Capítulo 15

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Eu estava cega e tomada pelo medo no momento que entrei na sala de Nick, mas oque presenciei me fez momentaneamente ir do medo ao ódio.

Ver a víbora da Poliana com as mão num agarre firme em volta dos braços do meu namorado me fizeram voltar a racionalidade em muito pouco tempo, o pânico foi substituído pela ira.

Enquanto tentava racionalizar sobre o que meus olhos viam, a voz de Nick entoava ao fundo mil desculpas que soava mais como um sussurro desesperado para que acreditasse nele, mas nada daquilo me importava no momento, não com a Poliana, pois se ele quisesse já teria ficado com ela a muito mais tempo.

Após seu grito, expulsando-a, voltei ao mundo real onde meus problemas eram muito maiores que uma simples mulher desesperada para ter a atenção de um homem que aparentava não lhe querer.

Em seguida, após mostrar ao Nick o recado que haviam deixado na portaria, eu permaneci sentada, quase em choque. Cenas do meu passado não muito distante nublam minha mente, cenas de dor e medo, e quando dei por mim já estava sendo amparada pelos braços de Nick diante de todo escritório.

Como sempre, ele se manteve ao meu lado, em silêncio, respeitando meu momento.

- Como se sente? - perguntou ao entrarmos na casa, sua voz firme escondia um "Q" de irritabilidade.

Sei que toda essa situação é estressante para ele, por isso me mantinha afastada das pessoas no geral, sem relações, sem dor, sem medo de que mais alguém acabe com o mesmo fim dos meus pais.

- Melhor. - menti - Vou subir se não se importa, gostaria de ficar um pouco só. - sorri fraco.

- Claro, irei ver a Olivia e depois estarei no escritório, se precisar de mim, por favor me chame. - dito isso ele depositou um beijo nos nós dos meus dedos.

Subi e não fui para o quarto, segui direto para o banheiro.

Após alguns dias com o Nick, Oliva, o trabalho e as sessões com a psicóloga eu finalmente me sentia melhor, mas um simples bilhete desencadeou em mim memórias que eu gostaria de riscar da minha mente.

No banheiro, liguei a água para encher a banheira, tirei a roupa e entrei na banheira, com ajuda de uma esponja comecei me lavar, esfregar meu corpo, na triste esperança de que as sensações daquele porco me tocando, que eram vividas, sumissem junto a água.

**Lembranças**

Deitada sobre a cama de estrutura de ferro tubular, ele estava sobre mim, suas mãos imundas rasgavam a parte superior do meu vestido enquanto eu me debatia em desespero.

"Fica quieta sua piranha", sua mão espalmando em minha face fazendo meu rosto queimar.

"Não me faça lhe amarrar", prendendo meus pulsos com uma de suas mãos enquanto a outra descia de encontro a minha intimidade. Gritos, lágrimas, palavras de súplica saiam de meus lábios inchados pela agressão sofrida.

"Isso, grita, pode gritar que eu gosto. Ninguém vai te ajudar, você é minha desde o dia que te vi. "

Elevando o tecido do vestido, sua mão áspera toca minha intimidade com força e violência, eu grito e lhe atinjo com um chute.

"Filha da puta" Ele sai de cima de mim, e por um segundo pensei que estaria a salvo de suas investidas, mas sua perversidade vai além de minhas expectativas e não podem ser contidas por um simples chute.

Com mais raiva ele volta até a cama, em suas mãos há cordas, ele amarrou meus braços unidos sobre minha cabeça de forma que eu não consigo movê-los. "Vou lhe mostrar de uma vez por todas que você é minha."

Caminhando em direção a mesinha onde estava sua pasta, abriu algo semelhante a um estojo, em suas mãos um objeto reluziu.

" Sabe, no primeiro dia que te vi na barraca de frutas, eu pensei, que garotinha linda, mas é uma pena ainda ser tão jovem."

Ele se aproximava lentamente de mim, oque só fazia piorar o meu desespero em expectativa do que ele faria com aquele objeto em sua mão.

" Juro que tentei deixar pra lá, não pensar mais na sua beleza, pura e angelical (risos). Eu estava na minha, nem esperava mais lhe ver novamente, mas o destino como um presente me mostrou, que o meu anjinho não tinha nada de pura e inocente.

Lá estava você, de frente ao colégio aos beijos com um pivete mal saído das fraldas, então minha anjinha na verdade era uma diabinha.

Passei a vigiar minha diabinha de perto, dia após dia, me aproximei mais do idiota do seu pai, coitado, tinha tanto orgulho da única filha, sonhava que ela seria doutora (risos), claro que um bom homem, como eu, ajudaria. Primeiro arrumando um meio de te separar do pivete, fazendo você estudar fora da cidade, dia após dia eu via você crescer e diante dos meus olhos, mas eu precisava ser paciente, logo te conquistaria e você seria minha."

Ele falava enquanto acariciava meu rosto banhado em lágrimas.

"Mas no fim de tudo, esperar foi estupidez, não importava nada que eu havia feito por você, você não me quis, você não enxergou o bom homem que fui pra você. Quando você me rejeitou naquele carro, no meio daquela estrada, você enfiou um punhal em meu peito. Agora, minha anjinha, eu vou lhe marcar para que você entenda, de uma vez por todas, que você é minha, até o último dia de sua vida.

Ele planejou por três anos, ele manipulou meu pai, ele era louco, e eu não tinha o que fazer para escapar do meu destino.

Rasgando o resto de tecido do vestido que ainda me cobria, ele abaixou a cabeça na linha do abdômen abaixo do umbigo e lambeu, com sua língua grossa e áspera, tomada pelo nojo eu tentava me debater, em vão.

Com a mão sobre minha região púbica senti o primeiro corte, gritos de dor e desespero saiam de minha boca e permaneceu assim, até que perdi a consciência e a noção do tempo, tamanha era a dor.

Recordo-me que após os cortes realizados com o bisturi, ele me estuprou novamente, eu já não sabia precisar por quanto tempo essa tortura durou, eu estava numa espécie de limbo, esperando apenas a minha morte.

***** Atualmente*****

Esfregava minha pele com ódio de mim mesma por me permitir ter vivido aquilo, eu poderia ter me matado na primeira oportunidade que tive, quando acordei na manhã seguinte, depois daquela primeira noite.

Agora, sob a água da banheira olho para minha pelve marcada pelas cicatrizes.

Elas sempre vão me lembrar de tudo que vive, elas são a resposta de que não adianta fazer nada, pois nada nunca vai adiantar, eu fui marcada em um lugar que nunca vai sair, na alma.

Lágrimas quentes em minhas bochechas, sinalizam o fim, eu cheguei ao meu limite, não quero mais lutar.

Nick, desculpas.

Tomada pela sensação de paz, soltei a esponja, que agora boiava sobre a água. Enfim, encontrarei a paz, soltando as laterais da banheira submergir deixando a escuridão tomar conta, enquanto sentia minha mente ficar vazia, finalmente encontrarei a paz.

Sugestão de música para este capítulo: Sorry - Halsey

"Sorry to my unknown lover

Sorry I could be so blind

Didn't mean to leave you

And all of the things that we had behind"

RecomeçarWhere stories live. Discover now