da pequena Olívia, estávamos todos radiante, mas tudo mudou há 3 meses.

Minha irmã estava próximo aos nove meses, então ela e Cláudio resolveram fazer uma última viajem a dois, antes do nascimento da Olívia.
A médica recomendou: Nada de aviões, nem viagens longas, então resolveram ir para uma cidadezinha do interior, subir a serra e respirar um pouco de ar puro, longe da cidade.

Então um filho da puta, acabou pondo fim na vida deles, e fugiu.
Nunca descobrimos o culpado.

Olívia nasceu de parto de emergência, minha irmã não conseguiu ver a filha. A pequena foi uma guerreira, lutou por dias, e quando finalmente teve alta, eu não conseguia mais me afastar dela, minha mãe caiu em depressão profunda, novamente, e agora está internada em uma clínica.

Eu me divido entre cuidar de Olívia da melhor forma possível, e tomar conta da empresa, mas tem horas que parece que não vou conseguir.

Muitos me chamam de homem de gelo, me jugam por me manter afastado e não construir relações profundas, mas estou bem assim.

O amor de minha mãe por meu pai lhe levou a loucura após sua morte, o mesmo por minha irmã.

Família é uma fraqueza.

Se não fosse Olívia eu nunca teria filhos, não que ela seja minha filha, mas na ausência de seus pais farei de tudo como seu responsável.

Tudo parece piorar a cada dia, pra completar o marido de dona Judite, minha secretária, está com câncer e precisa de cuidado em tempo integral.

Quando ela me falou que precisaria deixar o emprego, vi o destino me mostrando mais uma vez que família é uma fraqueza, mas eu lhe entendi, pois nunca sabemos oque pode acontecer amanhã, precisamos estar com aqueles que amamos.

Quando vi a senhorita Andrade a primeira vez, pensei que ela não aguentaria o trabalho, muito jovem, sem experiências, mas a garota está me saindo melhor que a encomenda, parece que ela me vê além do que todos julgam, ela me enxerga como um ser humano, cansado e sobrecarregado.
Perspicaz ela sempre tá inventando algo que otimize o meu tempo.

Essa semana a máquina de café na minha sala quebrou, não posso ficar sem café, é meu combustível.
Ela como sempre atenta a tudo, percebeu o problema, retirou a máquina antes que eu chegasse, encaminhou para uma assistência, e fez um café coado, divino, me transportou para minha infância, lembrei da minha vó, mãe da minha mãe.

Pedi que ela jogasse a máquina fora, eu queria aquele café, aquela lembrança — da infância fácil— todos os dias.

As vezes tenho a sensação que já lhe vi em algum lugar, mas acho que seja apenas impressão. Segundo Judi, a senhorita Andrade é uma moça simples, veio do interior, seus pais são falecidos.

Pobre garota, órfã igual minha Olívia.

Hoje mais cedo quando lhe vi subir as escadas, percebi que algo errado se passava com ela, ao me aproximar não foi difícil de entender, ela estava tendo um ataque de pânico, já presenciei minha mãe tendo alguns, sei que não há muito oque fazer, apenas lhe oferecer segurança, e esperar sua mente voltar a racionalidade.

No fim do expediente quando lhe chamei para conversar a respeito do ocorrido acredito que ela pensou que lhe demitiria.
E depois quando pedi seu número de telefone, ela me confessou não ter um telefone, logo entendi oque Judi quis dizer ao falar moça simples.

Quando ela saiu da minha sala eu liguei para o departamento pessoal, peguei seu endereço, pesquisei no Google maps e não gostei nada do que vi.

O bairro não é dos melhores, mas a localização da rua em que mora é das piores, a numeração das casas se dividem em números e letras, oque me leva a crer que seja apenas um cômodo.

Pedi ao RH para me trazer um aparelho empresarial.
Assim que chegou em minha sala salvei meu contato.
Pedi ao Ryan, meu motorista, que enviasse ao endereço.
Ele me deixou em casa e seguiu para o endereço.

Agora estou aqui, sentado na poltrona no quarto de Olívia vendo-a dormir.
A noite eu dispenso a babá, exceto quando preciso viajar a trabalho.

Estava com um pouco de dor de cabeça, tomei um remédio e deitei mais cedo.

Por volta de 01:00 hora da manhã acordei com uma ligação.

— Alô? — atendi sem olhar.
— Oi Nick! — retirei o aparelho do ouvindo e vi no visor o nome de Stephany.

Stephany é uma das minhas fodas casuais.

— Oque houve para me ligar uma hora dessa? — perguntei irritado.
— Poxa carinho, não sentiu saudades?
— Se eu tivesse teria lhe procurado, agora tá tarde, tchau! — falei um pouco mais irritado.
— Poxa lindo, estou tão carente, você sumiu. Por onde andou? — sorri alto.
— Por onde eu andei? Que eu saiba não lhe devo satisfações, e nem um tipo de compromisso. Oque há com você? Está bêbada?
— Só um pouquinho... — ela estava com a voz chorosa.
— Stephany, vai dormir que seu mal é sono. — desliguei o telefone.

Só oque me faltava, isso que dá sair mais de uma vez com a mesma pessoa, ela não sabe nada da minha vida, pensa bem que eu já não tenho problemas suficiente.

Stephany é oportunista, não faz nem questão de disfarçar, gosta de viver no luxo e sonha com um marido rico para lhe bancar.

Resolvi ir até o quarto de Olívia, ela estava acordada, mas não chorava, apenas olhava os bichinhos do mobile que balança.

— Oi meu amor! Você acordou? Está com fome? — peguei-a no colo e beijei sua cabeça — estava morrendo de saudades de você e do seu cheirinho, meu amor. Vem, vou preparar sua mamadeira.

Com a chegada de Olívia na minha vida tudo mudou, digo o lado de ser meio que pai, não o lado de uma mulher pegando no meu pé.

Depois que lhe dei a mamadeira, coloquei para arrotar, troquei a fralda e botei para dormir, já era próximo as 03:00 da manhã, estava cansado, mas muito feliz com a Olívia na minha vida.

Acordei por volta das 5:40h, fui ver Olívia, estava dormindo como um anjinho.

Tomei banho, troquei a roupa de academia, e fui ao quarto de Olívia.

A babá não havia chegado, eu pago muito bem, ela já deveria estar aqui pois sempre chega por volta das 6:00h.
Talvez tenha acontecido algo, esperar um pouco mais.

Olívia acordou, lhe dei mamadeira e nada da babá chegar.
As horas passando, estou surtando, que irresponsabilidade.

Inferno! Não tenho com quem deixar Olívia.

Talvez se eu lhe levasse para empresa comigo eu não perco a reunião das 09:00h com o pessoal da Argentina, é uma grande oportunidade para a empresa, não posso perder esse possível clientes, eles estão no Brasil só para isso.
É isso vou leva-la comigo!

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Recomendação de música para este capítulo:
Rag'n Bone Man - Human

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