Capítulo 4

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Meus braços doíam, minhas pernas também, já estava cansada de ficar naquela posição, eu me encontrava sentada no chão imundo do navio, as costas encostadas no mastro e as mãos pesas ao redor dele. Minha boca estava seca e meu estomago roncava de fome, a noite tinha caído e o navio agora estava iluminado apenas por velas, minha garganta também já não aguentava mais gritar inutilmente contra a mordaça. Esse povo não sabem ser civilizados? Onde eu tinha me metido? Maldita hora que aceitei ir nesse balé com a Gabriela, eu não devia nem ter reclamado pra ela que queria relaxar. Não sei como, mas eu estava bem longe do meu tempo, pelo modelo de roupas e falta de eletricidade... Será mesmo que não é um sonho? 

Já era pra eu ter acordado e não estar sentindo tanta dor, a minha situação não tinha uma explicação lógica, de repente senti um calafrio, o que esses homens e essa tal de Nyelle fariam comigo? Eu tinha muito, muito medo, pensei nos meus pais, deveriam estar preocupados, eram controladores, mas eu ainda os amava. Alguém parou ao meu lado, a primeira coisa que vi foram as botas pretas, implorei mentalmente pra seja lá quem fosse, não me estressasse nem me fizesse mal. Pra minha extrema sorte, não era Nyelle, nem um dos outros homens barbudos, muito menos o bonitão. Era Pieter, não me senti muito aliviada, não o conhecia, podia muito bem ser tão ruim quanto os outros, mas seu olhar calmo e o leve sorriso no rosto, o único sorriso gentil que vi desde que cheguei ali, não me deixava ter medo dele.

— Tive medo que o capitão machucasse você... — ele disse baixo, o deque estava vazio, Pieter se sentou ao meu lado e ergueu um braço ate a minha boca tirando a mordaça.

Ele parecia uma boa pessoa, mas as aparências enganam, não podia confiar nele. Na outra mão ele tinha um copo de metal. 

— Seu capitão é um louco, fora de si! — senti a raiva subir ate a garganta, encarei seus olhos escuros, até que pra um lugar sem eletricidade o deque estava bem iluminado, eu podia ver claramente o rosto dócil de Pieter.

— Nunca vi ele ficar tão fora de si por causa de uma mulher — ele arqueou as sobrancelhas e ergueu novamente o braço, agora o que estava com o copo — toma, deve estar com sede — virei o rosto quando ele aproximou o copo, e como se lesse meus pensamentos ele disse: — é só água.

Me tranquilizei e bebi, o líquido escorreu pelo queixo até o decote do vestido, nunca me senti tão saciada. Pieter. Enviado de Deus, com certeza.

— Eu sou Pieter Bárány, o vigia — ele sorriu de lado e percebi o quanto ele aparentava ser jovem.

Ele me encarou esperando que eu me apresentasse, talvez não estivesse na hora que disse meu nome. Pelo menos Pieter não era asqueroso como os outros.

— Eu sou Hannah Rodriguez, a prisioneira, aliás você pode soltar meus braços? Tá doendo pra porra isso aqui hein — disparei, franzindo a testa e me remexendo tentando ficar em uma posição mais confortável.

— Infelizmente o Capitão deu ordens pra não soltar a senhorita até que ele mesmo viesse aqui fazê-lo — como eu queria poder agarrar o pescoço do Flynn Bonitão e apertar até ver o rosto dele ficar roxo.

Suspirei irritada, estava louca pra sair daquele mastro e poder me alongar, não aguentava mais ficar sentada, esse capitão por acaso acha que sou escrava dele? Nunca senti tanto ódio de uma única pessoa, nem mesmo do Rafael.

— Então, de onde você é? Da pra perceber em seu sotaque que não é daqui — perguntou ele me encarando curioso.

Que loucura, eu estava amarrada em um mastro de um navio, conversando casualmente com o que eu julgava ser um pirata. Aquilo tinha que ser um sonho. Me perguntei se contar de onde eu vim era boa ideia, mas o que poderia acontecer?

MaelstronWhere stories live. Discover now