Capítulo 70

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— Micael, eu não vou fazer isso! — Saímos da casa, entrando na Range Rover novamente.

Ele ficou em silêncio, colocando a chave no contato.

— Você não vai dizer nada? VOCÊ NÃO VAI DIZER NADA? — Comecei a gritar, em desespero.

Ele ficou em silêncio, apenas dirigindo.

— Ela é uma mulher cruel. — Soltou. — Você precisa matá-la.

— Eu não preciso matá-la. Ela é minha sogra, sua mãe, avó dos meus filhos. — Minhas lágrimas começaram à cair novamente. — Eu não vou matá-la, Micael. Eu nem sei como começar!

— Você vai ter que matar ela.

— Eu não vou...

— Vai ter que matar ela! Se não matar, eles vão enviar...

— Eu não vou matar ninguém!

— O dedo de Kate será enviado e eu juro que não quero ver essa cena. — Estávamos discutindo, sem rumo no caminho. Apenas discutindo! — Você vai ter que matá-la. — Decretou, com sangue nos olhos.

Ao normal, as pessoas diriam com medo, tristeza, estariam em surto ao saber que a mãe estaria prestes à morrer. Mas Micael estava tranquilo, muito tranquilo! Parecia até ele quem iria matá-la.

— Eu não quero fazer isso.

— Você não pensa na sua filha, não é mesmo?

— ELA É SUA MÃE!

— E KATE É A MINHA FILHA. ELA ESTÁ EM PERIGO! ALGUÉM ESTÁ ESTUPRANDO ELA E FAZENDO COISAS QUE NEM AO MENOS EU QUERO PENSAR. — Parou o veículo com tudo, os pneus cantaram.

Micael socou o volante, antes de inclinar a cabeça e chorar como uma criancinha. Aquilo iria nos matar!

— Eu não quero fazer isso, Micael. Eu não quero! — Neguei com a cabeça, chorando.

Micael ainda estava de cabeça abaixada, levantou-se rápido, respirando fundo e buscando seu IPhone.

— O que você está fazendo? — Perguntei, sem entender.

— Ligando pra minha mãe. Precisamos saber onde ela está. — Discou os números de Antônia, esperando por sua voz do outro lado da linha.

Que não demorou muito à atender.

— Filho?

— Oi mãe! Onde a senhora está? — Observou o retrovisor vendo que não vinha nenhum carro.

— Eu viajei. Estou em Barbados. Por que?

— Está em Barbados? — Micael colocou as mãos no rosto. — Com quem está aí em Barbados?

— Com Kátia! Viemos curtir um pouco, fazer compras e ver alguns imóveis. — Soltou, suave. Parecia feliz! — Você está em Seattle trabalhando? Como estão as crianças?

— Estão bem, quer dizer... — Coçou o maxilar. — Estou chegando! Não viaje antes, vamos demorar.

— Ótimo, ótimo! Sophia irá adorar aqui, tem a cara dela. — Consegui visualizar ela rindo leve, como sempre fazia, após me apresentar algo surpreendentemente novo.

Eu não teria coragem de fazer isso com ela. Não teria!

— Até mais, se cuide. — Tirou o IPhone da orelha, desligando a ligação. Voltou a se concentrar no caminho, fazendo uma rotatória próxima.

Micael havia mudado as rotas quando estacionou a Range Rover no estacionamento do aeroporto. Saímos do veículo, com o mesmo trancando em seguida, passamos pela porta automática vendo o inferno de pessoas em suas determinadas filas. Iria demorar e não tínhamos tanto tempo assim!

— Faça uma cara de doente, precisamos partir daqui o mais rápido que puder. — Micael silabou, enquanto tinha as mãos enlaçadas nas minhas, mas recuei novamente, cruzando meus braços.

Paramos em um guichê com mais ou menos quinze pessoas na fila, com suas malas, esperando por passagens de voo. Micael ultrapassou todos eles, recebendo xingamentos e parando na penúltima pessoa perto do balcão.

— Com licença! Eu gostaria de pedir um favor, um tremendo e enorme favor. — Conversou com o homem de cabelo grisalho, alto e conservado. Estava acompanhado de uma adolescente, que mexia em seu IPhone, irritada com a espera. — Poderíamos passar em sua frente? Minha mulher está... Passando mal. — Micael treinou sua careta de dó, fazendo o homem arquear as sobrancelhas.

— Claro, claro! — Deu passagem para que ficássemos em sua frente, esperando.

Fomos chamados depois de cinco minutos, escoramos no balcão e Micael começou a falar.

— Duas passagens para Barbados. — Abriu sua carteira.

— Ida e volta? — Encarou a tela do computador, entediada pelo trabalho estressante.

— Só ida. — Soou calmo diante da situação. Entregou à ela o cartão de crédito.

A pequena impressora soltou as passagens, ela nos entregou, perguntando se estávamos com bagagem. Micael soltou um não, saindo da fila e esperando pelo embarque.

— Passageiros do voo 618, com destino à Barbados. Por favor, dirigir-se ao portão de embarque.

Caminhamos apressados até o portão de embarque, mostrando nossas identidades, passaportes e outros documentos que Micael levava consigo, sempre me esquecia dos meus.
Passamos pelo detector de metal, indo corredor à dentro até virmos os aviões pousarem, preparando-se para receber os novos passageiros.

Meia hora depois e estávamos dentro do avião, que preparava decolagem, assim dizia a voz do comando de bordo, certificando para que colocássemos o cinto e desligássemos os nossos celulares.

— Vamos chegar à tempo, eu prometo. — Micael sorriu leve, tocando seus dedos em minhas mãos. Dessa vez, não o soltei, não iríamos chegar em nenhum lugar assim.

Ainda mais nessa altura do campeonato.

— Tudo bem? — Micael me perguntou, cauteloso. Já havíamos decolado.

— Eu vou matar a sua mãe e você me pergunta se está tudo bem? — O encarei, cansada.

— Ela está com Kátia, com certeza pecando. — Engoliu seco, ficando em transe.

— Você é mais doente do que a própria doente que está fazendo isso com a gente.

— E você não entende que a nossa filha está em perigo? — Cerrou os dentes, esbravecendo e me encarando. — Porra Sophia! Kate está sendo presa em cativeiro, irá ser torturada em menos de vinte e quatro horas. Minha cabeça está explodindo! — Declarou. — Minha mãe já é uma mulher vivida, sabe das consequências que fez e o quanto pecou, desde que meu pai era vivo.

Fiquei em silêncio, o preferindo. Remexi meu corpo na poltrona do avião, cerrando os olhos e pedindo para que chegássemos à tempo. Meu coração estava em um misto de emoções: medo e tristeza. Eu estava perdida, ninguém poderia me ajudar no momento.

A não ser Micael, que estava dando total apoio para que mateássemos sua própria mãe. Tudo isso por um propósito importante:

A liberdade de Kate.

Young and the Restless: A Vingança de Rayana - 3ª Temporada Where stories live. Discover now